Benfica vai a Braga

Historicamente, o Benfica costumava ter em Braga o seu porto de abrigo sempre que subia para lá do Mondego. Agora, isso já lá vai: ir à Pedreira constitui cada vez mais um desafio…

Esta jornada tem jogo grande. Não, não há nenhum encontro entre Benfica e FC Porto, Sporting e Benfica ou FC Porto e Sporting, esses sim os tradicionais grandes do futebol em Portugal – aos quais se tentam, há muito, juntar os outros dois campeões, Belenenses e Boavista, mais o carismático Vitória de Guimarães ou o outro Vitória histórico, o de Setúbal. Enfim: há uns grandes maiores que outros. É um facto. Bem como é factual que, na última meia dúzia de anos, o Braga se intrometeu decisivamente nessa corrida, nomeadamente desde 2009/10, quando discutiu o título com o Benfica até aos últimos minutos da última jornada.

É, pois, um jogo grande aquele que se disputa este domingo. O Braga conquistou esse estatuto com o que foi conseguindo dentro do campo, mas também fora: hoje, a cidade dos arcebispos já não é o bastião benfiquista do norte, como era por tradição até há relativamente pouco tempo. Até aos anos 90, e mesmo ainda na primeira metade da década de 2000, era comum o Estádio 1.º de Maio – e depois já a Pedreira – ter maioria de adeptos… benfiquistas quando as águias lá se deslocavam para enfrentar a equipa da terra. Eram frequentes os festejos dos golos do Benfica na bancada de sócios do Braga. Agora, ainda os haverá, claro. Mas já serão mais abafados, isso é uma certeza.

Três triunfos em 50 anos…

Dizíamos, antes, que a mudança de estatuto do Braga também se foi conseguindo dentro de campo, nomeadamente nos jogos contra o Benfica. E a história está aí para o comprovar: do primeiro embate entre as duas equipas em Braga, que teve lugar em 1948, até à temporada 1998/99, os encarnados de Lisboa somavam 25 vitórias em 42 jogos no reduto bracarense (em jogos para o campeonato). A isto, somam-se 14 empates e míseros três triunfos dos minhotos, sendo que o último deste período aconteceu em 1966, poucos meses depois do brilharete dos Magriços em Inglaterra. E onde é que isso já vai…

A partir de 17 de abril de 1999, porém, tudo mudou. Aí, à jornada 28, o Braga de Manuel Cajuda bateu o Benfica ainda orientado por Graeme Souness – só duraria mais dois jogos – por 2-1, golos de Toni e do central goleador Odair. Eram os anos mais negros da história das águias e, pelo contrário, iniciava-se então um crescimento sustentado do Braga, que poucos meses antes havia chegado à final da Taça 16 anos depois (perdeu 1-3 com o FC Porto).

A esse triunfo, até então tão surpreendente, seguiram-se mais dois em temporadas consecutivas (3-2 e 3-1), sempre com a mão de Manuel Cajuda – no Benfica iam-se sucedendo os treinadores: primeiro Jupp Heynckes, depois Toni.

No primeiro ano de Luís Filipe Vieira na Luz, então ainda como responsável pelo futebol profissional (2001/02), um golo solitário do inesquecível Mantorras valeu o regresso aos festejos das águias em Braga (1-0). Desde então, nos 14 jogos disputados posteriormente para a Liga, o Benfica soma seis vitórias, contra cinco do Braga (três empates).

Números que dão conta de um tremendo equilíbrio, exacerbado ainda mais desde a já referida temporada 2009/10, onde os Guerreiros de Domingos Paciência acreditaram até ao fim no título. Foi precisamente com a vitória na receção ao Benfica (2-0), à jornada 9, em outubro, que o Braga passou para a liderança nessa época – e que só viria a largar vários meses depois. Depois disso, venceram mais duas vezes: em 2010/11 (2-1) e em 2014/15 (idem). O Benfica, por seu lado, soma igualmente três triunfos nestes sete anos: 2-1 em 2012/13, 1-0 em 2013/14 (sempre com Jorge Jesus) e 2-0 na época passada, já sob o comando de Rui Vitória, num dos jogos que começou a marcar a viragem da temporada para as águias, rumo ao tricampeonato.

Só vitórias para o Vitória

Nesta época, benfiquistas e bracarenses já se defrontaram em duas ocasiões, e em ambas foram os primeiros a sorrir: 3-0 para a Supertaça e 3-1 para o campeonato, na Luz, à quinta jornada. Em ambos os duelos, era José Peseiro o técnico dos minhotos; agora está lá Jorge Simão, cuja moral inicial está a esvaziar a cada jogo mal conseguido – os adeptos têm tido dificuldade em perdoar o desaire caseiro no dérbi com o Vitória de Guimarães ou a perda da Taça da Liga para o Moreirense…

Ainda assim, um triunfo pode devolver o Braga à luta por outros patamares: continua a ter na mira o terceiro posto, aquele lugar apetitoso, que ainda vai dando acesso à Liga dos Campeões (mesmo que seja só o play-off) e que neste momento é pertença do Sporting. Os leões, a correr por pouco mais do que isso, recebem um Rio Ave tranquilo – mas não se esqueçam que a derrocada começou precisamente contra os de Vila do Conde…