Frank-Walter Steinmeier é um nome que não dirá muito à maioria dos europeus e vai ocupar um cargo que não goza de grandes poderes, mas a sua eleição ontem como presidente da Alemanha ganhou interesse por ser um político assumidamente anti-Trump. O epíteto foi-lhe dado pela imprensa alemã e foi assim que foi sendo ontem anunciado pelo mundo depois de ser eleito.
Steinmeier não hesitou em chamar “pregador do ódio” a Donald Trump quando ainda corria a campanha eleitoral para a presidência americana e foi um dos mais críticos quando o recém-eleito presidente dos Estados Unidos da América veio dizer que a NATO é uma instituição obsoleta.
“Os resultados eleitorais não foram aqueles que a maioria alemã gostava que tivessem sido. Não vale a pena dourar a pílula. Nada vai ser mais fácil e algumas coisas vão tornar-se mais difíceis”, disse Steinmeier no dia em que Trump ganhou as eleições americanas, não poupando palavras para descrever a apreensão que lhe causa o republicano escolhido pelos americanos para liderar a Casa Branca. “Com a eleição de Donald Trump, o velho mundo do século xx finalmente acabou”, disse na altura, mostrando-se preocupado com as “incertezas, dúvidas e pontos de interrogação” que a eleição de Trump levanta “nestes tempos de uma nova desordem global”.
Apesar disso, o então responsável pela diplomacia alemã disse estar confiante de que a Alemanha vai “encontrar interlocutores em Washington que saibam que os países grandes também precisam de parceiros”.
Agora, resta saber se Steinmeier vai manter o discurso duro contra Donald Trump nas funções presidenciais. Sendo um cargo mais honorífico do que com poderes reais, o lugar de presidente da Alemanha pode levar a que seja mais contido, mas o seu primeiro discurso serviu para apresentar Berlim como “uma âncora de esperança” num momento em que “vivemos tempos tumultuosos”.
Aos 61 anos, Frank-Walter Steinmeier sucede a Joachim Gauck, de 77 anos, que só sairá formalmente do cargo a 18 de março e que anunciou que não voltaria a ser candidato por estar já numa idade avançada.
Steinmeier foi eleito com o apoio do SPD e dos democratas-cristãos liderados por Angela Merkel.
Na Alemanha, o presidente é eleito não por voto popular, mas por uma câmara especial do parlamento alemão. Sem surpresas, Steinmeier foi eleito à primeira volta, conseguindo conquistar 931 votos de um total de 1260.
O sucessor de Joachim Gauck é licenciado em Direito e entrou na política como chefe de gabinete do antigo chanceler Gerhard Schroeder. Entre 2005 e 2009, Steinmeier foi ministro dos Negócios Estrangeiros, um cargo que voltou a ocupar em 2013 e que abandona agora.
