Cavaco is back e volta a ser penoso

Aníbal Cavaco Silva voltou, em livro. Antes em livro do que sob qualquer outra forma. 

O silêncio de Cavaco, remetido ao seu convento onde instalou a sede pós-presidencial, tem sido uma benesse para o povo português. Nunca mais ouvimos nenhum alto dirigente político queixar-se de que a reforma não chegava «para as despesas» e isso é muito bom. A descavaquização do país a que procedeu Marcelo Rebelo de Sousa é também um factor de paz social, aquele valor que a geringonça conseguiu atingir, a par dos extraordinários resultados do défice aplaudidos por Bruxelas. A ausência de Cavaco tem sido fundamental para a descrispação do país – e o facto de Marcelo, com todos os seus excessos, ser um anti-Cavaco, contribuiu muito para isso. Mas não há bem que sempre dure e Cavaco decidiu escrever um livro. É só um livro. Mas tem tantos disparates que nos faz regressar a um tempo que julgávamos ultrapassado. 

Cavaco construiu mundo s paralelos para alcançar os seus objetivos políticos. Um dos mundos que Cavaco habitou foi aquele de se anunciar a si mesmo como um ‘não-político’. Diz Cavaco sobre Mário Soares: «É humano e compreensível que alguém que sempre se viu como um político profissional tivesse dificuldade em digerir que eu que sempre gostei mais de ser visto como professor, que desprezava a intriga política e a sedução aos jornalistas» tivesse sido primeiro-ministro 10 anos e Presidente outros 10. Ora, Cavaco nunca desprezou uma boa «intriga política» (Fernando Nogueira que o diga) e seduziu vários jornalistas. 

A parte que dá para rir às gargalhadas é quando Cavaco atribui a uma manobra do PS o episódio das famosas ‘escutas de Belém’ e acusa o Público de ter sido manipulado por socialistas. A mentira é despudorada. Em 18 de setembro de 2009, o próprio Cavaco dá gás à polémica ao dizer «Deixem passar as eleições e tentarei, de forma discreta, obter informação sobre questões de segurança». Dois dias depois faz uma comunicação ao país de 10 minutos onde se interroga: «Estarão as informações confidenciais contidas nos computadores da Presidência suficientemente protegidas?» para depois anunciar que reuniu com pessoas ligadas à segurança que lhe disseram existir «vulnerabilidades na área da segurança». Cavaco pediu «que se estudassem as possibilidades de as reduzir». É tão mau que até dói. Pelo menos, desta vez não se queixou de ter uma pensão baixa.