Madeira Rodrigues: ‘Tenho um ar simpático mas sou um leão cá dentro’ [vídeo]

Diz que será a antítese de Bruno de Carvalho. Garante que não vai cuspir nos adversários nem tratar mal os investidores. Critica o falhanço desportivo do Sporting, afirmando que 85% das contratações falharam. E mostra-se um homem sereno, feliz com os seus cinco filhos.

Madeira Rodrigues: ‘Tenho um ar simpático mas sou um leão cá dentro’ [vídeo]

Disse que venceria estas eleições de forma surpreendente, tal como Donald Trump. Considera-se um outsider? 

Não. O que acontece é que em Portugal há uma grande subserviência a quem detém o poder. O presidente atual tem essa vantagem. Tem uma maior entrada na comunicação social. Mas o que mais me choca é haver uma série de comentadores a assumir que Bruno de Carvalho vai ganhar, e a minha comparação é essa. As pessoas também assumiam que a Hillary Clinton ia ganhar e que o Brexit não ia passar.

A comunicação social está a perder influência?

As pessoas têm pensamento próprio, e isto chegou a um estado que é preciso mudar e abanar. Acredito que vai haver surpresa para alguns comentadores. Choca-me falarem como se fosse garantido que ele [Bruno de Carvalho] fosse continuar. É tratar as pessoas como carneiros, porque foi assim que Bruno de Carvalho apelidou os sportinguistas e os nossos sócios. Nós não somos carneiros.

Quando tomou a decisão de se candidatar?

No final de novembro, início de dezembro. Na altura, a equipa principal de futebol ainda estava a disputar as quatro frentes.

Foi algo repentino ou já estava nos seus planos?

Não foi repentino. Uma pessoa vai mastigando, falei com muitas pessoas sem pensar nisso, a ideia estava a amadurecer cá dentro. Um dia fez-se luz.

Não seria arriscado caso o Sporting se mantivesse nessas quatro frentes?

Não tomo decisões com medo seja do que for. Candidatei-me com a noção de que era importante haver uma alternativa para o Sporting. Não fazia conjeturas de que a equipa iria ganhar ou perder, mas não me admirou nada o que aconteceu depois. Uma coisa posso dizer: não foi com calculismo.

Agora vai muito mais ao estádio. Tem sido abordado pelos adeptos?

Sempre fui muito ao estádio, mas houve fases em que o trabalho me impediu. Tenho sido sempre muito bem recebido, os adeptos incentivam-me e dão-me coragem. Obviamente há sempre uma ou outra pessoa que não está satisfeita, mas isso não são os adeptos do Sporting Clube de Portugal, são mais os adeptos do Sporting Clube de Carvalho, que infelizmente também cresceu nos últimos anos.

Como acha que isso se desenvolveu, tendo em conta a falta de resultados?

Há seis anos, quando fiz parte de uma candidatura pela primeira vez, o Sporting era muito carente. Estávamos num momento muito complicado, e quatro anos depois a mesma coisa. Bruno de Carvalho veio trazer um élan naquela altura. Teve uma oportunidade de unir o clube, de pacificá-lo, de dar um abanão e de mudar o que trouxe aquela dinastia ligada a José Roquette e mais precisamente a José Maria Ricciardi. As pessoas responderam e eu próprio me surpreendi. Houve um ano em que as coisas correram relativamente bem. Tivemos investimentos baixos e conseguimos bons resultados com Leonardo Jardim. Mas depois as coisas descambaram completamente com Marco Silva. Nesta fase estamos num desnorte completo, a fazer lembrar o período de Godinho Lopes.

A saída de Jorge Jesus foi uma das medidas mais controversas que anunciou. Admite que se Jesus não tivesse integrado a comissão de honra de Bruno de Carvalho continuaria no projeto?

