22 Janeiro de 1961. Santa Liberdade

Na madrugada do dia 22 de Janeiro de 1961, um grupo de 23 exilados políticos, comandados pelo capitão Henrique Galvão, uma espécie de herói romântico do anti-fascismo, tomou de assalto o paquete Santa Maria que acabara de largar do porto de Curaçao, nas Antilhas Holandesas, e rumava a Miami com 600 passageiros e 350 tripulantes…

O golpe foi espectacular e atraíu a atenção de toda a imprensa internacional.

Poucos meses antes, Henrique Galvão também fora protagonista de uma fuga do Hospital de Santa Maria onde se encontrava hospitalizado sob vigilância. Santa Maria foi um nome que ficou ligado à sua vida.

Entre 22 de Janeiro e 2 de Fevereiro, o navio esteve à mercê dos revolucionários.

Jorge Soutomaior, um herói republicano da Guerra Civil de Espanha, foi o responsável pela operação militar da tomada do Santa Maria. No ataque, o piloto Nascimento Costa, que opôs resistência, foi morto e outros oficiais ficaram feridos. Henrique Galvão comandava a operação política.

De imediato, António Salazar quis que a comunidade internacional o apoiasse na acusação de pirataria. Os Estados Unidos tomaram uma posição clara: acto de beligerância legítima.

A bordo, os rebeldes decidem mudar o nome do paquete: estendem uma faixa que diz Santa Liberdade.

Auto-intitulam-se Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação. Soutomaior é um dos defensores da independência da Galiza.

A intenção de Galvão era conduzir o navio para a ilha de Fernando Pó, no meio do Atlântico, e seguir depois para Luanda onde se avançaria quixotescamente para uma guerra que deveria ter como consequência o derrube dos regimes fascistas de Portugal e Espanha.

O golpe falhou. Acompanhado à distância por navios de guerra norte-americanos, o Santa Liberdade acabaria por se dirigir ao Recife. Henrique Galvão exilou-se no Brasil onde viria a morrer nove anos mais tarde.

O Santa Maria foi recebido em Lisboa no centro de uma impressionante manifestação de apoio ao Regime levada a cabo pelo governo português. O próprio Salazar esteve presente na Doca do Conde de Óbidos. Proferiu um discurso emocionado: “Portugueses! Já temos connosco o Santa Maria”. Recuperara um navio mas perdera muita da sua protérvia.