Churchill tinha o 6.º ano

O grupo era de jovens, homens e mulheres de idades variáveis, para os quais a coisa pública não tem dono.

as crianças chapinhavam na água, enquanto os pais falavam de mágoas e esperanças:

– foi o regime democrático que se deteriorou, perante a nossa passividade.

– a democracia representativa já não representa ninguém. é a reprodução do que as máquinas partidárias constroem e depois veiculam.

– a corrupção atravessa transversalmente as várias estruturas do poder… e não acontece nada. nem nos eua isto é permitido, todos sabemos o que aconteceu ao madoff.

– em portugal, as formas de corrupção atingem uma clareza escandalosa. contava a arquitecta helena roseta, num programa de grande audiência, que nos anos 90, sendo ela bastonária da ordem dos arquitectos, o actual ministro adjunto a chamou, na qualidade de secretário de estado, para propor à ordem a que ela presidia a gestão de fundos europeus para formação contínua de arquitectos a nível nacional. ficou muito contente. a única condição veio no final. o trabalho devia ser adjudicado a uma empresa específica, na qual trabalhava o ora primeiro-ministro, dr. passos coelho. a bastonária recusou.

– o grave, no último caso do relvas, não é o facto de o homem ter ‘comprado’ um canudo, é o facto de uma entidade que se chama universidade o ter passado, com base numa lei que tinha claramente outros objectivos.

– churchill possuía apenas o sexto ano de escolaridade e foi um dos estadistas que marcaram a história colectiva da europa, num dos momentos mais graves da nossa vida colectiva no século passado.

– o presidente lula não tem com certeza mais escolaridade formal e conduziu o brasil, país/continente a sair do estatuto de subdesenvolvimento, para o de potência emergente.

– a política é uma causa nobre, que de tão mal frequentada afasta as melhores das nossas cabeças, que emigram ou mergulham em trabalhos de excelência e não querem ouvir falar dela.

– o pior, na minha perspectiva, é vermos no discurso do presidente da jsd (um dos viveiros dos futuros dirigentes políticos), o aceitar esta forma de estar e construir a política como perfeitamente normal.

– precisamos dar a volta nisto.

– não me falem na tomada do poder pelos militares. vivemos em democracia, que se saiba não há chapeladas durante as eleições, temos é de encontrar novas formas de fazer política.

– sim, de fazer. já ninguém acredita em discursos, tiramos o som à televisão.

– experimentar novas formas de pôr os cidadãos a gerir as suas próprias vidas. experimentar e avaliar localmente, para propor a gestão global das experiências que tenham provado ser eficazes.

– no exercício do poder político só deviam estar homens e mulheres que não precisem desse estatuto para ser gente. que saibam fazer qualquer coisa na vida diferente do alternar entre o poder e o conselho de administração de qualquer grande empresa, cujos negócios dependem do estado.

as crianças vinham de vez em quando pescar um chocolate da mesa dos crescidos.

a inovação estava a passar por ali. a brisa intensa do fim de tarde fazia voar as folhas velhas, e só as novas se mantinham nas árvores.

catalinapestana@gmail.com