E se não estivermos sozinhos no universo?

A NASA anunciou para hoje uma revelação sobre uma descoberta fora do sistema solar. Se fossem mesmo extraterrestres, era possível que a notícia surgisse numa conferência de imprensa destas?  

“Não são extraterrestres. Nunca são extraterrestres. Parem de dizer que são extraterrestres”. O site “Mashable” titulou com humor a notícia sobre a revelação que a NASA promete fazer hoje sobre uma descoberta fora do nosso sistema solar. Como é habitual, o pré-anúncio de novidades gerou logo rumores. A confirmação de sinais de vida fora de Terra, embora os cientistas acreditem que mais tarde ou mais cedo irão aparecer, é um cenário improvável. Ainda assim, se fosse isso, era suposto que a notícia chegasse assim? Até era.

Em 1989, a Academia Internacional de Astronáutica adotou uma declaração de princípios que estabelece que caso alguém detete um sinal de inteligência extraterrestre, o indivíduo ou a instituição pública ou privada por detrás da descoberta deve avaliar explicações plausíveis para essa observação antes de fazer qualquer anúncio público. Devem ser descartadas as hipóteses de o sinal ter sido causado por outros fenómenos naturais ou interferência humana.

Mesmo antes do anúncio, todas as entidades que subscrevem a declaração devem ser informadas, de forma a que o sinal seja validado por outros. Devem também ser informadas as autoridades nacionais relevantes.

Quando a academia, até aqui remetida ao silêncio, concluísse que o sinal era credível, deviam ser informadas a União Astronómica Internacional e o secretário-geral das Nações Unidas (sim, Guterres seria um dos primeiros a saber).

Logo que a notícia estivesse confirmada, deveria ser veiculada ao público. E o autor da descoberta deveria ter o privilégio de fazer o primeiro anúncio público, o que sugere que haveria uma conferência de imprensa onde estariam astrónomos – o que é o caso da que ocorrerá esta tarde. 

Embora esta declaração de princípios não tenha um caráter vinculativo, é o documento mais vezes citado nesta área.

Já o Tratado do Espaço Exterior, adotado em 1967, estabelece que os Estados Membros devem informar de imediato os outros países e o secretário-geral das Nações Unidas caso descubram algo no espaço, incluindo lua e outros corpos celestes, que constitua perigo para a vida ou saúde dos astronautas. Até à data não há um protocolo fechado para um cenário de contacto nas Nações Unidas, mas a ONU tem uma agência dedicada aos assuntos espaciais, liderada por Simonetta Di Pippo. Pela atividade recente desta responsável nas redes sociais, a excitação com o anúncio da Nasa não é muita. "A palavra italiana para espaço é 'spazio'", escreveu, num desafio lançado pela UNOOSA a propósito de hoje ser o Dia Internacional da Língua Materna.

Até à data foram descobertos 3576 planetas fora do sistema solar. O anúncio da NASA está marcado para as 18 horas.

Em 2015, Ellen Stofan, cientista da NASA, afirmou que os esforços da agência espacial na busca de vida fora da Terra poderiam dar frutos no espaço de uma década. “Penso que teremos fortes indicadores de vida fora da Terra dentro de uma década e evidência definitiva no espaço de 20 a 30 anos. Sabemos para onde olhar e como olhar.”

Na conferência de imprensa desta tarde estarão Thomas Zurbuchen, responsável pelo departamento de missões científicas da NASA em Washington; Michael Gillon, astrónomo belga; Sean Carey, responsável pelo Centro Spitzer na Califórnia; Nikole Lewis, do Instituto de Ciência de Telescópios Espaciais em Baltimore e Sara Seager, professora de ciências planetárias no MIT.

A sessão poderá ser acompanhada em direto nesta página