Israel. Com Obama pelas costas, Netanyahu retoma afrontas à Palestina

Governo confirmou novos colonatos em território palestiniano e aguarda desenvolvimentos sobre a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém

Os últimos dias da presidência de Barack Obama já o faziam prever e uma vez oficializada a troca de cadeiras na Casa Branca, o governo liderado por Benjamin Netanyahu ganhou vida nova. Com o início da era Trump, o primeiro-ministro voltou a trazer para cima da mesa os planos de expansão israelita em Jerusalém oriental que estavam (temporariamente) suspensos, desde o final de dezembro, e confirmou, no domingo, a construção de 566 novos colonatos, já depois de ter falado ao telefone com o novo presidente norte-americano. Para além disso, a Casa Branca esclareceu, no mesmo dia, que as conversas sobre a mudança da embaixada dos EUA em Israel, de Telavive para Jerusalém, “estão numa fase muito inicial”. Uma informação com pouco ou nenhum sumo, mas que enche os israelitas de otimismo e os deixa cada vez mais com a certeza de que terão em Donald Trump um aliado irredutível.

O relacionamento entre a administração Obama e o governo de Israel nunca foi perfeito, é certo, mas a abstenção norte-americana, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que permitiu a aprovação de uma resolução de condenação ao estabelecimento de colonatos judeus em território palestiniano, apanhou Netanyahu completamente desprevenido. “Os amigos não levam outros amigos ao Conselho de Segurança”, vociferou o primeiro-ministro israelita, antes de anunciar o corte dos apoios financeiros do país à ONU, chamar para casa todos os embaixadores destacados nos 15 países que apoiaram a resolução e acusar o ex-presidente norte-americano de ter promovido, pessoalmente, o texto que foi a votos, nos bastidores da organização mundial.

“Mantém-te forte, Israel, o dia 20 de janeiro está a aproximar-se rapidamente!”, escreveu Trump no Twitter. Dito e feito. Netanyahu conteve a fúria e aguardou serenamente pelo dia em que o magnata iniciou funções em Washington.

Novas regras

Findo o período de espera com a inauguração da liderança Trump, as autoridades israelitas procederam à aprovação imediata da expansão das habitações para Jerusalém oriental – proibida pelo direito internacional – e não escondem a satisfação pelo apoio do novo chefe de Estado norte-americano e pela saída de cena de Obama. “As regras do jogo mudaram com a chegada à presidência de Donald Trump”, anunciou Meir Turgeman, vice-presidente da câmara de Jerusalém, junto da AFP. “Já não temos as mãos atadas, como no tempo de Barack Obama. Agora podemos construir, finalmente”, congratulou-se.

A confirmação da construção de 566 novos colonatos originou diversas manifestações pela Palestina, mas também em Jerusalém. Segundo a Al-Jazeera, centenas de palestinianos residentes naquela cidade juntaram-se, esta segunda-feira, em frente ao parlamentos israelita, em protesto contra os planos de construção habitações judias e de demolição de casas palestinianas.

Aos protestos em frente ao Knesset, juntou-se a desaprovação de Mahmoud Abbas. Em declarações à agência EFE, um porta-voz do presidente da Palestina, voltou a relembrar a “ilegalidade dos colonatos” e caraterizou a decisão de Netanyahu como uma “afronta” ao Conselho de Segurança da ONU. Nada que pareça preocupar Turgeman, que revelou que o governo está confiante em conseguir aprovar a construção de mais  11 mil novas habitações israelitas em Jerusalém oriental.

Casa Branca deu esperança

O novo assessor de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, não quis revelar muito sobre a polémica intenção de Trump em mudar a embaixada norte-americana em Israel para Jerusalém, pelo que referiu, no domingo, que os passos que se terão de dar, rumo a essa possibilidade ainda “estão numa fase muito inicial”. Uma declaração vaga, mas que foi recebida com grande entusiasmo, em Israel. “[Este]  anúncio envia uma mensagem muito clara ao mundo, [já que pressupõe que] os EUA reconhecem que Jerusalém é a capital indivisível do Estado de Israel”, festejou Nir Barkat, presidente da câmara daquela cidade, no Twitter, sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos.

A falta de pormenores de Spicer também não impediu palestinianos e jordanos de se prepararem para essa eventual mudança diplomática, já caracterizada por Abbas como um “desastre” para o processo de paz e para a solução de dois Estados. Segundo o jornal israelita Haaretz, o presidente da Palestina esteve reunido, no domingo, com o rei da Jordânia, Abdullah II, onde elaboraram uma lista de passos a tomar, caso se confirma a mudança da embaixada americana para Jerusalém.

O próximo mês poderá trazer novidades em relação a este tema, quando Trump e Netanyahu se encontrarem em Washington. Até lá, os colonatos prometem avançar.