Claro. Disse em várias entrevistas, antes dessa decisão, que contava com ele. Se pudesse escolher o treinador de base, não seria essa a minha escolha porque não tem o perfil de aposta nos jovens que faz parte da cultura do Sporting. Mas é um bom treinador de campo e eu acreditava que seria capaz de o moldar às necessidades do nosso projeto. Mas ele tomou essa decisão e, a partir daí, virei-me para outro treinador que apresentarei em breve. Foi uma decisão de Jorge Jesus, não minha!

Ou seja, contava com Jesus mas o atual treinador do Sporting não contava consigo?

Ele disse-o. ‘Eu não quero trabalhar com Pedro Madeira Rodrigues e com a equipa dele’.

Mas reconhece que Jesus fez uma época passada brilhante…

Não é verdade. O Sporting saiu muito cedo de várias competições, desprestigiou a nossa cultura nas competições europeias. Fomos até ao fim de um campeonato, mas isso não é brilhante.

Foi até ao fim e bateu o recorde de pontos do FC Porto de José Mourinho.

Eu não fico contente com segundos lugares nem com vitórias morais. Nunca é uma época brilhante, especialmente se há uma aposta financeira e ficamos em segundo lugar. Tivemos bons jogos e um final de campeonato muito bom, mas nas alturas-chave falhámos.

Antes disso o Sporting nem ia à Liga dos Campeões…

O passado do Sporting não começou há quatro anos mas há 111 anos. O Sporting foi regularmente à Champions no tempo de Paulo Bento, com muito menor investimento. Com o investimento feito no ano passado seria obrigatório chegarmos à Liga dos Campeões. Este ano corremos o risco de não conseguir chegar lá diretamente, no ano de maior investimento de sempre do Sporting…

Toda a gente quer saber os nomes dos treinadores que tem na carteira. Pode adiantar alguma coisa?

Hei-de revelar. Há muita expectativa, porque as pessoas sentem que o treinador que eu apresentar vai mesmo ser o novo treinador do Sporting.

É uma estratégia de marketing anunciar o treinador mais perto do dia das eleições para ter mais impacto?

Eu só tive três semanas para tratar da situação do treinador. Houve a tal surpresa [de Jorge Jesus integrar a comissão de honra de Buno de Carvalho] e eu reagi imediatamente com muita convicção e sem calculismos. Percebi entretanto que, até em termos eleitorais, foi uma boa decisão. As pessoas estão cansadas de Jorge Jesus e veem que com ele não vamos a lado nenhum. As suas últimas declarações mostraram bem o que pensa da formação do Sporting.

O que o diferencia de Bruno de Carvalho? O que traz de novo?

Eu sou a antítese de Bruno de Carvalho. Vou trazer uma liderança completamente diferente, que não é egoísta. Que não vai fazer ‘voltas olímpicas’. As vitórias serão de toda a equipa e em particular dos jogadores. Nas derrotas vou dar a cara e não arranjar desculpas. Depois, a determinação e o saber lutar pela vitória. Tive isso durante a minha vida toda. Comparem o passado de vida de um e de outro. O facto de ter crescido no Sporting fez com que soubesse o que é a cultura deste clube, e Bruno de Carvalho não sabe, mesmo tendo estes quatro anos. Eu não me contento com as vitórias morais.

Bruno de Carvalho não tentou fazer isso com o investimento que fez em Jorge Jesus e no plantel?

Ele teve a sua oportunidade mas não a soube aproveitar. As contratações correram sempre mal. O Sporting em quatro anos contratou mais de cem jogadores. Tivemos exceções, contratámos alguns bons como o Slimani, mas falhámos em cerca de 85%. Está cada vez pior e o último mercado de agosto mostrou isso. Eu tenho um projeto que Bruno de Carvalho não tem, por isso os melhores afastaram-se de Bruno de Carvalho e agora estão comigo. A minha equipa é constituída por pessoas que têm mundo, estamos habituados a viajar e a trabalhar lá fora. Não nos vamos fechar em Lisboa e vamos lembrar-nos dos adeptos espalhados pelo país todo. É por isso que temos uma série de medidas para apoiar os núcleos do Sporting.

