Um erro fatal

Passos Coelho anunciou que o PSD não apoiará a candidatura de Assunção Cristas e terá um candidato próprio em Lisboa. 

É um erro fatal. 

Concorrendo separados, o PSD e o CDS perderão inapelavelmente.

E a Câmara de Lisboa constituía a única hipótese de o PSD ‘mascarar’ a derrota quase certa nas autárquicas.

Sendo inviável reconquistar o Porto e Coimbra, restava-lhe participar numa frente capaz de bater Fernando Medina e derrotar os socialistas na capital.

Esta evidência obrigava os sociais-democratas a ser humildes nesta questão.

Estando Assunção Cristas já no terreno, teriam de fazer o que fosse preciso para chegar a um acordo com ela.

Apresentar um candidato próprio será entregar o ouro ao bandido.

Mas também o CDS deveria ter sido um pouco menos sobranceiro.

Ficou a impressão de Cristas estar mais interessada em medir forças com o PSD do que em ganhar a Câmara. 

Ora, isso não é nada inteligente.

Por um lado, uma campanha em Lisboa feita com o apoio de toda a direita seria para Assunção Cristas um grande trampolim – e se conseguisse ganhar poderia sonhar muito alto. 

Olhe-se para Sampaio, para António Costa, para Santana Lopes.

Inversamente, um resultado pouco dignificante não será nada bom para o seu futuro.

Mas há outra razão, porventura mais importante. 

Se o PSD e o CDS coligados batessem o PS em Lisboa, isso podia ser apresentado como um ensaio para as legislativas.

Daria esperanças de uma vitória da coligação de direita em próximas eleições parlamentares. 

Argumentar-se-á que o apoio do PSD a Cristas não garantiria antecipadamente a vitória.

Pois não.

Mas o divórcio garante antecipadamente a derrota.

Sociais-democratas e centristas caíram na ratoeira montada pelos comentadores da área socialista, que diziam que o CDS só teria a perder numa coligação com o PSD, e que o PSD implodiria se apoiasse a líder centrista.

Ora, quem ouve os adversários está perdido. 

O pior para o PSD não seria um acordo com o CDS – será uma derrota imposta pelo PS.

E o pior para o CDS não seria um acordo com PSD – será ter um resultado insignificante, e ficar claro que não é capaz de se entender com Passos Coelho para afastar os socialistas do poder.

Isto é que tornará Assunção Cristas uma política irrelevante.

Nesta história da Câmara de Lisboa, o PSD e o CDS parecem estar em concorrência um com o outro.

Não perceberam o essencial: que o município é ocupado por um socialista – partido que, por sinal, também detém o poder no país.

Nestas condições, só poderiam fazer uma coisa: entender-se para vencer o inimigo comum.

Em Lisboa e no Governo.

Ao voltarem as costas um ao outro, o CDS e o PSD perdem a dobrar. 

O CDS, que estava numa trajetória ascendente, dará um passo atrás.

E Passos Coelho, que já é contestado no partido tendo ganho as legislativas, sê-lo-á muito mais depois de perder as autárquicas.

Quanto à área socialista, a vitória de Fernando Medina será decisiva para o PS ganhar balanço. 

Depois de conquistar Lisboa, o Partido Socialista ficará com o caminho aberto para conquistar a maioria no país.

Os partidos da direita terão de se preparar para uma longa travessia do deserto.

A famigerada TSU

Confesso alguma perplexidade perante a questão da TSU. Sendo a descida de 1,25% uma medida que favorece as empresas, seria natural que o PSD a aprovasse. 

Não o fazendo, não só está a ser pouco coerente com aquilo que defende como pode estar a ganhar anticorpos entre os que o apoiam.

Mas também é verdade que, se o PSD aprovasse a TSU, o Governo poderia daqui em diante ir negociando com o PCP e o BE as medidas que estes exigissem, na certeza de que as compensaria a seguir com medidas aprovadas com o voto do PSD.  

Ou seja, o PSD constituir-se-ia verdadeiramente em sustentáculo da ‘geringonça’: o PCP e o CDS seriam a perna esquerda, o PSD seria a perna direita. 

A recusa do PSD tem, pois, a grande virtude de confrontar a ‘geringonça’ com as suas próprias limitações.

O PS não pode fazer ofertas à esquerda na certeza de que depois as compensará com bónus aprovados com a ajuda do PSD.

Curiosamente, numa entrevista com Mário Soares transmitida por estes dias na TV, ele descrevia um episódio onde, nos tempos conturbados que se seguiram ao 25 de Abril, dizia a um adversário: «Não conte comigo para ser muleta do Governo!».

Pois é…