Chase Carey. Acelerar o futuro!

A fórmula 1 tem novo dono – já avisou que vai acabar com a ordem estabelecida e prometeu melhores corridas e mais espetáculo. “The show must go on”, agora com a chancela americana

No início do ano, a Liberty Media Corporation concluiu a compra da Fórmula 1 por 7,5 mil milhões de euros e terminou com o reinado de Bernie Eccle-stone. Durante 40 anos, o tio Bernie foi dono e senhor da Fórmula 1, usando e abusando da sua influência e poder económico para ter o paddock na mão. A personagem nunca foi consensual e não deixou saudades. Em muitos aspetos, o modus operandi era semelhante ao praticado pela FIFA na era Blatter, e viu–se como acabou. 

O grupo de comunicação norte-americano Liberty é especializado naquilo de que a Fórmula 1 precisa: mais espetáculo e melhores acordos comerciais. Na ocasião, Chase Carey, CEO da nova Formula One Group, considerou ser “um negócio apetecível e de baixo risco”, que se estende até 2026. 

Enquanto durar o Pacto da Concórdia (2020), as mudanças têm por objetivo tornar a Fórmula 1 mais competitiva e popular. A partir daí, sim, haverá uma verdadeira revolução nas áreas de negócio mais importantes, a saber: promoção, difusão, publicidade nas corridas e patrocínio.

Já se percebeu que Chase Carey, Ross Braw, diretor desportivo, e Sean Bratches, responsável pela área comercial e marketing, têm ideias claras sobre o caminho a seguir para elevar este desporto a um nível superior. O novo CEO reconheceu a importância do negócio. “É raro poder comprar um franchising desportivo com a dimensão da Fórmula 1. É uma marca única no desporto automóvel, que atrai milhões de pessoas em todo o mundo. Tem grande potencial e muitas oportunidades por explorar. Vamos aproveitar a experiência da Liberty nos grandes eventos desportivos para oferecer um produto moderno e apetecível. Queremos melhorar a experiência dos fãs que estão nas pistas ou que seguem as corridas pela televisão, e acrescentar uma nova dimensão a este desporto através de um maior envolvimento dos patrocinadores.” 

Mais desporto e melhor espetáculo

 Um dos eixos de desenvolvimento é a renovação do calendário, levando a Fórmula 1 para novos destinos, num total de 21 corridas por época. Estados Unidos e Ásia são mercados-chave para o desenvolvimento a médio prazo. 

Chase Carey manifestou vontade de ter mais um grande prémio nos EUA, que pode ser em Nova Iorque, Miami ou Las Vegas. Neste caso, seria o regresso à capital mundial do jogo, depois da louca experiência de realizar uma corrida no parque de estacionamento do hotel Caesar’s Palace em 1982.

A Europa continua a ter importância capital – foi no Velho Continente que a Fórmula 1 nasceu. “Queremos pistas que tenham algo para oferecer e garantam audiência, por isso, traçados como Silverstone, Mónaco, Monza e Nürburgring vão manter-se.” Uma atitude bem diferente do método Ecclestone, que não hesitava em retirar do calendário uma prova clássica para colocar outra que pagasse mais. Foi assim que surgiu, em 2016, o grande prémio do Azerbaijão, a troco de 46 milhões de euros.

Com o fim do Acordo da Concórdia, muita coisa vai mudar para haver maior equilíbrio na Fórmula 1. “Não faz sentido ter equipas a gastar mais 350 milhões de euros por época, essa guerra tecnológica não faz bem. Temos de dar as mesmas hipóteses a todos”, avisou Chase Carey. 

Os responsáveis da Formula One Group e os pilotos estão de acordo na necessidade de as regras serem mais fáceis de entender pelo público. “Atualmente, as pessoas perdem-se nos aspetos técnicos. A nossa prioridade é criar um desporto que seja fácil de entender e atrativo para o público.”

O grupo americano quer igualmente rentabilizar o fim de semana de corridas com a organização de eventos mediáticos paralelos. “Queremos que as corridas sejam divertidas e excitantes, e se tornem eventos únicos. A minha ideia é fazer de cada grande prémio um show, como acontece no Super Bowl, NBA e NASCAR”, disse Chase Carey.

Haverá uma redistribuição dos lucros gerados pelos direitos comerciais de televisão e publicidade, para desespero das equipas mais antigas e poderosas. Em 2016 foram distribuídos 895 milhões de euros, mas de forma muito desigual, o que levou algumas equipas a apresentar queixa na Comissão Europeia. A histórica Ferrari recebeu 178 milhões de euros – tem direito a um bónus de prestígio -, ao passo que a estreante Haas não recebeu um cêntimo. Mas essa benesse vai acabar e já há a ameaça de um cisma para os lados de Marenello. 

Ao mesmo tempo que pretendem aumentar os custos das transmissões dos grandes prémios em 30 por cento, os responsáveis da Formula One Group vão baixar o preço dos bilhetes, de forma a recuperar os espetadores perdidos nos últimos anos.

Geração digital 

Há muito que as equipas reclamam por uma melhor divulgação da Fórmula 1 nas redes sociais, algo que o ultrapassado Bernie Ecclestone nunca entendeu (os 86 anos não perdoam…). Com uma mentalidade totalmente diferente, Chase Carey quer conquistar uma nova geração de adeptos, explorando de forma agressiva as plataformas digitais e outros canais de comunicação através de um serviço de stream-ing. “A ideia é desenvolver aplicações ligando as corridas à realidade virtual, conseguindo, dessa forma, atrair novos utilizadores e anunciantes. O espetador pode escolher o carro que quer acompanhar, mudar o ângulo da câmara a bordo e escutar as conversações rádio com a boxe.” O caminho para uma Fórmula 1 moderna e atrativa está traçado, é só uma questão de tempo.