O Tejo voltou a matar

Em 1974, Philippe Cousteau, filho do famoso realizador e oceanógrafo, Jacques-Yves Cousteau, resolveu comprar um hidroavião. Chamou-lhe Calypso II, ou Calypso Voador. Calypso era o nome do barco do seu pai, centro da maior parte de seu trabalho naquilo que ficou conhecido por “O Mundo do Silêncio”.

Em 1978, o aparelho viajou para o Egipto. Philippe-Pierre, nascido em Toulon, no sul da França, em Dezembro de 1940, levou o PBY Catalina até às nascentes do Nilo. Preparara o Calypso II para filmagens aéreas da máxima definição, para ser utilizado como cais de mergulho, e com condições para que Philippe e o seu camarada americano Michael Sulliven, um antigo soldado da guerra do Vietname, pudessem viver nele durante semanas a fio.

O raio de acção do hidroavião era de 3800 milhas. Voava acima dos 20 mil pés. Tinha sido um bombardeiro da U.S. Navy.

Um ano mais tarde, enquanto procedia à montagem de dois filmes recolhidos durante a sua aventura africana, resolveu acrescentar mais pormenores ao aeroplano. Veio para Lisboa com o seu co-piloto, Jean-Pierre Gros. Instalou-o nas Oficinas Gerais de material Aeronáutico, em Alverca.

Philippe era um comandante experimentado. Tirara o brevet com apenas 16 anos.

No dia 19 de Junho de 1979, as coisas correram-lhe mal. Fizera um voo de controlo sobre a margem sul do Tejo e curvara em seguida de forma a conseguir amarar. A manobra foi defeituosamente calculada. Chegou a alvitrar-se que tentara fugir a um banco de areia. Mal tocou na água, o Calypso Voador afocinhou. A hélice soltou-se, entrou pelo cockpit e matou-o de imediato. Jean-Pierre salvou-se. Por pouco não ficou com um braço amputado.

Em Agosto de 2007, o jornal O Mirante, fez uma entrevista com Jerónimo Caetano, um dos tripulantes do salva-vidas que resgatou do rio o corpo de Cousteau.

“O local foi identificado facilmente porque parte de uma asa estava fora de água”, contou. “Ao primeiro mergulho de avaliação verificou-se que Philipe estava morto dentro da carlinga do hidroavião. O piloto estava envolto numa amálgama de ferros, preso pelos cintos na zona do abdómen e sem possibilidade de resgate”. 

Havia muita gente em terra. Curiosos. As tragédias provocam sempre um chamado irresistível.

O corpo de Philippe-Pierre Cousteau foi trazido para o cais de Alcântara. Tinha 39 anos. As suas cinzas foram largadas no Atlântico, ao largo da costa portuguesa.