DECO “abre guerra” às vendas de porta a porta

Só este setor é alvo de mais quatro mil queixas dos consumidores. Mas as reclamações também são sentidas em outras atividades, como as telecomunicações, luz e água.

Só as vendas porta a porta são alvo de mais de quatro mil reclamações junto da DECO. Na véspera do Dia Mundial do Consumidor, a associação lança a campanha  “vendas à minha porta NÃO” e tem como objetivo informar os portugueses do que devem exigir aos vendedores, obrigando-os a prestar-lhe os esclarecimentos que entender ou apenas para abandonarem o local.

A explicação é simples: a tendência de os clientes comprarem bens que não precisam só porque não conseguiram fechar a porta está, no entender da entidade, a causar “elevados prejuízos económicos” aos consumidores.  A informação é a chave” diz a diretora geral da DECO, Ana Tapadinhas, lembrando ainda que “desde a década de 90 que a associação recebe reclamações de consumidores alvo destas práticas comerciais desleais. Hoje assistimos a milhares de vendas de contratos de fornecimento de serviços públicos essenciais, como a energia e as telecomunicações, feitas à porta do cidadão.

É altura de combater este flagelo”, revela. Para a responsável, a solução passa por pôr um fim aos “contratos indesejados e com valores irrecuperáveis para o consumidor”. E, por isso mesmo, pede um maior controlo destas vendas associadas a práticas desleais”.

Queixas atrás de queixas

Mas os problemas não ficam por aqui. Das quase meio milhão de queixas que a DECO recebeu em 2016, só os setores  das telecomunicações, água e luz  foram alvo de mais de 73 mil, com as telecomunicações a liderar o pódio. Neste setor, os prazos de fidelização e refidelização continuam a ser as situações mais reclamadas e só esta atividade recebeu mais de 45 500 queixas. 

Já no setor da energia e da água – que recebeu mais de 27 700 reclamações – destacam-se as dificuldades sentidas pelos consumidores no âmbito da faturação, seja por falta de envio da mesma, seja na cobrança de consumos prescritos ou dupla faturação. Também a mudança de comercializador de energia justificou abordagens comerciais pouco transparentes por parte dos diferentes comercializadores, tendo a DECO recebido milhares de queixas de consumidores vítimas de práticas comerciais desleais.

Outro setor que também foi alvo de elevado número de reclamações no ano passado foi o da compra e venda, com a DECO a receber mais de 27 400 queixas, estando a maioria relacionada com a falta ou atraso na entrega dos produtos, recusa de cancelamento da compra no prazo de reflexão e falta de reembolso quando se desiste da compra. O mesmo acontece com os serviços financeiros, com a associação a receber mais de 26 mil reclamações relacionadas com este setor. Em parte, a entidade atribui este aumento ainda a queixas relacionadas com a falência do BES, mas também com o Banif, que no final de 2016 foi incorporado no Santander Totta, mas deixou para trás muitos lesados. 

Na área da banca, entre as questões mais suscitadas pelos consumidores estão o crédito ao consumo e pessoal, destacando-se o acompanhamento nas alterações dos valores de prestações e na própria formulação do contrato e incumprimento por parte dos bancos. Mas elas também se prendem com comissões das contas bancárias, que dispararam no último ano.   Já no âmbito dos seguros, as principais razões de queixa referiram-se a seguros de saúde, nomeadamente relativamente a coberturas, não coberturas, franquias e valores a pagar pelo segurado.

Os seguros de bens e equipamentos que são fornecidos pelo comércio tradicional – especialmente produtos informáticos e equipamentos eletrónicos – também figuraram no topo das queixas. Trata-se de seguros que acabam por ser um pouco inúteis já que quando o consumidor quer acioná-los descobre que não o pode fazer.