Portugal é o 12.º país europeu em que os alunos passam mais horas a fazer os TPCs

Alunos portugueses passam menos tempo que os dinamarqueses, noruegueses ou ingleses a resolver os TPC. Mas há uma diferença importante, avisa investigadora do ISCTE. Piores alunos deviam ter mais deveres

 

 

Se os pais se queixam da “bateria” de trabalhos de casa pedidos aos alunos, os últimos dados disponíveis mostram que Portugal não está na lista dos países em que os estudantes mais são sobrecarregados em casa. De acordo com o último estudo do PISA – o maior inquérito internacional sobre educação – Portugal é apenas o 12.º país europeu em que os alunos passam mais horas a fazer os TPCs.

Segundo este estudo quadrienal da OCDE, os alunos portugueses de 15 anos passam 14,4 horas semanais a resolver os trabalhos de casa, a estudar ou em explicações. Estamos, portanto, dentro da média europeia e na mesma linha de países como a República Checa, França Letónia ou Áustria. E há países, tidos como referência no ensino, como a Dinamarca, Noruega ou Reino Unido, onde os alunos passam mais horas que os portugueses a fazer os TPC, com 16 horas, 15,8 horas e 15,2 horas respetivamente.

Os campeões na tabela das horas de TPC são a Grécia e a Itália, com 18 horas cada um. No extremo oposto, é na Alemanha que os alunos passam menos tempo a resolver exercícios ou a estudar em casa, apenas 10,2 horas semanais.

Que ilações tirar? Segundo um estudo do projecto aQeduto, apoiado pelo Conselho Nacional de Educação, mais trabalhos de casa não significam, necessariamente, maior sucesso escolar, diz ao i Isabel Flores, investigadora do ISCTE e autora do estudo. Mas o problema é que os mais fracos, que precisariam de trabalhar mais, não são os que passam mais tempo a estudar em casa.

Os dados recolhidos pela investigadora revelam que, em Portugal, são os melhores alunos que dedicam mais tempo ao trabalho fora da escola. Em média, diz Isabel Flores, os alunos portugueses com notas de “muito bom” trabalham cerca de três horas semanas a mais do que os restantes estudantes. “Uma maior dedicação está associada a melhores resultados”, garante a investigadora.

A diferença entre Portugal e “a grande maioria” dos países europeus está, por isso, nos destinatários dos TPC. Na grande maioria dos países é “aos alunos com mais dificuldades que são pedidos mais TPC”, explica Isabel Flores. Em Portugal, essa relação “não existe”, ou seja, os professores pedem a todos os alunos o mesmo tipo de exercícios e a mesma quantidade de trabalho, independentemente dos seus resultados. O mesmo acontece em Espanha, Itália e Hungria. Mas, por exemplo, em países como França, Finlândia, Luxemburgo ou Alemanha, a lógica já é outra.