Confiança

Este painel de azulejos, na Quinta das Conchas, em Lisboa, surpreende pela sua dimensão e pela palavra nele inscrita – «Confiança» –, sublinhada, dando destaque e força a este vocábulo, a este sentimento de que todos necessitamos.

E a confiança e a coragem fazem-nos falta em vários, se não em todos os momentos da vida. Coragem não é não ter medo, é a capacidade de agir apesar do medo. Precisamos de coragem para sermos coerentes com os valores em que acreditamos, para tomarmos decisões, para conseguirmos enfrentar momentos difíceis, para darmos apoio aos amigos nos momentos em que eles precisam de nós, para enfrentarmos um tratamento doloroso, para vivermos em paz com a nossa consciência, para sabermos respeitar os outros e fazermos valer a nossa opinião. No fundo, tudo aquilo que fazemos exige alguma dose de coragem e confiança.

Até porque, sem termos confiança em nós e nos outros, não conseguimos realizar algumas das tarefas, mesmo as mais simples, que devemos empreender no dia a dia. Como diz Miguel Torga no poema «Confiança»: «O que é bonito neste mundo, e anima, / É ver que na vindima / De cada sonho / Fica a cepa a sonhar outra aventura…». A beleza desta imagem dá-nos justamente a medida dos nossos sonhos, da nossa coragem e da confiança com que os encaramos.

Ter confiança é, no fundo, o ingrediente que nos ajuda a lidar com as adversidades e a sermos capazes de viver na sociedade cada vez mais selvagem e egoísta em que estamos inseridos.

Efetivamente, algumas pessoas exploram a falta de confiança dos outros para conseguirem os seus objetivos, procurando levá-los a atuar consoante os desejos desses que procuram manipular os outros.

Muitos exemplos de falta de confiança poderiam ser dados, mas bastam-nos alguns bem simples. Um aluno que não tem a coragem de confiar em si e naquilo que sabe acaba por não ter nos exames as notas que poderia ter, se confiasse nas suas capacidades. De igual modo, no trabalho, um profissional que não acredite nas suas capacidades pode não sentir confiança para aceitar novos desafios. Também, por exemplo, alguém já com muita idade poderá não sentir a confiança necessária para enfrentar as dores da velhice, o sofrimento do afastamento da família; ou a confiança para manter a sua dignidade até ao fim, incapaz, como Clarice Lispector, de dizer: «Que minha solidão me sirva de companhia, / que eu tenha a coragem de me enfrentar, / que eu saiba ficar com o nada / e mesmo assim me sentir / como se estivesse plena de tudo».

E esta falta de confiança durante a velhice é atroz, sobretudo quando as doenças impedem as pessoas de viverem sozinhas, em casa própria, quando as forçam a aceitar viver num lar (tão irónica que é, infelizmente, esta palavra usada neste sentido!), onde, por vezes, ficam abandonadas, longe do olhar e, assim, longe da alma.

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services