Acha que essas pessoas se afastaram por causa da personalidade de Bruno de Carvalho?

Também. Tem uma personalidade egocêntrica do estilo ‘eu ganho vocês perdem’, e isso é terrível para trabalhar em equipa. A minha política de comunicação também será muito diferente. Eu vou estar obcecado pelo Sporting e não pelos outros clubes. Irei defender intransigentemente os interesses do meu clube. Mas falando menos alto e fazendo melhor as coisas, de forma mais discreta. O Sporting está completamente isolado no desporto nacional e assim não consegue lá chegar. Nós vamos ter de ser capazes de trabalhar em conjunto para o futebol português e para o desporto nacional. Bruno de Carvalho não consegue fazer isso porque é fraco. Uma pessoa fraca tem necessidade de mostrar autoridade e que está em guerra. E este tipo de linguagem que associamos ao presidente do Sporting afasta patrocinadores. Não é atraente. As coisas que ele chama a sportinguistas, aquelas cenas ‘cuspiu, não cuspiu?’ O patrocinador tem medo. Bruno de Carvalho diz que tem vergonha de eu ser candidato, mas eu garanto aos sportinguistas que nunca os envergonharei. Os meus pais já morreram, mas vou fazê-los orgulhosos de tudo aquilo que eu fizer no Sporting. Vai ser muito diferente daquilo que os sportinguistas têm visto nos últimos quatro anos. E ainda não falámos da questão dos investidores, que é outra coisa em que Bruno de Carvalho se fechou. Há investidores que são maltratados. Como é possível o Sporting maltratar os nossos investidores?

Estava a dizer que o Sporting desiludiu. Isso não foi porque no primeiro ano criou expectativas muito altas?

Num ano em que o Sporting gasta um recorde de 60 a 70 milhões de euros em massa salarial, as expectativas têm de ser altas. Este ano o Sporting tinha de ser campeão e ganhar títulos. A desilusão seria sempre enorme tendo em conta o investimento que foi feito. Já o ano passado tinha sido feito um grande investimento. Portanto, não nos surpreendeu que o Sporting tivesse tido uma equipa competitiva, era o mínimo. Foi feito também um bom trabalho de base, nomeadamente por Leonardo Jardim e Marco Silva – e Jorge Jesus beneficiou desse trabalho. Em janeiro, Bruno de Carvalho prometeu-nos três títulos este ano e rapidamente nos afastámos dos três.

Bruno de Carvalho disse que não prometeu propriamente…

Ele num dia diz uma coisa e no outro diz outra.

Não gostou que Jorge Jesus tivesse dito que estava a lutar pelo segundo lugar. O treinador não estaria a ter um discurso realista?

Ele faz essa declaração quando empatamos com o Marítimo. Foi muito cedo, ainda faltavam muitos jogos. Eu não gosto de ouvir o nosso treinador dizer isto. É um discurso realista mas de que eu não gosto. Quem lidera deve ser ambicioso. Por outro lado, lembro-me de outra situação extremamente infeliz o ano passado, da dupla Bruno de Carvalho e Jorge Jesus: quando estávamos com um bom avanço, decidiram provocar o Benfica. Aí também ajudámos o nosso adversário a unir-se.

Acha que é por causa dessa posição que é muitas vezes apelidado de ‘candidato benfiquista’?

Eu já desespero! Esse clube fazia muita batota contra nós, portanto eu cresci a não gostar mesmo do Benfica. Esse é mesmo dos últimos nomes que me podem chamar. No estádio houve um sportinguista que me disse ‘Ah seu lampião’. Eu fui ter com ele cara a cara e perguntei-lhe: ‘O que é que você me chamou? Pode chamar-me aquilo que quiser, mas não me volta a chamar isso’ [risos].

Fica satisfeito quando o Benfica perde?

