Núncio mentiu e é preciso investigar

Núncio não negou três vezes. Apenas duas. A sua explicação ao Diário de Notícias a atirar para cima da Autoridade Tributária as culpas pela não publicação das estatísticas do dinheiro que saiu do país é um monumento de despudorada hipocrisia e de total irresponsabilidade política. 

É  preciso que isto fique bem claro: quando Núncio, no sábado, depois do desmentido do então diretor-geral dos Impostos, vem assumir «responsabilidade política» faz uma fraca figura. Assumir uma responsabilidade no dia seguinte a uma irresponsabilidade não prenuncia nada de bom. E aconteceu o péssimo. Pelo meio, a nova líder do CDS-PP acabou colada a uma polémica a que não está necessariamente associada, ao anunciar ao mundo que Núncio mostrou «uma grande elevação de carácter». Assunção Crista perdeu uma excelente oportunidade de causar uma melhor impressão , porque se o país deve a Núncio uma elevada recolha de impostos a que os portugueses estiveram sujeitos durante os tempos da troika, Núncio deve pelo menos uma coisa ao país: a verdade. E essa ainda não apareceu. 

Que quis dizer Núncio quando, finalmente, assumiu ser sua a decisão de não publicar a lista da fuga de capitais para offshores – um procedimento considerado fundamental pelas instâncias internacionais exactamente para combater crimes como o do branqueamento de capitais  – quando no Parlamento afirmou que o seu objetivo era não beneficiar «o infractor». Quem era o infractor? 

Não se percebe nada desta história e é fundamental que se perceba. Existem indícios de que parte do dinheiro que saiu do país partiu do universo BES. É fundamental que se esclareça tudo – e a palavra de um homem que diz uma coisa na sexta-feira, outra no sábado e ainda uma nova tese na quarta-feira, infelizmente, deixou de ter validade. A começar por aquela declaração em que o antigo secretário de Estado afirma  ter decidido tudo sozinho, à margem dos seus ministros, Maria Luís Albuquerque e Vítor Gaspar. Só um secretário de Estado dotado de poderes de super-homem toma uma decisão política destas sem consultar a tutela. E, lamentamos, isso não existe em Portugal.