Morar no centro da cidade ‘não passa de um sonho’ para a maioria dos portugueses

O turismo, principalmente o alojamento local, está a empurrar os portugueses para fora das cidades. As ofertas na periferia são as únicas que respondem às suas condições financeiras.  

Os preços dos imóveis que estão a ser praticados nas grandes cidades – tanto no arredamento como na compra – estão a empurrar os portugueses para a periferia. O alerta é feito por Ricardo Sousa, CEO da Century21 Portugal, em declarações ao SOL. E dá exemplos: o valor médio dos imóveis em venda na área metropolitana de Lisboa está acima dos 250 mil euros enquanto o valor médio da procura, onde estão a ser feitas transações, ronda os 148 mil euros. «Está aqui um gap enorme e isto está a fazer com que se assista a uma deslocação das famílias para os mercados periféricos da cidade e isso é visível em todo o território nacional. Se o poder de compra não aumentou, até pelo contrário tem diminuído, a sua capacidade de compra ou de arrendamento mantém-se», diz.

Esta tendência faz com que uma pessoa que tenha apenas 500 euros para gastar num arrendamento ou 150 mil euros para a compra de casa vai ter obrigatoriamente de se afastar de Lisboa ou do Porto e optar pelos mercados mais periféricos. « Arrendar uma casa por 500 euros na cidade em Lisboa não passa de um sonho, não existe essa oferta. O mesmo acontece no Porto. Precisamos de ir para Gaia, Maia, Odivelas, Loures, etc.», acrescenta o responsável. 
O mesmo acontece com a compra de um imóvel. Uma família que só pode gastar até 200 mil euros e se precisar de uma casa com três quartos e pretender uma área em torno dos 100 metros quadrados não consegue encontrar essa oferta na capital e tem de começar a afastar-se, por exemplo, para a linha de Sintra ou de Cascais à procura de soluções. «Mesmo os apartamentos em Lisboa que aparecem mais em conta têm menos de 60 metros quadrados. Se for um casal solteiro ou com um bebé pequeno ainda funciona, mas se for um casal com um filho maior ou com dois filhos já não funciona, ou pelo menos, não é tão apelativo para as necessidades dessas pessoas», lembra Ricardo Sousa.  

E de acordo com o responsável, é tudo uma questão de contas: é encontrar um T3 por 150 mil euros fora da cidade ou um T3 dentro da cidade por 300 mil euros. «Estamos a falar de diferenças importantes», lembra. 
Tudo isto faz com que as mediadoras sejam «obrigadas» a gerir expectativas, daí o ciclo entre analisar o mercado, ver imóveis e fazer a escritura demora cerca de 12 meses. Geralmente começa pelo sonho dos clientes quererem viver nas grandes cidades, mas vão ganhando consciência de que não é viável e começam a procurar em outras zonas, ajustando a sua pesquisa áquilo que é a sua capacidade real de compra. «Temos uma primeira reunião com os clientes para fazer a avaliação financeira, perceber as necessidades e há muitas vezes uma grande falta de informação, com diferenças entre aquilo que quero e aquilo que consigo pagar», refere o CEO da Century21. 

A partir daí cabe à mediadora fechar esse gap para fazer uma short list de imóveis que se enquadram nas necessidades dos clientes e que consigam pagar. «Por exemplo, passam de uma fase em que querem comprar uma casa em Campo de Ourique, mas acabam por ter de comprar em Linda-a-Velha ou em Carnaxide.  Avalia-se a proximidade com os transportes, com as escolas e perceber o que cliente valoriza, por exemplo, jardins, parques infantis para encontrar isso em zonas periféricas», acrescenta. 

Zonas ‘proibidas’

Esta falta de oferta ganha ainda novos contornos quando falamos do mercado de arrendamento, uma vez que tanto a construção nova com a da reabilitação destinam-se não só ao segmento de luxo, mas principalmente ao turismo. Isto porque muitos dos imóveis e edifícios que estavam destinados à utilização residencial têm vindo a ser convertidos para alojamento local ou edifícios turísticos, como hotéis e hostels. 

«A oferta do arrendamento acaba por diminuir substancialmente, o que faz com que os imóveis que ainda tenham como destino o arrendamento tradicional apresentem cada vez mais valores mais altos e inflacionados», garante. 
De acordo com o Ricardo Sousa, o Castelo, Bairro Alto, Chiado, Avenida da Liberdade – e as suas perpendiculares que eram zonas que não existiam para o mercado residencial – e em algumas zonas de Santos é quase impossível arrendar ou comprar porque há falta de oferta e quando há tem como destino o segmento alto ou o mercado turístico. O mesmo acontece no Porto entre a baixa e a Campanhã. «E estamos a falar de zonas que há uns anos atrás estavam abandonadas, era quase um crime o estado em que estavam», recorda o responsável.

Também a zona do Algarve continua a sentir essa pressão de preços. Os pequenos e médios investidores, que estavam a entrar na cidade de Lisboa e do Porto, como os preços tornaram-se menos atrativos, começaram a direcionar-se para o sul e para outras zonas da costa para o mercado de segunda habitação. «Isto faz que o cliente de primeira habitação no Algarve comece a sentir uma pressão de preços não só por causa da procura internacional, mas também por causa da procura nacional de segunda habitação. Mas, ainda em outra escala, não está aos níveis de Lisboa e do Porto», conclui. 

A mediadora apresentou os resultados esta sexta-feira da operação no ano passado. A facturação  superou os 25 milhões de euros, o que representa um aumento de 36 % face aos 20 milhões de euros registados no mesmo período do ano anterior. Nos doze meses de 2016 foram realizadas mais de oito mil transações de venda de imóveis, o que traduz um aumento de 11% no número de transações, em relação às 7250 efectuadas no período homólogo. No ano passado, os negócios mediados na rede da marca cresceram 26% para os 593 milhões de euros.O valor médio de venda dos imóveis, a nível nacional, situou-se nos 148 mil euros e cresceu 14% face à média de 130 mil euros verificada em 2015.