Não vou comentar. A nível nacional, obviamente que sim. A nível internacional, já fiquei mais satisfeito porque percebi que é importante a questão dos pontos. Lembro-me de ser pequenino e o meu pai estar à mesa com muitos amigos, e me perguntarem: ‘É mesmo verdade que tu és contra o Benfica nas competições europeias?’. E eu respondi que sim. Ficaram chocados.

Disse que no mercado de janeiro os jogadores foram ‘despachados’. Se estivesse na posição de Bruno de Carvalho não faria o mesmo?

Eu não estaria na posição de Bruno de Carvalho, porque não teria feito essas contratações todas. Falando com qualquer sportinguista em julho e agosto, estava tudo na expectativa de que estes craques da formação – Iuri Medeiros, Podence, Palhinha, Geraldes – entrassem no plantel. E não percebemos por que não aconteceu. É óbvio que não pode ser só formação, mas estes jogadores tinham condições para triunfar já. O atual treinador disse que apostar na formação era dar um passo atrás. Ora, para quem conhece o Sporting, apostar na formação é sempre um passo em frente, nunca para trás.

Já referiu que vai fazer o contrário de Bruno de Carvalho, que se isola muito em relação aos agentes. Em Setembro, o jornalista italiano Pippo Russo lançou um livro onde fala sobre Jorge Mendes e afirma que este tipo de agentes pertence a uma ‘zona cinzenta’ do futebol…

Jorge Mendes é um dos melhores agentes mundiais, e ainda por cima é português, e eu quero conhecê-lo. No passado, não serviu o Sporting tão bem quanto eu gostaria, houve jogadores que vieram através dele e as coisas não correram bem. Mas não se podem cortar definitivamente os laços com um agente destes. Se ele quiser ajudar o Sporting, iremos trabalhar com ele. Se não, trabalharemos com outros.

Entrevistámos Bruno de Carvalho há cerca de uma semana e ele falou-nos de ameaças e de jogos psicológicos. Acha que está preparado para lidar com isso?

Falei com várias pessoas que estão no mundo do futebol e tenho a perfeita noção de que é um mundo muito complicado. Há coisas que não são sérias, mas há lugar para pessoas sérias. Com a nossa seriedade e competência, vamos desarmar muitas destas coisas. Vai haver um momento ou outro em que, se calhar, a nossa seriedade vai impedir um negócio qualquer, mas a médio e longo prazo será benéfica para o Sporting. Eu já vi muita coisa, portanto não me assusta. Já passei pela área da política, estive três anos no Governo, deu para fazer um trabalho ótimo sem entrar em esquemas obscuros. Quando se percebe que as pessoas são sérias e querem desempenhar um bom trabalho, desarmamos quem não quer trabalhar assim.

Os presidentes dos rivais são pessoas que estão nos cargos há muitos anos. Não tem receio de ser um pouco ingénuo?

Pelo contrário. São pessoas que já apresentam algum desgaste, nomeadamente o presidente do FC Porto. Eu venho com esta alma nova e com a raça leonina, estou no pico da idade e com vontade de fazer coisas. Vou ser um adversário duro para essas pessoas. Tive a sorte de lidar com todo o género de pessoas, sejam presidentes ou primeiros-ministros. As pessoas muito importantes não me impressionam minimamente. Lido com o mesmo respeito com a secretária ou com o presidente de um clube.

Há quem o considere um ‘betinho’ que chega ao futebol. Essa imagem não o pode prejudicar?

Não sei o que é o ‘betinho’. Se for um ganhador, uma pessoa com uma raça grande, com uma forte personalidade, forte espírito de liderança, um grande sportinguista, um homem que fez muita coisa para além do seu trabalho e que tem uma família fantástica, se isto tudo é ser um betinho, então eu sou um betinho. Eu tenho este ar de pessoa simpática, e sou, de pessoa boa, e sou, mas sou um leão cá dentro e sempre o fui na minha vida. Não gosto de passar por cima das pessoas, mas luto intransigentemente por aquilo em que acredito. E acredito muito no Sporting Clube de Portugal. Tenho uma força interior muito grande e é isso que me vai fazer ganhar estas eleições.

