Juros: já estamos perto dos 4,5%.

Geralmente usa-se a taxa de juro da dívida a dez anos para estabelecer comparações entre países. Só hoje me apercebi, graças à leitura do Expresso, que a situação de Portugal é pior do que eu pensava. Estamos ofuscados devido a um detalhe técnico.

Se eu, em minha casa, através da net, pesquisar qual é a taxa de juro de Portugal a dez anos, na agência Bloomberg, vai-me surgir uma obrigação que tem a taxa de juro de 4,14%. Todavia, esta obrigação não tem o prazo de dez anos, mas sim de nove: Portugal já fez uma nova obrigação a dez anos, pedindo emprestado 3.000 milhões de euros para reembolsar em abril de 2027, mas, por qualquer razão que eu desconheço, esta nova obrigação ainda não é considerada como a obrigação a dez anos pela Bloomberg. Porque, se fosse (mais cedo ou mais tarde vai ser) as campainhas de alarme soariam mais alto: a obrigação Abril 2027 já tem a taxa de juro de 4,39%. Os 4% vão distantes, e o próximo “alvo” a atingir pelos especuladores é agora de 4,5%.

Mário Centeno continua com um discurso bastante otimista: o crescimento económico português foi o melhor da zona-euro no 3º trimestre, a economia parece não ter perdido gás no 4º trimestre, o desemprego está a baixar, as reservas financeiras da República estão bem guarnecidas, etc. Quer Mário Centeno dizer que temos duas grandes vulnerabilidades: uma é a dívida muito elevada, outra é sermos portugueses. E eu estou disposto a dar-lhe razão.

Penso que dentro de pouco tempo será necessário recorrermos a essas reservas financeiras. Pedir emprestado a 4,5% quando a inflação é de 0,5% é de facto muito mau negócio. E, quando o Banco Central Europeu deixar de poder comprar dívida pública portuguesa (o que alguns leitores preveem para julho/agosto) as taxas de juro vão subir ainda mais.