Visita relâmpago do Papa Francisco não é inédita (mas não terá nada a ver com a de Bento XVI)

Santuário revelou hoje cartaz oficial da visita de Francisco como “peregrino”. Papa não pára em Lisboa

O Papa Francisco visitará apenas Fátima. Esta era já a indicação disponível mas o santuário revelou hoje o cartaz oficial da visita do pontífice, que ao contrário do seu antecessor Bento XVI não irá nem a Lisboa nem ao Porto.

A visita é em tudo semelhante à de Paulo VI, o primeiro Papa a visitar Portugal em maio de 1967, por altura do cinquentenário das aparições. A “visita relâmpago” de Paulo VI, como noticiou na altura o “Diário de Lisboa”, também começou com o pontífice a aterrar na base aérea de Monte Real, sob chuva miudinha e na condição de peregrino.

Há para já duas diferenças em relação à visita de Francisco. E 1967, um avião da TAP, de nome “Caravela”, foi buscar Paulo VI a Roma. E o Papa chegou e partiu no mesmo dia, 13 de maio. No dia seguinte, a imprensa dava conta de que o Santo Padre, de 69 anos, regressara com um “aspeto fatigado” ao Vaticano. Uma curiosidade: a 14 de maio, o governo organizou uma recepção para a comissão que organizara a visita, que incluiu um banquete e reuniu mais de 1200 individualidades no Palácio da Ajuda.

50 anos depois

Desta vez, Francisco virá num avião da Alitalia e chegará a 12 de maio, pelo que terá uma noite para descansar em Fátima depois da procissão das velas, na qual participará.

O Papa aterra na base de Monte Real às 16h e está prevista a chegada a Fátima pelas 18h, avançou a Renascença. No dia seguinte, o Papa presidirá as celebrações do 13 de maio, que este ano marcam o centenário das Aparições.

Foi divulgado hoje o cartaz oficial da visita, que terá o lema “Com Maria peregrino na esperança e na paz”.

João Paulo II e Bento XVI com visitas mais prolongadas

A visita de Francisco será a sexta visita de um Papa ao país.

João Paulo II esteve em Portugal três vezes. A primeira foi em maio de 1982, precisamente um ano depois do atentado na Praça de São Pedro.

Nesta primeira visita, João Paulo II chegou a Portugal a 12 de maio, aterrando no aeroporto da Portela de Lisboa pelas 13h30. Seguiu em cortejo de automóvel até à Sé Patriarcal e Igreja de Santo António. Depois, deslocou-se ao Palácio de Belém, para um encontro com o presidente Ramalho Eanes. Duas horas depois recebia o primeiro-minitro na embaixada da santa sé. No mesmo dia, pelas 19 horas, partiu para Fátima de helicóptero. Depois de presidir às celebrações do 13 de Maio em Fátima, João Paulo II falou em Vila Viçosa para cerca de 40 a 50 mil pessoas, noticiou na altura o “Diário de Lisboa”, pedindo um salário justo para os trabalhadores. A 15 de Maio, o Papa dirigiu-se ainda aos jovens em Coimbra com um “olá malta” e visitou o Sameiro e o Porto. Regressou a Fátima nesse mesmo dia, levantando voo do aeroporto de Pedras Rubias (o aeroporto do Porto, entretando rebaptizado com o nome Sá Carneiro).

Da segunda visita, em 1991, João Paulo II  chegou no dia 11 de maio aos Açores, onde visitou as ilhas Terceira e São Miguel. No dia 12 de maio foi recebido por Alberto João Jardim na Madeira. Nesse mesmo dia, viajou para Fátima, onde participaria na procissão das velhas e na celebração do 13 de maio.

A terceira e última visita de João Paulo II ao país aconteceu no ano 2000, cinco anos antes da sua morte. O pontífice presidiu à beatificação de Jacinta e Francisco em Fátima, onde esteve nos dias 12 e 13 de maio.

A única visita de Bento XVI a Portugal aconteceria dez anos depois, em maio de 2010. Esta visita foi muito mais alongada do que a de Francisco – quatro dias, não superando ainda assim o recorde da primeira visita de João Paulo II.

O Papa aterrou em Lisboa no dia 11 de maio e foi recebido pelo presidente Cavaco Silva, pela primeira-dama Maria Cavaco Silva e pelo então cardial patriarca D. José Policarpo. Deslocou-se de papamóvel pelas ruas de Lisboa até à nunciatura apostólica. Pelas 12h30 houve uma cerimónia oficial de boas vindas em Belém e Bento XVI teve ainda a oportunidade de visitar o Mosteiro dos Jerónimos. Pelas 18h15 deste mesmo dia, Ratzinger recebeu das mãos de António Costa as chaves da cidade de Lisboa. Celebrou depois uma missa no Terreiro do Paço. Pernoitou na nunciatura.

Mas Bento XVI também vinha como “peregrino” a Fátima, como anunciou. Chegou ao santuário pelas 17h30 do dia 12 de maio, saiu do papamóvel e ajoelhou-se perante a imagem de Nossa Senhora. Seguir-se-iam dois dias que assinalaram, em Fátima, os dez anos da beatificação dos pastorinhos.

No dia 14 de maio, Bento XVI seguiu manhã cedo para o Porto de helicóptero, onde foi recebido pelo bispo do Porto D. Manuel Clemente – agora Patriarca de Lisboa. Pelas 10h15 celebrou uma missa nos Aliados, despedindo-se pela hora do almoço no aeroporto Sá Carneiro.