Ser ‘betinho’ é, por um lado, alguém que nasce num meio privilegiado e de certa forma protegido, e por outro lado alguém a quem falta uma certa malandrice…

Tive uma família que tinha os seus problemas e as suas dificuldades. Mas é verdade, fui um privilegiado, tive uns pais que eram gente muito boa e me passaram bons valores. Mas cresci muito aqui, no Sporting, dos 11 aos 14 anos, e aí veio a tal malandrice. Também fiz muito voluntariado, andei por bairros de lata e sinto-me bem em todo o lado. Sou tudo menos ingénuo. Adquiri uma outra coisa muito importante, que é não ter medo de enfrentar os problemas de frente. Quando me lancei nisto fui avisado sobre as ameaças que ia ter, ofensas que ia receber, mentiras que iriam dizer sobre mim, o que só me dá mais força. Quando Bruno de Carvalho me chama de imbecil e zero à esquerda, só me dá mais força.

Não acha que o cargo o pode afastar da família?

Vou ter muito bem a noção das prioridades. A minha mulher e a minha família são a prioridade na minha vida. É verdade que não vou ter o mesmo tempo para os filhos, mas também já estão crescidos. Aliás, foi uma decisão tomada em família. Os meus filhos estão preparados para abdicar do pai que tinham, e a minha mulher preparada está para abdicar um bocadinho do marido; mas eu vou continuar a ser eu e vou conseguir gerir tudo. Eu era o melhor aluno da aula, e quando estive no Sporting os treinos eram muito intensos mas não deixei de ser o melhor aluno.

Jogava em que posição?

Era um defesa direito raçudo. O meu treinador viu isso e punha-me a lutar contra os avançados e eu dizia ‘este tipo não vai fazer uma única finta hoje’. Tinha também um pontapé muito forte, marcava os livres e os cantos. Foi uma boa escola, esta cultura e tradição de ganhar sempre mas com desportivismo. Eu já tinha isto mas ficou reforçado depois de crescer nesta cultura do Sporting. É um clube melhor que os outros.

Nem toda a gente concorda com isso…

O Benfica, por exemplo, punha miúdos mais velhos a jogar contra nós. E depois os outros clubes também começaram a fazer isso. Mas o Sporting tinha uma cultura de desportivismo acima da média. A minha referência é António Ribeiro Ferreira, que foi presidente do Sporting durante oito anos e participou em sete títulos. Esta é a minha ambição. Não quer dizer que vá conseguir, mas nunca vou ficar contente com segundos lugares.

Que idade têm os seus filhos?

O mais novo tem 11 e a mais velha 20, tudo seguidinho.

O mais novo é adotivo. Quatro ainda não eram suficientes?

Foi uma bênção que chegou a nossa casa e que nos preenche. Não consigo imaginar a nossa vida sem o nosso mais filho mais novo.

E eles andam no futebol?

Os dois miúdos andam no râguebi. Há um que vai ser bom jogador de futebol de certeza, o outro não sei. O râguebi também é uma boa escola no desportivismo, espírito de equipa… Elas são mais artistas. Fazem muito voluntariado e eu fico contente com isso. São bons cidadãos e boas cidadãs.

Estão também na idade de se divertirem…

Também. Sou daqueles pais que acham às vezes um exagero aquilo que eles têm de trabalhar. É bom que se divirtam. Sempre fui muito independente na minha infância e isso fez-me bem. Estou lá quando é preciso, mas não ando sempre em cima.

Fala com muito carinho dos três anos que passou no Sporting. Por que saiu?

Chegou uma altura em que concluí que o meu futuro não passava por ser jogador de futebol. O meu pai era um grande sportinguista e tinha muito orgulho que eu jogasse no Sporting, mas não me queria influenciar. Só soube mais tarde que ele ia ver vários jogos. Depois comecei a trabalhar muito cedo. Aos 18 anos trabalhei numa fábrica…

O que fazia nessa fábrica?

