Casar no Dia dos Namorados. Da Rússia com amor

São 52 os namorados que se casam hoje em Portugal. O i foi conhecer a história de um dos casais. Olia e Bruno conheceram-se no Tinder

Bruno e Olia conheceram-se através de uma rede social há mais de um ano. A 14 de fevereiro do ano passado começaram a namorar e hoje são um dos 52 pares a dar o nó em Portugal. É Dia dos Namorados e o i foi conhecer a história.

Bruno é arquiteto, está de avental branco vestido e com as mãos sujas de massa. Está cheio de trabalho e não é caso para menos: é ele que está a preparar o banquete para os convidados. Olia é russa, especialista em história de arte, e também está nervosa.

A menos de 24 horas do grande acontecimento, riem-se quando lhes perguntamos como se conheceram, mas não há qualquer constrangimento em dizer que foi através do Tinder, numa viagem de negócios em que Bruno fazia escala em Moscovo para falar com um cliente.

A cena é comum nos dias que correm: para as gerações mais novas, é cada vez mais natural conhecer pessoas através da internet. Se há uns anos havia quem encontrasse a cara-metade em plataformas como o Hi5 ou o Facebook, hoje em dia, o amor acontece em aplicações que ajudam a encontrar potenciais candidatos nas redondezas. O Tinder parece ser a app mais famosa no motor de busca da Google e está presente em 196 países. Os números são esmagadores: proporciona diariamente mais de 20 milhões de correspondências entre casais que podem vir dar a origem a novas histórias de amor, a amizades ou apenas a encontros fugazes.

Do virtual ao mundo físico

O caso de Bruno e Olia não será, assim, inédito, mas foi preciso coragem para agora estar de anel de noivado no dedo.

Depois de trocarem as primeiras mensagens, e já com Bruno de regresso a casa, Olia arriscou uma viagem de Moscovo a Lisboa para conhecer o rapaz. As amigas, que vieram da Rússia para o casamento e ontem à tarde estavam entretidas a fazer manualmente os brindes para oferecer aos convidados, pensaram que Olia estava “maluca”. Tatiana, de 28 anos, hoje muito feliz pela amiga, conta que há um ano estava preocupada: “Não sabíamos se ele era um maluco qualquer, ou um assassino, mas ela parecia estar confiante em relação ao encontro. Como amiga adverti-a, mas desejei-lhe boa sorte e pedi para que me fosse atualizando sobre tudo.”

Bruno conta, despachado, a sua versão. Habituado a fazer couchsurfing, e outrora embaixador desta plataforma em Lisboa, para ele, receber pessoas de outros cantos do mundo sem as conhecer previamente não era novidade. Mas Olia, que estava “muito nervosa”, lembra que o sentiu também muito ansioso quando se encontraram no aeroporto pela primeira vez. Como se não bastasse a adrenalina de toda a situação, a jovem russa teve ainda o azar de perder o segundo avião que faria a ligação a Lisboa, chegando a pensar que seria um sinal do destino. “Pensei mesmo em voltar para trás.” Caso o fado realmente cante, então estava decididamente destinado a uni-los, ou não estariam hoje a casar em Lisboa. Bruno esperou por ela. E foi amor à primeira vista? Olia sorri. “Senti-me mesmo apaixonada quando, mais tarde, ele me foi visitar a Moscovo.”

Casar no dia de S. Valentim

Bruno nunca gostou do Dia dos Namorados: “Soa-me sempre a um dia falso, é tudo demasiado plástico.” Porém, como calhou começarem a namorar nesse dia, pareceu-lhe uma boa decisão oficializar a relação na mesma data. “Agora já tenho motivos para valorizar o dia”, diz o noivo.

O pedido de casamento, depois de várias viagens que encurtavam os quase 4 mil quilómetros de Lisboa a Moscovo, foi com muito poucos salamaleques. “Não me pus de joelhos, o meu romantismo é o meu sarcasmo”, diz Bruno.

O anel de noivado com uma pérola de meter respeito que Olia tem no dedo foi herdado da futura sogra. Foi também a mãe de Bruno quem costurou o vestido à medida da noiva. “Vai ser cor de prata, num estilo retro, está muito bonito e vai ser uma surpresa para todos”, conta a jovem em segredo, com entusiasmo.

Do que mais gostam um no outro é da honestidade e da simplicidade com que levam a vida, mas foram os vinis de Nina Simone que deram o mote para se aperceberem da quantidade de gostos que partilhavam em comum. A comunicação nunca foi um problema para o casal: Bruno fala o básico de russo para poder expressar o carinho que sente pela sua apaixonada e o resto das conversas são em inglês.

Bruno, que nunca se imaginou a casar, estava ainda mais longe de imaginar que de véspera estaria a fazer brigadeiros e um bolo de gengibre e chocolate para a festa. “Temos de seguir os nossos instintos e uma decisão destas ou vem por pura loucura ou depois de muita ponderação. Gosto dela, quero estar com ela. Porque não?”