O domínio dos factos alternativos no momento político presente é maçador. Nos dois lados da barricada, a verdade passou a ser uma coisa relativa, consoante estejam em causa ‘os nossos’ ou ‘os outros’.
O desaparecimento de 10 mil milhões de euros durante os anos da troika para paraísos fiscais – sem que tenham sido divulgados publicamente – é um assunto que deve preocupar qualquer cidadão. E deve ficar ainda mais preocupado ao saber, como divulgou o Diário de Notícias esta semana, que a Autoridade Tributária propôs em 2012 ao então secretário de Estado Paulo Núncio a publicação dos dados das transferências para offshores relativos a 2011, mas o governante limitou a escrever «visto» no seu despacho. A Autoridade Tributária interpretou – o que faz sentido, digamos – que esse «visto» não significava uma autorização de divulgação, antes pelo contrário.
Núncio veio justificar-se por escrito ao mesmo jornal afirmando que a culpa da ocultação das estatísticas é do fisco, uma vez que «o despacho de visto não é uma oposição à respetiva divulgação, uma vez que a Autoridade Tributária já estava obrigada a publicar estatísticas com base no despacho do meu antecessor».
Ontem, Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, veio associar o ‘desaparecimento’ do dinheiro à existência de uma lista VIP na administração fiscal. «A existência de uma lista VIP condicionou severamente a investigação. É grave, aconteceu e ainda existem consequências», disse o presidente do Sindicato para quem «há uma grande coincidência temporal. Até 2011 há comunicação, entre 2011 e 2014 não há comunicação nenhuma, e essas comunicações retomam em 2015» É bom que se investigue tudo.