Depois da CGD, a NOS: as sete vidas de António Domingues

Poucos meses depois de abandonar a liderança da Caixa, vai agora assumir funções de administrador na NOS

O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai para administrador não executivo da NOS. A informação foi avançada pela empresa em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), ao revelar que o conselho de administração deliberou “cooptar António Domingues para o exercício do cargo de vogal do Conselho de Administração, até ao termo do mandato em curso”. O mandato da atual equipa de gestão, liderada por Miguel Almeida, termina em 2018, e a decisão de cooptar o ex-presidente da Caixa será submetida a ratificação na próxima assembleia-geral de acionistas da operadora.

António Domingues vai juntar-se assim à equipa de não executivos, onde já têm assento Ângelo Paupério, Catarina Tavira Van-Dúnem, Cláudia Azevedo, João Torres Dolores, Joaquim de Oliveira, Lorena Fernandes, Mário Leite da Silva e, curiosamente, António Lobo Xavier, que acabou por ter um papel na polémica que envolveu António Domingues durante a breve passagem pela administração do banco público. Aliás, foi Lobo Xavier quem revelou a Marcelo Rebelo de Sousa o conteúdo dos sms trocados entre Domingues e Mário Centeno, um caso controverso que vai dar origem a uma nova comissão de inquérito no parlamento.

A verdade é que esta ida para a NOS representa o seu regresso à administração da operadora, onde já tinha estado em representação do acionista BPI na qualidade de vogal do conselho de administração da PT Multimédia e Zon Multimédia e, posteriormente, da NOS – resultado da fusão da Zon com a Optimus.

Várias vidas

António Domingues é, desta forma, “resgatado” depois de ter pedido a demissão do cargo no banco público e de ter estado envolvido em fortes polémicas. O ex-presidente da Caixa saiu do BPI, onde esteve 27 anos, para liderar o banco público. Na instituição financeira ocupava a vice-presidência na comissão executiva e um cargo de vogal no conselho de administração. Chegou mesmo a ser apontado como potencial sucessor de Fernando Ulrich à frente do banco.

Assumiu funções a 31 de agosto após vários meses de espera para receber luz verde por parte do Banco Central Europeu, substituindo José Matos. Mas poucos meses depois abandonou o cargo – no final de novembro –, depois da polémica em torno da entrega das declarações de rendimentos e de património exigidas pelo Tribunal Constitucional e, depois disso, esteve envolvido em nova polémica em torno dos sms trocados com o ministro das Finanças. O responsável acabou por bater com a porta por considerar a mudança na lei ofensiva e lesiva da autonomia da CGD.

Aliás, os problemas para o ex–presidente começaram cedo. Desde logo, pelo seu ordenado: iria receber 423 mil euros brutos por ano, um salário mensal na ordem dos 30 mil euros, montante que seria pago em 14 vezes. Este montante representava o salário mais alto de sempre alguma vez pago na Caixa.

Domingues iria terminar o mandato no final de dezembro passado no BPI, preparava-se para entrar na reforma e já tinha planos para o futuro: participar em regatas e dedicar mais tempo à leitura de filosofia, mas o convite feito por Centeno a 19 de março de 2016 para ir para a Caixa estragou-lhe os planos.

O novo administrador da NOS nasceu a 30 de dezembro de 1956 e é licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia de Lisboa. Passou também pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) e pelo Banco de Portugal. Foi ainda técnico economista no gabinete de estudos e planeamento do Ministério da Indústria e Energia e diretor-geral adjunto da sucursal em França do Banco Português do Atlântico, entre muitas outras funções que desempenhou.

Domingues teve também o cargo de diretor central da direção financeira do Banco Português de Investimento e foi membro da comissão executiva do Banco Português de Investimento com a responsabilidade das direções financeira e internacional, assim como desempenhou as funções de diretor do departamento do estrangeiro do Instituto Emissor de Macau.

“Trabalhamos juntos há 27 anos. É a pessoa com quem, ao longo destes 27 anos, partilhei mais angústias, preocupações, busca de soluções. É uma pessoa a quem o BPI muito deve. E toda a comissão executiva. E eu em particular” Fernando Ulrich presidente do BPI “A não apresentação das declarações foi uma das condições acordadas para aceitar o desafio de liderar a gestão da CGD” António Domingues ex-presidente da Caixa e novo administrador da nos “Domingues está mortinho por mostrar os sms porque se sente traído e quer vingar-se” Marques Mendes comentador e ex-presidente do PSD “As pessoas mudam, mas as instituições permanecem fortes” Marcelo Rebelo de Sousa presidente da república “Tudo o que foi acordado com António Domingues foi escrupulosamente cumprido” António Costa primeiro-ministro“Trabalhamos juntos há 27 anos. É a pessoa com quem, ao longo destes 27 anos, partilhei mais angústias, preocupações, busca de soluções. É uma pessoa a quem o BPI muito deve. E toda a comissão executiva. E eu em particular” Citações