Um senhor nos treinos, um bruto nas palavras

Comeu o pão que o diabo amassou e foi subindo na carreira até chegar ao cume em Portugal. Depois de dois campeonatos ganhos e de ter acabado com a hegemonia do FC Porto, Jesus está sempre debaixo de fogo…

raticamente podia ser a figura da semana sempre que o Sporting perde, já que no momento da derrota diz sempre umas ‘bocarras’ que fazem o país falar do assunto durante longos dias. Jorge Jesus é assim mesmo e nunca irá mudar por mais consultores de imagem que tentem contratar para o modificar. É um cavalo selvagem e não há amarras que o prendam.

O treinador do Sporting, depois de perder contra o FCPorto, cometeu dois pecados capitais, segundo os seus detratores, que fizeram correr muita tinta. E o que disse Jesus? Que um dos seus jovens jogadores que tinha lançado leu mal o guião do jogo e que a vitória foi do guarda-redes adversário, o espanhol Iker Casillas, curiosamente mal batido no golo que sofreu, mas poucos se lembram desse episódio. Afinal, quando o jogo se encaminhava para o fim fez duas defesas excecionais, fazendo esquecer a falha no golo sofrido. A vida é mesmo assim: facilmente nos esquecemos do que correu menos bem quando o final é feliz.

Jesus é muito atacado por não apostar na formação dos clubes por onde passa, mas a verdade é bem diferente, se esquecermos os jogadores portugueses. Em todas as equipas por onde passa o treinador quer que as suas ideias sejam assimiladas e só depois lança as tais promessas. Mas como a memória é curta, poucos se lembram que vários dos craques que lançou no Benfica estiveram largos meses a aperfeiçoar a estratégia nas equipas secundárias ou nos campos de treinos. Como a imprensa cada vez mais vive do momento, Jesus é muito pressionado e não tem tempo para trabalhar os jogadores no laboratório que são os treinos.

Independentemente disso, o treinador, por vezes, esquece-se que não é pai dos jogadores e que uma reprimenda em público não se esquece depois com uma festa em privado. O técnico, indiscutivelmente um dos melhores na sua área, não vai mais longe, no que ao estrangeiro diz respeito, pela sua impetuosidade. Jesus não é um produto que possa ser vendido pelos grandes clubes internacionais já que os sponsors teriam muita dificuldade em aceitar um rebelde que se atrapalha com as palavras. O antigo campeão pelo Benfica é bom é no campo, pois quando as luzes do relvado se apagam e se ligam as das televisões, Jesus comete faltas atrás de faltas até receber o cartão vermelho dos seus inimigos – e de alguns amigos.