Dos irmãos Cavaco a ‘Palito’. As fugas mais icónicas

Dos irmãos Cavaco a “Palito”, passando pelo Osso da Baleia. No fim foram sempre apanhados

Não é uma situação inédita, mas também não é muito usual no país. As operações de caça ao homem são raras e por isso um rápido exercício de memória coletiva leva-nos a, pelo menos, três casos: a fuga dos irmãos Cavaco, de Manuel Palito e ainda de Victor Jorge, protagonista do caso conhecido como o “Massacre do Osso da Baleia”.

Um fugitivo “invisível”
Antes do caso Aguiar da Beira, a fuga mais recente foi a de Manuel Baltazar, mais conhecido por “Palito”, que esteve 34 dias fugido às autoridades. Condenado em 2015 à pena máxima – 25 anos de cadeia – pelo Tribunal de Viseu, a justiça classificou “Palito” como uma pessoa com “uma personalidade violenta, egoísta, egocêntrica e dominadora”. Foi condenado por quatro crimes de homicídio qualificado, dos quais dois na forma tentada: matou a mãe e uma tia da ex-mulher e tentou matar a ex-mulher e a filha com tiros de caçadeira. 

Os crimes ocorreram em abril de 2014 em Valongo dos Azeites, S. João da Pesqueira. Após os atos, o homicida – que já tinha antecedentes de violência doméstica – pôs-se em fuga. No mês que se seguiu, as zonas envolventes às aldeias de Trevões e Valongo dos Azeites encheram-se de militares da GNR e de agentes da Polícia Judiciária. Os meios de comunicação social em peso seguiram a perseguição: as imagens de patrulhas da GNR a cavalo encheram ecrãs. E rapidamente se percebeu que as buscas estavam para durar. 

Caçador e conhecedor da zona, “Palito” protagonizou uma longa fuga e foi avistado várias vezes por populares. A duração da caça ao homem e os esforços infrutíferos das autoridades foram até alvo de paródias nas redes sociais. 
Acabou por ser detido sem oferecer resistência, muito debilitado, quando tentava entrar na própria casa. Mais tarde explicou que ia buscar mantimentos. A PJ acreditava, na altura, que “havia fortes suspeitas” de que Manuel Baltazar teria “recebido a ajuda de uma ou mais pessoas” durante o tempo em que andou fugido.

A fuga mais mortífera do país  
Aconteceu a 28 de julho de 1986. A cadeia de Pinheiro da Cruz – estabelecimento de segurança máxima em Grândola – foi o cenário da fuga mais mortífera das prisões portuguesas. Seis fugitivos considerados perigosos, armados (até com metralhadoras!), mataram três guardas prisionais e feriram outro. Na fuga fizeram reféns outros três guardas que usaram como escudo para conseguir sair da prisão.

Os fugitivos puseram-se então em fuga. Todos tinham um passado conturbado e penas pesadas: Germano Ramiro Raposinho, de 32 anos, cumpria a pena máxima por homicídio. Vítor Cavaco, também de 32 anos, era conhecido por “Vítor Ameixa”, e tinha sido condenado a 17 anos por roubos. O irmão, José Faustino Cavaco, respondia pela alcunha de “Americano”, e cumpria pena de 19 anos pelo homicídio de um agente da PSP. O grupo de presidiários em fuga completava-se com dois ex-paraquedistas, Augusto José Ramalho e José Fernandes Gaspar, condenados a cinco e a 20 anos por roubos e finalmente Carlos Alberto Ferreira Pereira, condenado a 17 anos por assalto à mão armada. 

“Embora Raposinho fosse, desde o início, apontado como o “cérebro” da fuga, Faustino Cavaco era considerado o mais perigoso dos seis”, de acordo com as palavras que escreveu este verão o Observador, que recuperou o caso no dia em que a fuga cumpriu trinta anos. 

A perseguição tornou-se numa dor de cabeça para as autoridades e a população do Algarve – a região tida como destino da fuga – viveu em sobressalto: pistas falsas, avistamentos em discotecas e restaurantes, houve de tudo, o que não facilitou o trabalho às autoridades.

A 11 de agosto, quatro dos seis fugitivos já tinham sido apanhados. Dois em Lisboa, outros dois após um cerco em Quarteira. Um dos fugitivos, Augusto Ramalho, morreu durante o cerco: ter-se-á, alegadamente, suicidado. Era o ‘game over’ para estes quatro fugitivos, mas para os irmãos Cavaco o jogo das escondidas ainda estava a começar. 

O filme só chegaria ao fim quatro meses após a fuga. A 24 de novembro, os irmãos foram localizados por um agente da PJ perto de Loulé. Tinham tomado de assalto a casa de um jardineiro da câmara, que descreveu depois o cenário. Durante 45 dias, os irmãos viveram ali, coagindo o proprietário, que saía todos os dias para o trabalho, enquanto a mulher e a filha ficavam na moradia. Entregaram-se sem resistência. 

O massacre de Osso da Baleia  
Há 29 anos, Victor Jorge matou em dois dias sete pessoas: cinco na Praia do Osso da Baleia, Pombal e duas (a mulher e uma filha) na Amieira, Marinha Grande. O crime ficaria conhecido por “Massacre do Osso da Baleia” e ainda hoje é tido como um dos mais “horrendos registados em Portugal”.

De acordo com os relatos da época, Victor Jorge, que trabalhava numa agência bancária e nas horas vagas fotografava casamentos, “assassinou a tiro e à pancada naquela praia cinco pessoas que tinham participado numa festa de anos na Guia, Pombal”. Depois deste ataque mortífero no areal, dirigiu-se depois para casa, na Amieira, atraiu a mulher e uma filha a um pinhal próximo onde as matou à facada. A filha mais nova ainda foi ferida, mas segundo se veio a saber terá suplicado ao pai para não a matar e este deixou-a escapar com vida. O homicida, que tinha então 38 anos, fugiu durante dois dias às autoridades. Acabou por ser apanhado em Porto de Mós. Em tribunal, confessou o múltiplo homicídio. A defesa invocou que o réu era inimputável e chegou a alegar “doença mental grave”, pedindo o internamento.  Foi condenado a 20 anos de prisão. Foi libertado em 2005, ao fim de 14 anos preso. Em 2012, quando o crime perfez 25 anos, vivia em Inglaterra e alguma imprensa fez eco de que já teria tentado, por várias vezes, o suicídio.