Queda na Europa. Uma anormalidade… absolutamente normal

As eliminações de Benfica e FC Porto nos oitavos de final da Liga dos Campeões ditam menos uma equipa lusa na prova em 2018/19. Portugal não estava fora das provas europeias tão cedo desde… 1998/99

Está fechado. A queda do FC Porto nos oitavos de final da Liga dos Campeões, em Turim às mãos da Juventus, consumou o pior cenário para Portugal no que se refere aos rankings da UEFA: em 2018/19, o nosso país passa a ter apenas uma equipa (o campeão nacional) apurada de forma direta para a fase de grupos da Champions; o segundo terá de disputar a terceira pré-eliminatória e o play-off. O terceiro segue para a Liga Europa com o quarto e o vencedor da Taça de Portugal.

Um cenário estranho para as cores nacionais, que já não se verificava há cinco anos. A época de 2011/12 foi a última em que apenas duas equipas portuguesas puderam disputar a principal prova de clubes da UEFA: o FC Porto, campeão em 2010/11, entrou diretamente na fase de grupos, enquanto o vice-campeão Benfica foi obrigado a disputar precisamente a terceira pré-eliminatória e o play-off para chegar à fase final – conseguiu-o após ultrapassar Trabzonspor e Twente.

Daí para cá, sempre três representantes, com Benfica e FC Porto omnipresentes. Sporting (duas vezes), Braga e até o Paços de Ferreira foram os outros clubes que beneficiaram dos bons lugares que Portugal costumava ocupar no ranking da UEFA.

De acordo com os parâmetros da entidade que gere o futebol europeu, só o quinto e o sexto classificados do ranking têm direito a incluir uma terceira equipa na Liga dos Campeões. Ora, Portugal, que chegou a andar a morder os calcanhares à Itália pelo quarto lugar há não muito tempo, começou esta época em quinto, à frente de França e Rússia. No entanto, as eliminações precoces de Rio Ave e Arouca, ainda nas pré-eliminatórias da Liga Europa, e os resultados desastrosos de Sporting e Braga na fase de grupos de Champions e Liga Europa ditaram uma queda de dois lugares, para o sétimo posto atual que dita o cenário negro para 2018/19. Depois da eliminação do Benfica, todas as esperanças estavam nos dragões, que tinham de eliminar a Juventus, vencer mais dois jogos e ainda esperar que os dois clubes russos ainda em prova na Liga Europa (Rostov e Krasnodar) não voltassem a pontuar. Só assim Portugal poderia tirar o sexto posto à Rússia. Não deu.

O adeus mais precoce desde 1998 Mas, se já é estranho pensar em apenas dois representantes portugueses na Liga dos Campeões, menos usual ainda é um adeus nacional tão precoce às competições europeias. Passam já 15 anos desde a época em que os conjuntos lusos ficaram arredados dos quartos de final das provas da UEFA: desde 2001/02 que Portugal tinha sempre pelo menos um representante nessa ronda seja na Liga dos Campeões, seja na Taça UEFA/Liga Europa.

Aliás, para descobrir a temporada em que Portugal ficou fora da Europa mais cedo, é preciso recuar até à já longínqua época 1998/99: então, o dia 9 de dezembro marcou o adeus de FC Porto e Benfica à Liga dos Campeões – na Taça UEFA, Sporting, Vitória de Guimarães e Marítimo haviam caído logo na primeira ronda, a 29 de… setembro.

Se pusermos as coisas nestes termos, percebemos como era hercúlea a tarefa do FC Porto nesta quarta-feira: a Juventus jamais havia sido eliminada depois de vencer uma primeira mão fora e somava 45 jogos consecutivos sem perder em casa. Mas isto serve também como um paralelismo para a realidade nacional em comparação com os clubes dos campeonatos de topo da Europa: frente aos grandes, os portugueses… perdem.

Vejam-se os percursos de Benfica, FC Porto e Sporting nesta Liga dos Campeões. As águias perderam os dois jogos frente ao Nápoles (Itália) na fase de grupos e caíram com estrondo na Alemanha perante o Dortmund – a quem haviam ganho na Luz mercê de um golo às três tabelas de Mitroglou e uma exibição milagrosa de São Ederson. Os dragões, por seu lado, perderam em Inglaterra com o Leicester – a quem golearam na última ronda, quando o campeão inglês já tinha o primeiro lugar do grupo assegurado – e somaram depois mais duas derrotas perante a Juventus. Já o Sporting é o exemplo mais flagrante da incapacidade dos maiores clubes portugueses em competir de igual para igual com os gigantes europeus: perdeu os quatro jogos que disputou com Real Madrid e Dortmund – apesar da boa réplica -, acrescentando a esse cenário desolador uma impensável derrota com o Légia, na Polónia, que o afastou inclusive da Liga Europa.

A liga das elites A verdade é que a conquista da Liga dos Campeões por parte de um clube português não passa, cada vez mais, de uma perspetiva idílica mas absolutamente irrealista – apesar de, aqui e ali, ser aventada por alguns responsáveis dos grandes nacionais. O que o FC Porto de José Mourinho conseguiu em 2003/04 foi quase um milagre, ditado pela força das circunstâncias – prestações desastrosas dos tubarões europeus nessa edição da Champions – e, claro, pela qualidade da equipa portista, potenciada ao máximo por um Special One em processo.

Na época seguinte, a normalidade voltou a ficar estabelecida. Campeão europeu em título, o FC Porto caiu logo nos oitavos de final, perante um Inter de Milão infinitamente superior – mas que viria a ser despachado logo na ronda seguinte pelo rival Milan com um total de 0-5 na eliminatória…

A partir daí, o melhor que as equipas portuguesas conseguiram foram cinco presenças nos quartos de final: três pelo Benfica e duas pelo FC Porto. As meias-finais ficaram sempre ali tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe do alcance. Coincidência? Longe disso. É, sim, uma demonstração clara de quão elitista se tornou a Liga dos Campeões, hoje uma prova desenhada e concebida a pensar apenas e só nos grandes campeonatos. Se não, veja-se os países dos oito apurados para os quartos de final da prova. Exato: Espanha (Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid), Itália (Juventus), Alemanha (Bayern Munique e Dortmund) e Inglaterra (Leicester).