Não há candidatos ao Sporting?

Bruno de Carvalho é o presidente de um clube de futebol da guerra. Não quer a paz, faz a guerra. Não é fraco, é forte. Não é mole, é duro. Não quer consensos, quer ruturas. Não é bem-educado, é mal-educado. Não é cordato, é provocador. É a preto e branco, não é de meias-tintas. Não…

Foi com este registo que fez o mandato. Para muita gente, este não era o presidente que o Sporting merecia. Achavam que um candidato belicoso e mal-educado poderia ser facilmente vencido por um candidato bem-educado.

As pessoas bem-intencionadas pensam, e têm razão, que ser bem-educado é melhor do que ser mal-educado. Que ser consensual é melhor do que ser polémico. Que ser cordato é melhor do que ser provocador. Que a paz é melhor do que a guerra. É tudo verdade.

Então, mas se Bruno de Carvalho é assim tão mau e tem valores tão errados, por que não apareceram mais candidatos com os valores certos? Então por que razão o candidato que apareceu, Pedro Madeira Rodrigues, claramente um homem bem-intencionado e bem-educado, foi cilindrado nas urnas?

Sucedeu o mesmo com Trump. Um candidato tão errado, tão errado, com valores tão errados, ganhou as eleições contra candidatos melhores pessoas do que ele. Bruno de Carvalho, na noite da vitória, reincidiu e soltou um sonoro palavrão. Trump é o que temos visto. As pessoas que não se reveem nos valores, na personalidade, no estilo de Bruno Carvalho, no Sporting; ou nos valores, na personalidade, no estilo de Trump, nos EUA, sentem-se naturalmente infelizes, frustradas e impotentes.

Aliás, nos EUA, o Partido Democrata não sabe como fazer oposição a Trump. Acham que uma forma possível de fazer oposição é lançar o nome da supermediática Oprah Winfrey.

Mas eu volto a repetir: se eles são assim tão maus, porque não aparecem candidatos bons para os derrotar?

Em primeiro lugar, a resposta é que eles são muito bons, dentro do género. São personalidades muito fortes, são líderes muito fortes. São inteligentes, provocadores, destemidos e dizem coisas que fazem sentido para muita gente. São muito bons a comunicar. Sabem como funciona a comunicação social e usam-na.

Em segundo lugar, são candidatos muito difíceis de derrotar. Porque quando aparecem, acompanhados de uma poderosa máquina de guerra propagandística e mediática, têm o efeito do napalm, queimam tudo à volta.

Em terceiro lugar, é preciso saber que tudo passa. No futebol, ou na política, tem de haver paciência, saber apostar com tempo em candidatos com uma personalidade igualmente forte, que também saibam usar muito bem os media e que tenham outros valores.

Nós já tivemos o caso Sócrates. Quando venceu as eleições, ele e a sua máquina de guerra infernal espalharam napalm no regime. Nada nem ninguém parecia capaz de o derrotar. Dois anos e meio depois, um jovem líder parlamentar, Paulo Rangel, começou com uma oratória brilhante a derrubá-lo, culminando numa vitória épica nas eleições europeias de 2009. E, dois anos depois, Passos Coelho faria o mesmo.

A pergunta ‘onde está o candidato?’ é, em si mesma, provocatória. Posta assim, não tem resposta, é retórica. Faz parte da estratégia de guerra.

sofiarocha@sol.pt