BPI. OPA do CaixaBank avança e põe em risco 900 empregos

Já em maio, a oferta do banco catalão tinha implícita a saída de cerca de mil trabalhadores. Está também prevista a redução de 50 balcões

O CaixaBank quer reduzir os custos anuais no BPI até 84 milhões de euros, em que mais de metade virá de poupanças com trabalhadores, deixando em aberto uma possível redução de 900 postos de trabalho no banco liderado por Fernando Ulrich. “O rácio de gastos com pessoal por receitas da sociedade visada (BPI) em 2015 é de 44%, enquanto o dos seus pares domésticos se situa num nível de 35%. O ajuste deste rácio de 44% da sociedade visada para os referidos 35% dos seus pares domésticos equivaleria a uma redução de 900 trabalhadores”, revela o prospeto da oferta pública de aquisição (OPA) do grupo catalão.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) já deu “luz verde” à OPA sobre o BPI e o prazo de aceitação da oferta arrancou ontem, com o banco espanhol a oferecer 1,134 euros por cada ação da instituição financeira, avaliando o banco em 1650 milhões de euros.

A verdade é que este número não é novo. Em maio do ano passado, a oferta de aquisição do BPI pelo CaixaBank já tinha implícita a saída de cerca de mil trabalhadores, segundo as contas do conselho de administração do banco. A redução de pessoal, segundo a informação divulgada na altura e citando a proposta do oferente, seria conseguida “dando prioridade a reformas antecipadas e layoffs incentivados”.

Esta estratégia será mantida. De acordo com o prospeto divulgado agora, “a redução de despesas com pessoal resultante de quaisquer reestruturações laborais será realizada pelo oferente em estrito cumprimento dos parâmetros sociais que têm vindo a ser observados pelo oferente em procedimentos similares (incluindo a reorganização interna do oferente em 2013), dando prioridade a reformas antecipadas e layoffs incentivados”.

A razão, de acordo com o banco catalão, é simples: fortalecer a posição competitiva do banco liderado por Fernando Ulrich “através de ganhos de eficiência no contexto de um setor bancário português mais competitivo”. Ainda assim, lembra que a instituição financeira tem feito um esforço nos últimos anos para melhorar a sua posição competitiva em Portugal.

Já em termos de redução de balcões, o documento não prevê cortes além dos que foram implementados, referindo que o BPI “tem vindo a reduzir a sua rede de balcões em Portugal até aos atuais 545. Mais concretamente, 52 balcões em 2015 e 52 adicionais até setembro de 2016” – e, a manter-se esta tendência em 2017, não está previsto o encerramento adicional de balcões.

No que diz respeito às sinergias de receitas, o banco espanhol diz que pretende apoiar o BPI “no incremento de vendas cruzadas (cross-selling), através da rede de retalho, com especial foco no setor bancário e segurador, dado o gap que atualmente existe entre a sociedade visada em Portugal e os seus principais concorrentes em termos de rendimentos domésticos recorrentes”. Desta forma, é apontado o valor de 35 milhões de euros antes de impostos (5% do total de receitas da sociedade adquirida). Este valor, diz o CaixaBank, está em linha com as sinergias conseguidas em operações transfronteiriças desde 2004, “cuja faixa se tem situado entre 1% e 8% das receitas da sociedade adquirida”.

Operação em marcha

O CaixaBank já depositou 900 milhões de euros na sucursal em Portugal do BNP Paribas para pagar aos acionistas do BPI que aceitem vender as suas ações na OPA que decorre até ao próximo dia 7 de fevereiro. “De forma a assegurar o pagamento da contrapartida da oferta, o oferente [CaixaBank] efetuou um depósito junto do BNP Paribas – sucursal em Portugal”, diz o documento entregue à CMVM.

Para já, o banco catalão promete continuar a apoiar a atual equipa do BPI, mas já acena com mudanças na administração do banco, nomeadamente para receber representantes do banco catalão. “O CaixaBank tomará uma decisão sobre a recomposição do conselho de administração do BPI após o final da OPA”, acrescenta o prospeto.

Uma eventual recomposição será feita “em linha com a participação de controlo do CaixaBank no BPI e preenchendo os lugares que sejam deixados vagos por membros do conselho de administração”.

Neste momento, dos 20 administradores em funções no BPI, há cinco em representação do acionista CaixaBank, que detém 45% dos direitos de voto da instituição financeira.

Desinvestir em Angola

Além disso, já há recomendações do Banco Central Europeu (BCE) sobre o futuro do BPI quando este for detido pelo CaixaBank. Uma delas passa pelo desinvestimento no Banco de Fomento Angola (BFA). “O BCE emitiu, no documento que autorizou o CaixaBank a adquirir o controlo do BPI através da OPA, uma recomendação não vinculativa ao oferente para que reduza gradualmente a participação do BPI no BFA num período de tempo razoável; para esse efeito, o oferente deverá ter preparado um plano de desinvestimento no BFA. Qualquer potencial desinvestimento, parcial ou total, no BFA deverá respeitar o acordo parassocial que vincula o BPI em relação ao BFA e cumprir com a legislação bancária local”, refere o documento.

O certo é que já antes da operação avançar foi necessário o BPI cumprir uma série de requisitos que implicavam, por exemplo, “a redução de exposição a Angola através do grupo Santoro, algo que foi exigido pelo BCE”, lembra ao i o gestor da XTB João Tenente.

Recorde-se que, em dezembro de 2014, o BCE exigiu ao BPI que resolvesse o problema de excesso de concentração de riscos em Angola, decorrente do peso da sua exposição ao BFA. O banco de Ulrich tentou concretizar várias soluções para cumprir a imposição do supervisor europeu, mas não conseguiu pôr nenhuma em prática, devido à oposição da Unitel empresa de telecomunicações que é parceira do BPI no banco angolano.

Depois de o CaixaBank ter lançado uma OPA sobre o BPI em resposta ao fracasso das negociações com o parceiro angolano é que foi possível alcançar um acordo com a Unitel para a venda de 2% do BFA ao grupo controlado por Isabel dos Santos. Mas o BCE só aceitou a venda do controlo do banco angolano como forma de resolver o problema do excesso de concentração de riscos, porque o banco português também deixou de ter influência na gestão do BFA.

As ações do banco fecharam a sessão de ontem 0,1 cêntimos abaixo do valor oferecido pelo banco catalão, ao valorizarem 0,44% para 1,133 euros.