Fazia um pouco de tudo. Era paquete, espreitava a contabilidade também. Era uma fábrica de moagem, em Setúbal, onde o meu pai trabalhava. Sempre fiz trabalhinhos. Fui babysitter, fiz uma empresa pequena de vendas de camisolas para as universidades, um projeto em que fomos pioneiros, fiz uma escola de futebol…

Guardava algum dinheiro?

Gastava algum, mas também gostava de guardar. Sempre fui muito cuidadoso, para ter a minha independência. Fazia muita questão de não depender dos meus pais. Tinha uma namorada que era multimilionária e quando íamos jantar fora eu é que pagava sempre. Nunca quis aceitar nada. Talvez por ter trabalhado desde muito cedo me tenha casado aos 24 anos. Já era uma pessoa com muita maturidade.

Propõe mudanças no Estádio de Alvalade [colocar todas as cadeiras verdes e um ecrã LED]. Por que sente essa necessidade, sendo um estádio relativamente novo?

É um estádio novo e um bom estádio, mas com vários erros de conceção. A questão do fosso é um erro crasso, a questão de não termos o pavilhão é outro erro e ainda há a questão das claques: se eles querem ver o jogo de pé, por que não criamos condições para o fazerem em segurança? O LED tem que ver com o ambiente. Gosto muito do desporto norte-americano e aquelas luzes criam um certo ambiente. Quanto às cadeiras, para disfarçar os jogos em que esteja menos gente puseram cadeiras de várias cores. Ora, não estamos habituados a isso.

Mas se os lugares estiverem ocupados, as cadeiras não se veem…

Mas quando estamos a entrar no estádio – e eu gosto de chegar cedo – é bonito ver as cadeiras todas verdes. Até para a equipa quando treina lá. Eu tenho os meus lugares de leão, que comprei no princípio do estádio novo, e às vezes é uma discussão para ver quem fica com a cadeira verde.

Quanto vão custar essas obras?

Cerca de 1,5 milhões de euros. Foi o dinheiro que gastámos com o Markovic.

Que está a jogar muito bem agora no Hull City, de Marco Silva…

Está, sim. Agora explodiu. Mais uma promessa do presidente que não foi cumprida. Disse que Markovic ia explodir no Sporting, mas afinal está a explodir noutro clube. Com um grande treinador.

Não acha que Bruno de Carvalho fez um bom trabalho nas modalidades?

Bruno de Carvalho atirou dinheiro para cima das modalidades, um bocadinho a repetir a estratégia de um dos nossos rivais. E não está a resultar. Gastamos muito mais e estamos a ter os mesmos resultados do passado. A equipa de futsal é fantástica, o investimento feito no andebol não está a ter o resultado pretendido, o mesmo acontece no hóquei em patins. Nós vamos trazer uma nova modalidade, o basquete, que já existe nos escalões mais baixos e vai voltar a nível sénior.

Se for eleito, o Sporting marca presença na próxima época na Liga Placard?

Vamos ver. Há um grande interesse da Federação Portuguesa de Basquetebol para que o Sporting entre rapidamente na competição. Estamos a preparar uma parceria com os Boston Celtics.

Onde atuava o Larry Bird…

É a minha equipa nos Estados Unidos, onde eu estudei, e vestem-se de verde. Mas tenho uma história engraçada é com o Michael Jordan. As avós de uns amigos foram a Nova Iorque e estavam cheias de medo porque achavam que aquilo era um perigo. Estiveram lá sozinhas e correu tudo bem. No último dia entram no elevador do hotel e está lá um homem gigante com um cão. A porta do elevador fecha-se e ele diz: ‘Sit!’. E as duas sentam-se – e ele parte-se a rir. No último dia, vão pagar e dizem-lhes que a conta já está paga. E entregam-lhes um bilhete: ‘Obrigado! Eu tenho andado muito em baixo e nunca me ri tanto nos últimos anos’. É com muito prazer que vos ofereço a estadia. Hugs [abraço], Michael Jordan’.