Depois de criminalizar a imigração, Hungria recruta caçadores

A polícia húngara está a recrutar três mil “caçadores de fronteiras”, até em ações nas escolas

Na Hungria, quem por estes dias abrir o jornal e for à zona dos classificados poderá encontrar ainda os anúncios da polícia oferecendo três mil lugares na sua nova força especial, os “caçadores de fronteiras”. Depois de uma formação de seis meses, este contingente aprendem a seguir os rastos deixados pelos migrantes e estão preparados para lidar com a ameaça do “cavalo de Tróia do terrorismo”. Foi assim que se referiu o primeiro-ministro hungaro, Viktor Orbán, aos milhares de pessoas, boa parte dos quais muçulmanos, que têm tentado introduzir-se no espaço Schengen fugindo em muitos casos de perseguição ou de conflitos sangrentos nos seus países de origem.

Para levarem a cabo as suas funções, estes caçadores de migrantes transportarão armas de fogo, algemas, gás pimenta e bastões, mas não serão considerados polícias. A recruta é contínua, e tem passado não só pelos anúncios mas inclui também idas às escolas. Num país onde a média salarial ronda os 517 euros – menos 100 do que em Portugal -, um dos principais atrativos são os 220 mil florins (pouco mais de 700 euros) que irão auferir esta nova força anti-imigrantes.

A fronteira sul do país, partilhada com a Sérvia e a Croácia, é a linha onde a liberdade de circulação para os cidadãos da União Europeia permanece ainda em vigor. Desde 2015, centenas de milhares de migrantes atravessaram esta linha, mas esse fluxo decaí consideravelmente desde que o governo erigiu uma vedação de arame farpado e destacou cerca de dez mil polícias para patrulhar aquela fronteira. Com estas medidas, e depois de a UE ter chegado a um acordo com a Turquia há 18 meses – pagando-lhe para para se livrar do fluxo que dali chegava à Europa -, agora o risco, segundo Orbán é uma nova vaga chegar a partir dos Balcãs.

A Hungria inaugurou praticamente todas as medidas anti-imigração que mais tarde se generalizaram nos Balcãs no êxodo de centenas de milhares de pessoas que fugiam da guerra civil na Síria, Iraque ou Afeganistão. Além da cerca, rejeitou as quotas de distribuição de refugiados da Comissão Europeia, e recentemente criminalizou a passagem irregular de fronteira, com o parlamento húngaro a aprovar a detenção automática de migrantes que entram no país.