BE chama acionistas de Almaraz ao Parlamento

O BE entregou hoje um pedido de audição com carácter de urgência da Endesa, da Iberdrola e da Fenosa para que venham ao Parlamento dar explicações sobre a central nuclear de Almaraz de que são acionistas.

No requerimento que deu entrada esta tarde na Comissão Parlamentar de Ambiente, os bloquistas lembram que estas três empresas energéticas são as principais acionistas da central nuclear espanhola que fica a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa.

Jorge Costa, deputado do BE, considera mesmo que o Governo deve considerar estas empresas "como interlocutores válidos", lembrando os interesses que a Endesa, a Iberdrola e a Fenosa têm em Portugal.

"Chamar esses acionistas à pedra é obrigação do Governo", frisou Jorge Costa, durante a audição do ministro do Ambiente João Matos Fernandes.

Heloísa Apolónia, do PEV, frisou mesmo que "Espanha está a ponderar interesses económicos sobre interesses ambientais", ao decidir construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz e ponderar o prolongamento da vida de uma central que em 2020 fará 40 anos.

"Há interesses poderosos das energéticas em Espanha que querem prolongar a central de Almaraz", frisou a deputada dos Verdes, que não quer que "o Governo espere por factos consumados" antes de tomar medidas para impedir o prolongamento da atividade da central nuclear.

"Não se trata de nós queremos ingerir na política espanhola. Não podemos ser ignorados, também temos uma palavra a dizer", defendeu Heloísa Apolónia, num pedido de que o Governo seja claro no pedido de encerramento de Almaraz, que foi defendido não só pelo PEV, mas também por PSD, BE, PCP, CDS e PAN.

"É preciso uma diplomacia muito mais eficaz", pediu Heloísa Apolónia, considerando que " há muito mais que se pode fazer" além da queixa que foi apresentada pelo Governo em Bruxelas.

"É preciso que entre em força o MNE, é preciso que entre em força o primeiro-ministro, é preciso que entre em força o Chefe de Estado. O Governo tem de entrar em peso nesta matéria. Não é ficar à espera de Bruxelas que tem três meses para decidir", afirmou a deputada do PEV.

"A prioridade do Governo espanhol é garantir o lucro da Endesa, da Iberdrola e da Fenosa em detrimento da segurança das populações e dos ecossistemas 
Por que é que não deixamos de importar energia nuclear?", questionou o deputado do PAN, André Silva.

Ministro enviou nova carta a Espanha 

João Matos Fernandes recusou, porém, assumir de forma clara que o Governo português defende o encerramento imediato de Almaraz – como pede uma resolução aprovada por unanimidade no Parlamento -, lembrando que a política energética espanhola faz parte da sua soberania.

"Espanha não decidiu se vai ou não prolongar a central nuclear", vincou várias vezes o ministro ao longo da audição, argumentando que "até 2020 algum tempo falta" e que "já está documentado que caso essa decisão venha a ser tomada, o Governo português tem de ser ouvido".

Quanto à acusação de que os espanhóis estão a pôr os interesses das empresas energéticas à frente da segurança, Matos Fernandes citou uma música de Sting sobre a Guerra Fria: "No doubt that the russians love their children".

"Nunca ouvirá o Governo português de dizer bem da opção nuclear", sublinhou o ministro do Ambiente, explicando que isso não faz com que o Executivo possa interferir na política energética espanhola.

João Matos Fernandes considera que a construção do aterro é um problema grave – por estar em causa o armazenamento de resíduos que duram "milhares de anos" -, mas não a vê como a confirmação de  que Espanha se prepara para manter aberta a central de Almaraz.

De qualquer modo, o ministro anunciou ter já enviado ontem uma nova carta a Espanha exigindo que o Governo português seja ouvido sobre a possibilidade de prolongamento da atividade de Almaraz.