FC Porto sonhou dois dias… e depois acordou

Tudo levava a crer que haveria novo líder no fim desta jornada, mas Mitroglou decidiu voltar a repor as contas aos 80 minutos, inventando o golo que deu a vitória do Benfica em Braga

Durou dois dias o sonho do FC Porto. Foi esse o período em que os dragões foram líderes, na expetativa de que a águia lisboeta não conseguisse levantar voo em Braga. Mas levantou: o 1-0 da Pedreira, com golo do imparável Mitroglou, devolveu as águias à liderança. Passo de gigante do Benfica, a vencer num terreno que nos últimos anos havia deixado de ser um alegre passeio no parque para os encarnados de Lisboa.

De 1948, ano do primeiro duelo entre as duas equipas para o campeonato na cidade dos arcebispos, até 1999, o Benfica venceu 25 vezes em 42 jogos. Sobram 14 empates… e apenas três vitórias dos minhotos, a última das quais em 1966. A partir de 17 de abril de 1999, porém, tudo começou a mudar: o Braga de Manuel Cajuda bateu o Benfica de Graeme Souness por 2-1, iniciando a inversão da tendência. Olhando para os últimos dez anos, não se podia ser mais esclarecedor: quatro vitórias do Braga, outras quatro do Benfica e dois empates. Até ontem.

Não deixa de ser verdade, também, que este até vinha a ser um adversário simpático para Rui Vitória: no ano e meio que leva ao comando das águias, o técnico ribatejano já havia batido os bracarenses em cinco ocasiões – todas as que os defrontara. Duas das quais já esta temporada: logo no primeiro jogo oficial da época, na Supertaça (3-0), e depois à quinta jornada do campeonato, na Luz (3-1). Some-se mais esta ao pecúlio do técnico campeão nacional.

 

Mitrogolo falha… mas marca As dificuldades para as águias começaram a fazer-se sentir ainda antes do apito inicial, com o registo de confrontos entre adeptos das duas equipas – que terão tido origem quando elementos de uma das claques do Braga encontraram alguns adeptos do Benfica num parque de estacionamento junto ao estádio. Houve agressões, arremesso de pedras e outros objetos… e faltou ação policial, que só chegou bastante tempo depois.

Uma demonstração clara de que Braga já não é o bastião benfiquista do norte, como era tradição até há relativamente pouco tempo. Ainda há benfiquistas na cidade, claro, mas agora já são uma minoria – e seguramente já não festejam os golos das águias na bancada de sócios do Braga…

Primeira parte e três lances apenas que merecem realce. Aos 12 minutos, um remate de Pedro Santos às malhas… laterais. Ainda houve festejos, mas era ilusão de ótica. Depois, aos 30’, um falhanço imenso de Mitroglou: servido por Rafa e na cara de Marafona, o grego (que já havia visto um golo ser-lhe bem anulado por fora de jogo) deu apenas um toque na bola… e mal, atirando por cima. A fazer lembrar outro falhanço em Setúbal – esse bem mais determinante nas contas finais… E aos 37’, perigo claro: após canto de Pedro Santos, Battaglia cabeceou ao poste direito da baliza de Júlio César – ontem na baliza encarnada, pois o super-Ederson estava castigado após a expulsão com o Arouca.

O segundo tempo foi mais… do mesmo. Bom futebol de parte a parte, intensidade, ritmo, pressão… mas pouco a registar em termos de ocasiões. Grande exibição da defesa bracarense, em particular Rosic, com um sem-número de cortes fulcrais. Nota também para Rui Fonte: que grande jogo! A atacar, mas sobretudo a auxiliar em termos defensivos, servindo depois de ligação nas transições, mostrou que está um senhor jogador, cada vez mais completo.

E assim se foi passando o tempo, com avanços e recuos, ameaças de perigo sem a devida concretização. Até que apareceu – claro está – Mitroglou. Perdão: Mitrogolo, que o grego até já deve ter ido fazer um novo Cartão do Cidadão. Nos dez jogos que fez em 2017, soma 11 golos – exatamente o número que já leva neste campeonato, sendo agora o terceiro melhor marcador da prova, em igualdade com o portista Soares. No total da época, já lá vão 20: duas dezenas que fazem dele o artilheiro da equipa. O trabalho no golo é brilhante: descaído para a esquerda da área do Braga, arranja forma – sabe Deus como – de passar pelo meio dos dois defesas que o cercavam e, frio como um icebergue, finaliza de forma subtil na cara de Marafona.

Noventa minutos, saída do herói para o descanso merecido, apito final e Benfica novamente na frente. Já o Braga de Jorge Simão prossegue a série negra: ainda não venceu na segunda volta – já lá vão cinco jogos.

 

Sporting sorri em terceiro Ganhou o Benfica, mas sorriu também o Sporting, que no sábado conseguiu uma vitória feia perante o Rio Ave (1-0), onde o Rui voltou a ser o São Patrício. Com Benfica e FC Porto a superar os seus desafios, resta aos leões o regozijo de ficar cada vez mais sós na defesa do terceiro lugar – apesar de tudo, bastante apetecível, pois ainda vai valendo o acesso ao play-off da Liga dos Campeões.

São agora seis os pontos de vantagem dos comandados de Jorge Jesus para o Braga, e já oito sobre o Vitória de Guimarães, que não foi além de um empate (1-1) no terreno do Belenenses. E assim vai a luta pela Europa, com Chaves e Marítimo a olhar num vislumbre para o quinto lugar dos vimaranenses – está ali a quatro pontos.

Lá em baixo – da classificação, claro está -, tudo na mesma, até porque só hoje entra em campo o Nacional, nos Barreiros com o Marítimo. Não se esperam milagres, mas dérbi é dérbi…