O Paulo (que) Ralha e a geringonça passa

1.Falaremos sobre a questão de fundo das offshores em próxima prosa: hoje, porém, chamamos a atenção das caríssimas leitoras e caríssimos leitores, para uma personagem central neste episódio e que (como sempre!) tem passado despercebido: referimo-nos a Paulo Ralha. 2.O apelido faz jus à personagem, pois, de facto, Paulo ralha muito quando o Governo é…

1.Falaremos sobre a questão de fundo das offshores em próxima prosa: hoje, porém, chamamos a atenção das caríssimas leitoras e caríssimos leitores, para uma personagem central neste episódio e que (como sempre!) tem passado despercebido: referimo-nos a Paulo Ralha.

2.O apelido faz jus à personagem, pois, de facto, Paulo ralha muito quando o Governo é de centro-direita – e serve sempre com mestria os interesses da esquerda quando o Governo é de esquerda.

Mais uma vez, a história repetiu-se: a geringonça encontrava-se aflita em virtude do episódio das mentiras sucessivas de Mário Centeno e António Costa (com a cumplicidade de Marcelo Rebelo de Sousa) sobre o episódio da Caixa Geral de Depósitos quando magicamente aparece a informação de que não foi divulgado o Relatório de movimentações financeiras para paraísos fiscais.

3.E quem apareceu logo na RTP a comentar esta polémica tão empolada pela comunicação social  em apoio inequívoco de António Costa? Pois bem! Paulo Ralha, claro! E já condenou todos os que não sejam da geringonça! Paulo Núncio, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Pedro Passos Coelho – eis os “hateful four”, os “quatro odiados”, não de Quentin Tarantino, mas de Paulo Ralha.

4.Quem é, afinal, Paulo Ralha, essa personagem que tem um poder tão inusitado quanto perigoso para a democracia portuguesa?

Ora, Paulo Ralha é Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Fisco, uma das estrelas favoritas do site “esquerda.net” (o órgão de propaganda oficial do Bloco de Esquerda), foi candidato a deputado do Bloco de Esquerda pelo círculo de Braga nas últimas legislativas; é um grande admirador de António Costa, tendo sido um apoiante desde a primeira hora do entendimento do Bloco de Esquerda com o PS para viabilizar uma solução governativa.

5.E dizem-nos que Paulo Ralha e António Costa vão tendo umas conversas informais ocasionais – gostando o nosso Primeiro-Ministro geringonçado de falar com o sindicalista para “absorver os seus conhecimentos derivados da sua experiência no trabalho com a máquina fiscal”. Acresce que Paulo Ralha, na mesma entrevista à RTP logo a seguir à divulgação da notícia pelo “Público”, veio explicar-nos que tudo se deve à “lista VIP”: trata-se, numa visão global, de um esquema montado por Paulo Núncio (e os malandros Passos Coelho e Paulo Portas) para esconder as transferências financeiras de bancos portugueses para offshores.

6.O que é deveras curioso é que Paulo Ralha escolha sempre cirurgicamente os momentos políticos para divulgar estas informações. Assim foi no caso das alegadas dívidas de Pedro Passos Coelho à Segurança Social. Assim foi no caso da Lista VIP. Assim foi no caso da não divulgação do relatório sobre transferências para offshores agora. 

7.1.Vejamos: quanto ao caso das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social, esta informação surgiu num momento de proximidade com as eleições legislativas de 2015 , em que António Costa revelava dificuldades de afirmação política como líder do PS.

7.2.No que respeita ao segundo caso – caso da Lista VIP – coincidiu com o processo de fragilização de António José Seguro como líder do PS e serviu os interesses da campanha de António Costa para as primárias socialistas.

7.3. Agora, é mais do mesmo filme – esta questão das offshores é divulgada intencionalmente para aliviar a pressão sobre António Costa e Mário Centeno, bem como do PCP e do BE, acossados com a sua oposição à constituição da Comissão de Inquérito à rábula da Caixa Geral de Depósitos.

Senão, como explicar que a mesma notícia passe despercebida  há mais de um ano e meio quando foi capa do mesmo jornal – e agora possa gerar tamanha controvérsia política?

8.Se Paulo Ralha já tinha esta informação há muito tempo como alega, por que não a denunciou mais cedo? E naõ exortou os seus colegas a apurarem, dentro dos (inúmeros!) mecanismos que a lei já lhes faculta a verificar a legalidade das transferências? Ou fizeram-no, não há problema ou há apenas um problema marginal – e o objectivo deste “sururu” é exclusivamente político? 

9.Deixemo-nos de rodeios: o momento da publicação da notícia (pela segunda vez!) não foi acidental – foi pensada para desviar as atenções das mentiras de Mário Centeno, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Alguém acredita que tenha sido uma coincidência – como alega o director do Público – que a capa deste jornal, sobre este tema, tenha sido no mesmo dia em que António Costa iria ser confrontado, no Parlamento, com as trapalhadas da Caixa?

Ninguém acredita! Nem uma criança de cinco ou seis anos, na sua ingenuidade pueril, consegue comprar a versão vendida pelo director daquele jornal!

E ainda vêm estes “sábios” falar de “factos alternativos” e da “pós-verdade”? Como escreveu aqui um leitor na caixa de comentários (sim, o SOL é um jornal livre e plural, que não fecha as caixas de comentários!), “em Portugal, não há pós-verdade: há apenas pró-mentira!”.

É isso mesmo: Portugal vive há muitas décadas na pró-mentira.  Este é apenas mais um episódio.

10.Pois bem, importa colocar uma questão decisiva para a qualidade da nossa democracia: poderá um funcionário, militante do Bloco de Esquerda e admirador de António Costa, usar informação recolhida no exercício das suas funções, que pertence ao Estado, para servir os interesses políticos dos seus camaradas e perseguir adversários políticos?

11.A resposta é claramente negativa: não podemos, sob pena de colapso da nossa democracia, consentir que, na estrutura administrativa do Estado, surja uma “administração oculta”, livre de escrutínio, sem se submeter a qualquer tipo de responsabilidade política, que usa os mecanismos do Estado para se perpetuar no poder (a si e aos seus interesses).  Com a agravante de ser dominada pela extrema-esquerda – e a “geringonça” permitiu que este poder oculto esteja a crescer de forma avassaladora e inusitada.

12.Impressionante é como é que ninguém se lembrou – nem PSD , nem CDS – de chamar o Sr. Paulo Ralha ao Parlamento para prestar declarações sobre o caso das transferências. Então, o senhor está disponível para esclarecer os portugueses na RTP, assassinando o carácter de políticos do anterior executivo – mas não está disponível para prestar, sob juramento, esclarecimentos na Comissão de Inquérito parlamentar?

Paulo Ralha é uma peça chave neste processo: para percebermos o “pântano” em que se transformou a administração pública portuguesa.

13.Enfim, o mais censurável é a cumplicidade de alguns jornalistas com agendas político-mediáticas de certas personagens e partidos.

Aqueles que deveriam defender a verdade e a independência – colocam-se em papéis muito tristes que, infelizmente, não diminuem apenas os próprios: diminuem uma profissão sem a qual não há democracia.

Triste. Muito triste!

joaolemosesteves@gmail.com