Mário Caetano. O life coach que pôs o Coliseu a gritar “eu!” [Fotogaleria]

Levou 1500 pessoas ao Coliseu e o seu livro teve uma segunda edição imediata. Depois de ter mudado de vida, alavancado pelo desemprego, Mário dedica-se hoje a mudar a vida dos outros. É como life coach que se apresenta e, em nove anos de trabalho, diz já ter ajudado 30 mil pessoas, incluindo várias figuras…

É domingo à noite. Ana Plácido senta-se num dos lugares da frente, ainda o Coliseu dos Recreios está a começar a receber a enchente. Foi preciso chegar aos 49 anos para sentir que precisava de uma orientação. “Não tenho religião, mas sou zen, medito bastante e sou muito espiritual.” Ana não espera que Mário Caetano lhe dê uma resposta, mas tem esperança que duas horas de palestra sirvam de orientação para uma vida que a preencha mais. “Não sei o que quero, mas sei que quero mudar.”

Parece estar no sítio certo, até porque o lema do congresso é “Wake up” e Mário Caetano tem à sua frente uma plateia à espera de mudar de vida. Não faz milagres, não é um líder religioso e não usa mais do que experiências do seu dia-a- -dia como exemplos, mas a verdade é que, em nove anos dedicados ao life coaching, já lhe passaram pelas mãos 30 mil pessoas, entre elas várias figuras públicas. E é exatamente pela galeria dos famosos que começamos.

O ecrã ilumina-se numa contagem decrescente na qual, depois do zero, começam a surgir pequenos vídeos de Madonna em início de carreira, os primeiros talk shows de Oprah ou Jim Carrey ainda em fase de stand-up comedy. Com frases-chave como “Jim Carrey vive no carro durante meses” ou “Oprah foi violada em criança”, todos são apresentados como exemplos de quem enfrentou adversidades para se tornar um modelo a seguir.

“Está na hora”, ouve-se gritar. Por detrás das cortinas surge uma sombra que se mostra ao público. É Mário, 43 anos, camisa e calças escuras, cabelo comprido apanhado com um elástico e, mesmo sem o impacto de uma Oprah Winfrey, também ele um caso de superação. Mas já lá vamos.

A sala ainda está a aquecer quando o coach pede uma primeira colaboração do público. “Braços esticados à frente, mãos a abanar, façam uma onda e gritem ‘eu!’.” O Coliseu obedece e é desta forma que passa a responder sempre que Mário faz uma pergunta, até porque aqui não há lugar para os tímidos das multidões, aqueles que só se atrevem a murmurar as letras das músicas durante um concerto ou que nunca tomam a iniciativa de se levantarem para aplaudir de pé.

Da banca para o life coaching 

Mário faz da sua vida uma forma de contar histórias, até porque antes de se dedicar a mudar a vida dos outros também a sua levou uma grande volta. Começou por estudar Gestão de Bancos e Seguros, mas acabou por desistir no terceiro ano. Passou pela área do fitness e de instrutor de ginásio passou a diretor de uma multinacional. A experiência de mudar a parte física dos seus alunos motivou-o a estudar como poderia mudar tudo o resto. Foi aí que conheceu o conceito de life coaching e, um ano depois, era já certificado na área.

Demitiu-se para se dedicar a três startups que fecharam rapidamente. Em 2007 viu-se falido, sem ter sequer como sustentar as três filhas. “Até dinheiro emprestado tive de pedir para comprar os ténis para começar a correr”, conta, criando assim empatia com um público que vai acenando com a cabeça a cada dificuldade relatada. E foi exatamente a corrida uma das alavancas que o fizeram apostar em si. “Comecei a correr maratonas e ultramaratonas, o que nos dá muito tempo para pensar.” Passou a investir em si, nas filhas e na companheira. “Para mim não há mulher nem namorada, as companheiras são como as andorinhas, ficam juntas toda a vida.” Está dado o mote para mais uma ovação.

Aproveitou a certificação em life coaching e começou a mudar vidas, mais de 30 mil se quisermos ser ligeiramente mais precisos. Pelas suas mãos passaram já várias figuras públicas, mas são poucas as que querem dar a cara. O apresentador João Paulo Rodrigues foi um deles e até se predispôs a apresentar o livro que Mário lançou recentemente. “Não sou escritor, longe disso”, avisa, “mas esta foi a forma de compilar as respostas que dava diariamente a quem me procurava através das redes sociais.” “Abre – 199 mensagens para libertares a tua vida” teve segunda edição imediata e, tendo em conta a fila para comprar mais um exemplar à saída da sessão, talvez seja melhor dizer à gráfica para começar a aquecer motores.

Mudar de vida 

“’Tás a gostar?”, ouve-se da bancada de trás. Com 18 anos, é difícil decifrar se o ar entediado é crónico ou momentâneo, mas Stefan garante que não veio obrigado. “A minha mãe acha que eu preciso de ajuda e se calhar preciso mesmo.” Para Florinda, nada da vida do filho é mais importante que os jogos de computador “e assim não pode ser”. “A minha família acha que eu devia tirar um curso, mas eu quero é trabalhar”, conta. “Eu quero é que ele se oriente, que seja feliz”, admite Florinda, baixando a voz quando a luz se apaga para dar continuidade ao espetáculo.

“Quem está gostar de estar aqui?” Mais uma vez, braços esticados, mãos à abanar e um grito “eu!”. A plateia continua com Mário e ele aproveita a deixa para pôr todos a pensar com este desafio: “Procura as coisas que te entusiasmam e troca-as por aquilo que fazes por obrigação.” Ainda não acabou a frase e já a plateia responde com palmas. Pelos “eus” que se ouvem em resposta ao “quem vai trocar o que faz por obrigação por algo que lhe dê prazer” esperam-se muitas cartas de demissão nas secretárias dos patrões esta semana.

Ana Plácido, que encontramos no início, pode bem ser um desses casos. “Tenho de encontrar a minha tribo”, garante. As duas horas a ouvir Mário Caetano serviram para acentuar a vontade de deixar o emprego na área das energias para se dedicar a ajudar os outros. “Sinto que o voluntariado é a minha missão”, admite.

E já que falamos em ajudar, vamos finalizar com agradecimentos. Mário pede a todos que fechem os olhos e agradeçam por tudo o que lhes aconteceu na vida, “até pelo desemprego”. Depois de alguns segundos de silêncio, veem-se os primeiros olhos a entreabrir-se na curiosidade de ver como acaba, mas nem mesmo depois de uma sessão de palmas e “eus” ditos em voz alta alguém está preparado para a explosão de papelinhos brancos e dourados que caem sobre o público e marcam o fim da atuação. Ainda com a plateia a recompor-se do susto, há alguém bem ao fundo, num dos camarotes mais longe do palco, que grita “Mário, obrigada!”. Bom, parece que a lista de 30 mil pessoas deste coach ganhou um novo membro.