EUA. Democratas escolhem latino para enfrentar furacão Trump

O ex-secretário do Trabalho de Obama, Tom Perez, tornou-se no primeiro latino a ser eleito como líder do Comité Nacional Democrata

Em plena crise de identidade e de confiança, em grande parte resultante da derrota eleitoral imprevista de Hillary Clinton contra o atual presidente, Donald Trump, em novembro do ano passado, o Partido Democrata norte-americano deu, no sábado à noite, um primeiro e importante passo, rumo a um novo futuro e com os olhos já focados nos próximos combates políticos – a começar pelas eleições intercalares de 2018. 

Na batalha eleitoral interna pelo cargo de chairman do Comité Nacional Democrata (DNC) digladiaram-se, em Atlanta, no estado da Georgia, sete candidatos – Pete Buttigieg, mayor de South Bend, e um dos favoritos, retirou-se da corrida pouco antes antes do início da votação – e, após uma segunda ronda, Tom Perez derrotou Keith Ellison e garantiu o tão almejado posto, tornando-se no primeiro americano de ascendência latina a ser escolhido para liderar os democratas.

“Quando lideramos através dos nossos valores e das nossas ações, somos bem-sucedidos”, defendeu Perez, citado pela CNN, na hora de celebrar a vitória, admitindo que o seu partido sofre de uma “crise de confiança e de relevância”, que terá de ser rapidamente ultrapassada, para se poder fazer frente ao estilo de governação e comunicação da atual administração republicana. “Necessitamos de uma direção partidária que, para além de dar luta a Trump, lidere uma mudança cultural dentro do Partido Democrata”, defendeu, para depois acrescentar que os protestos que se seguiram ao dia de tomada de posse do presidente são “muito mais importantes para a América” do que o ato de investidura.

Filho de imigrantes dominicanos, o antigo advogado de direitos civis de Buffalo (Nova Iorque) e ex-secretário do Trabalho da administração de Barack Obama, era o candidato favorito do establishment democrata, e como principal opositor tinha Keith Ellison, um congressista muçulmano e afro-americano, eleito pelo Minnesota, que contava com o apoio da ala mais à esquerda do partido e com nomes como Bernie Sanders ou Elizabeth Warren.

Depois de uma primeira ronda, na qual ficou a um único voto dos 215 necessários para ser eleito chairman, Perez acabou por derrotar Ellison, numa segunda votação, ao obter 235 votos, contra 200 do seu adversário. 
Garantida a vitória e o cargo de líder da máquina partidária democrata, Perez decidiu oferecer ao partido (e ao país) uma imagem de união e convidou imediatamente Keith Ellison para ocupar o posto de vice-chairman do DNC, uma oferta alegremente aceite pelo derrotado. “Se vieram até aqui para me apoiar, como uma t-shirt do Keith (…), peço-vos para darem tudo o que têm para apoiar o chairman Perez. Não nos podemos dar ao luxo, amigos, de sair desta sala divididos”, pediu Ellison, citado pelo Politico.

O primeiro foco da nova dupla, representante da tal diversidade norte-americana que o Partido Democrata tanto tem defendido e apregoado, será, então, definir uma estratégia sólida, que permita à oposição recuperar a maioria das duas câmaras do Congresso dos EUA, nas eleições intercalares de 2018, e, dessa forma, cimentar uma base de combate político que lhe permita desafiar a admnistração Trump.

“Somos o partido que converte as dúvidas em sonhos, somos o partido da inclusão e da oportunidade”, defendeu Perez, antes de confirmar o principal reto para os próximos meses: “Estamos todos juntos nisto, para derrotar o pior presidente da história dos Estados Unidos”.