Infarmed alerta para riscos de abusar de medicamentos para a azia

Portugueses consomem mais de 200 mil embalagens destes medicamentos por mês.

O Infarmed quer combater o uso excessivo de medicamentos para a azia e acidez gástrica, que podem ter efeitos nocivos quanto tomados de forma prolongada ou sem indicação. A autoridade do medicamento anunciou que vai lançar uma campanha para alertar a população para os riscos.

Em causa estão medicamentos da classe dos inibidores da bomba de protões, medicamentos como  o omeprazol. “O objetivo é realçar que o uso destes medicamentos, em especial quando feito de forma prolongada, pode acarretar efeitos adversos importantes, como osteoporose e infeções intestinais graves”, alerta o Infarmed.

Como estes medicamentos podem ser adquiridos sem receita médica, o Infarmed apela ao aconselhamento junto dos médicos e farmacêuticos antes de iniciar a toma.

Só nos primeiros nove meses de 2016, os portugueses consumiram mais de 2,1 milhões de embalagens destes medicamentos, o que dá uma média superior a 200 mil embalagens por mês.

Riscos em estudo

O uso abusivo deste tipo de medicação tem sido objeto de estudo a nível internacional. 

Além do maior risco de doenças como osteoporose ou diminuição da proteção da flora intestinal – o que aumenta o risco de infeção e crises de diarreia – uma linha de investigação mais recente relaciona a toma destes medicamentos de forma continuada com o maior risco de demência. Investigadores do Centro para Doenças Neurodegenerativas em Bona estudaram dados recolhidos entre 2004 e 2011 numa amostra de 74 mil pessoas, com mais de 75 anos,  e concluíram que os idosos que usam medicamentos da classe de inibidores da bomba de protões pelo menos uma vez a cada três meses têm um risco de sofrer de demência 44% superior ao daqueles que não reportam a toma desta medicação. 

A explicação ainda não é clara, mas uma das teorias é que pode haver ligação com outro efeito já relacionado com a toma continuada destes fármacos: uma deficiência nos níveis de vitamina B12. Já no ano passado investigadores norte-americanos relacionaram a toma desta medicação, que também é muito usada nos EUA e tem um efeito rápido sobre os sintomas, com maior suscetibilidade a problemas do foro renal. Os inibidores da bomba de protões em baixas doses deixaram de estar sujeitos a receita médica em Portugal em 2009.