Um quarto dos jovens acham normal partilhar fotos íntimas

UMAR fez estudo nacional sobre violência no namoro e concluiu que um quarto dos jovens toleram comportamentos abusivos

Toleram comportamentos agressivos e abusivos, como partilhar fotografias íntimas ou insultos nas redes sociais. A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta apresenta hoje os resultados de um novo inquérito sobre violência no namoro, depois de vários estudos nos últimos anos terem revelado que as manifestações violentas na intimidade são uma das realidades entre os jovens portugueses que importa combater.

Ana Guerreiro, uma das mentoras do estudo da UMAR, explicou ao i que a novidade deste trabalho é ter contado com uma amostra nacional de 5500 jovens.

Antes da apresentação de hoje, marcada para as 12 horas na Universidade do Porto, a UMAR adianta apenas que as respostas dos jovens revelam que um quarto (24%) consideram normal partilhar fotografias íntimas ou insultar através das redes sociais. O inquérito concluiu ainda que 14% dos jovens legitima a violência psicológica e que 19% já foram, alguma vez, vítimas de agressões verbais, insultos e coação.

A apresentação do estudo contará com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade Catarina Marcelino. Ana Guerreiro considera que o governo tem mostrado maior sensibilidade para esta realidade, mas alerta que há trabalho a fazer. “Precisamos de maior sensibilização e de uma comunidade escolar mais envolvida, tanto professores como alunos”, assinala.

No estudo divulgado no ano passado, em que participaram 2.500 jovens, a UMAR revelou que um terço dos jovens não consideravam que proibir o namorado ou a namorada de sair sem o companheiro fosse um comportamento violento. A investigação envolveu, na altura, jovens entre os 12 e os 18 anos de Braga, Grande Porto e Coimbra. A invasão de privacidade, a proibição de estar ou falar com determinadas pessoas e a pressão para beijos em público eram algumas das formas de coação. Mas 3% dos jovens admitiram mesmo já terem sido obrigados a terem relações sexuais forçadas. Em 2010, um estudo com 414 jovens de escolas secundárias do Porto revelou que 2% dos rapazes e 5% das raparigas já tinham sofrido agressões físicas no contexto do namoro. Quanto a violência psicológica, um quarto dos jovens reportava problemas, números que parecem ser muito semelhantes ao apurado neste primeiro estudo com cobertura nacional.

No ano passado, a UMAR chegou a ir ao parlamento para apresentar os dados sobre violência no namoro e o assunto tem estado ciclicamente em debate.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) tem um portal dedicado a esta matéria, onde aconselha os jovens a procurar ajuda e a terminar relações violentas. A APAV alerta, por exemplo, que a probabilidade de as raparigas serem agressoras é igual à dos rapazes. As diferenças estão nas formas de violência que cada um usa. Elas insultam, gritam e envergonham. Eles usam mais vezes a violência física, como bater, empurrar e agarrar. Têm, por isso, maior probabilidade de magoar.

As autoridades também têm vindo a registar um maior número de queixas. Segundo o “Público”, o número de participações por violência no namoro aumentou 6% entre 2015 e 2016. GNR e PSP receberam, no ano passado, um total de 1975 participações, o maior número de sempre – isto depois de o Código Penal ter passado a incluir, em 2013, uma referência à violência no namoro.

A divulgação de imagens intímas na internet é precisamente um dos problemas que atormenta os jovens. Já chegaram casos à APAV em que imagens foram divulgadas sem consentimento.