Campeonato. O voo da águia está à distância de um tiro

Próximo passo de uma luta agora a dois, Benfica recebendo hoje o Arouca, FC Porto amanhã em Guimarães

A jornada 21 arranca hoje à noite (20h30) na Luz, com o líder Benfica a receber um quase, quase aliviado Arouca. Sabe Rui Vitória e sabem os seus jogadores que não há, neste momento, margem de erro. O que se passou recentemente com o Boavista e com o Vitória de Setúbal – e até mesmo com o Moreirense, no Algarve, que valeu o desperdício de mais uma Taça da Liga – não pode repetir-se sob o risco de provocar lesões graves numa águia que ainda há bem pouco tempo voava altaneira no topo da classificação com vantagens muito razoáveis para os seus mais diretos perseguidores. De repente, tudo mudou.

Cinco pontos perdidos em apenas três jornadas deixaram os encarnados na zona de tiro de um FC Porto que, mesmo sem brilhar intensamente, foi cumprindo as suas etapas, sobretudo a última, quando venceu o Sporting nas Antas, pondo um ponto final no sonho já muito abalado dos leões. Dizem os entendidos que o Benfica terá, nesta altura, a vantagem de se ver perante um calendário mais simpático, até porque contempla mais um jogo caseiro do que o dos portistas. Não vou por aí. Como diria José Régio, no seu “Cântico Negro”, nunca vou por aí. No que respeita aos três grandes – e o futebol português nunca irá viver sem esta referência, por mais que o Sporting some anos sem ser campeão –, as facilidades estão sempre relacionadas com a forma como abordam os seus jogos, sabendo nós todos que mais recursos, melhores jogadores, talentos mais decisivos trazem consigo resultados positivos em maiores quantidades e com maior frequência.

Basta recordarmos o que aconteceu na penúltima jornada, no Bonfim, em Setúbal, para confirmarmos que assim é. Confuso, pouco agressivo, desastrado nos movimentos ofensivos, permeável (demais!) no lance em que Zé Manuel fez golo, o Benfica condenou-se. Ficámos com a ideia de que nem mais três horas de jogo seriam suficientes para poder chegar a um empate que, no momento, até pareceu um mal menor. Derrotada, a equipa de Rui Vitória viu o dragão soprar-lhe chamas nos calcanhares. E percebeu que a luta pelo título está mais acesa do que nunca.

Guimarães

Vai o FC Porto a Guimarães no sábado, pela mesma hora, numa saída que se previa, há umas semanas, bem mais complicada. Seja porque, com a recente vitória sobre o Sporting, os dragões estão, para já, com o moral em alta, seja porque os minhotos parecem estar muito titubeantes, perdendo o élan da bonita vitória em Braga com um imediato empate caseiro frente ao Marítimo. De qualquer forma, com apenas três pontos de atraso em relação aos lisboetas de Alvalade, o conjunto de Pedro Martins ainda pode sonhar, e de olhos bem abertos, com o terceiro lugar, que daria uma muito apetitosa qualificação para o play–off da Liga dos Campeões. Exatamente o que se passa com os seus rivais do Minho, Braga, de quem distam apenas dois pontos.

Neste caso concreto, responsabilidade maior para os bracarenses. Visitam o Estádio do Bessa e, em caso de vitória frente ao Boavista, podem aproveitar um provável resultado negativo do Guimarães. Ainda por cima quando estamos apenas a uma semana do escaldante Braga-Benfica, que se ergue prazenteiro no horizonte do campeonato.

O Sporting vai também ele ao Minho, a Moreira de Cónegos, onde vive uma equipa confiante e de peito cheio com a vitória na Taça da Liga, alicerçada a triunfos sobre FC Porto, Benfica e Braga – razão para não temerem a visita do leão. Saberá Jorge Jesus da dificuldade em manter os seus jogadores em regime de alerta máximo, agora que não há maior objetivo competitivo que não seja conservar o terceiro lugar na tabela. Mas, convenhamos, este cenário há muito que era previsível. A pouco e pouco, o Sporting foi-se afundando num mundo de controvérsias, de contradições e de erros que só poderiam desaguar em contrariedades. A quebra não é de hoje e não foi o jogo das Antas que empurrou os leões para o pântano no qual se debatem. Tudo parecia claro neste percurso meio suicida levado a cabo desde o início da época, tanto pelo discurso oficial como pela prática que faz da sua defesa uma das mais batidas da primeira metade da tabela – até ao nono lugar, só o Rio Ave tem pior desempenho. E, ao naufragar nesse consentimento continuado de golos e mais golos, o Sporting sujeita-se a um final de prova muito complicado, agarrando-se à esperança de um futuro que não parece brilhante.