Caixa. Centeno acusado de mentir. Costa desafiado a demitir ministro

Direita garante que existem documentos que provam que o ministro mentiu. PS reage e diz que “acusações são infundadas”. Centeno vai voltar à comissão de inquérito

O governo suspirou de alívio quando resolveu o problema com a administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), mas a polémica reacendeu-se com o ministro das Finanças a ser acusado de ter mentido na comissão de inquérito.

O PSD quer voltar a ouvir Mário Centeno na comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre a gestão da CGD. Os sociais-democratas apresentaram um requerimento potestativo, o que faz com que a esquerda não possa travar a audição de Centeno. O pedido foi feito um dia depois de Luís Montenegro, líder parlamentar, ter garantido, no debate quinzenal com o primeiro-ministro, que “o ministro das Finanças mentiu sobre o processo de demissão do antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos”.

A garantia de que Centeno mentiu à comissão de inquérito foi dada, a meio da tarde, pelo CDS. João Almeida relatou que os centristas pediram para ter acesso a “toda a correspondência relacionada com as condições colocadas para aceitar os convites para a nova administração da Caixa” e que a resposta do ministério das Finanças, no início de janeiro, foi que “inexistem trocas de correspondência” – o que leva o CDS a acusar Centeno de “quebra de verdade”, porque “o senhor ministro das Finanças disse à comissão de inquérito que inexistiam documentos que existem e que, neste momento, a comissão de inquérito já conhece e recebeu”.

Ao início da noite, o ministro das Finanças reagiu às acusações e “repudia com veemência a insultuosa e torpe estratégia do PSD e CDS de tentarem enlamear a sua honorabilidade e o trabalho que tem sido desenvolvido para solucionar os problemas do sistema financeiro herdados da governação dos referidos partidos”. O Ministério das Finanças explica, em comunicado, que “forneceu mais informação ao presidente da CPI, facto que o CDS-PP escolheu omitir na conferência de imprensa que deu sobre esta matéria, truncando, pois, os factos para produzir uma vil tentativa de assassinato do caráter do ministro das Finanças”.

A nova polémica à volta do banco público levou o eurodeputado Paulo Rangel a pedir a demissão de Centeno. “A única solução é que o ministro Mário Centeno apresente a demissão”, disse Rangel à Renascença. O deputado do PSD Duarte Marques não vai tão longe, mas defende, em declarações ao i, que o primeiro-ministro deve “avaliar bem a situação do ministro das Finanças e do secretário de Estado Mourinho Félix”. O deputado social-democrata classifica como “vergonhoso o comportamento do ministro das Finanças. Mentiu no parlamento. É clarinho como a água que Domingues e a sua equipa não tinham aceitado ficar como administradores se não existisse acordo ”.

PS defende centeno

O PS saiu em defesa de Mário Centeno. “O senhor ministro das Finanças tem falado a verdade aos portugueses”, disse João Paulo Correia, coordenador do PS na CPI. O socialista garantiu que na terça-feira, na reunião da comissão de inquérito, o PS vai provar que “as acusações são infundadas”.

O governo tem gerido com algum embaraço a polémica com as declarações de rendimentos e património da equipa liderada por António Domingues. O Ministério das Finanças começou por admitir que a ideia era “a CGD ser tratada como qualquer outro banco”. Mais tarde, Centeno garantiu, porém, quando confrontado com a existência de um acordo escrito, que “o único compromisso” assumido com a administração da Caixa Geral de Depósitos “é o de que se manterá um banco público, capitalizado de maneira a poder desempenhar o papel que tem de desempenhar no sistema financeiro”.

A garantia de que “o governo não assumiu esse compromisso” foi dada em novembro, numa entrevista à RTP, pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos.

Nesta quarta-feira, o jornal “ECO” divulgou documentos trocados entre António Domingues e o ministro das Finanças que mostram a existência de um “compromisso para libertar a administração do banco público da entrega das declarações de rendimentos e património no Tribunal Constitucional”.

O Presidente não passou ao lado da polémica. Marcelo Rebelo de Sousa disse ter a convicção de que “não há nada assinado pelo primeiro-ministro ou pelo ministro das Finanças defendendo uma posição que para mim era impensável. Era óbvio que tinha de haver declaração de entrega de rendimentos e património. Entrava pelos olhos dentro”.

“Não há nada de que eu tenha conhecimento assinado pelo primeiro-ministro ou pelo ministro das Finanças defendendo uma posição que para mim era impensável” Marcelo Rebelo de Sousa presidente da república “É inequívoca a quebra de verdade. É evidente que disse que inexistia aquilo que existia” João Almeida deputado do cds “É vergonhoso o comportamento do ministro das Finanças. Mentiu no parlamento” Duarte Marques deputado do psd “O senhor ministro das Finanças não mentiu. Eu não tiro conclusões sobre a posição do ministro com base em compromissos que terceiros alegam que ele tem, sem que haja qualquer prova de que ele tenha assumido” António Costa primeiro-ministro no debate quinzenal, na quarta-feira“Não há nada de que eu tenha conhecimento assinado pelo primeiro-ministro ou pelo ministro das Finanças defendendo uma posição que para mim era impensável”