Holanda. O triunfo dos partidos antissistema

Partidos de fora do quadro tradicional foram os que mais cresceram nestas eleições, apesar da vitória do VVD.

Olhando para os números que nos são trazidos pelas projeções dos resultados das eleições legislativas holandesas, saltam à vista dois factos evidentes: a vitória do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte e a consequente derrota da extrema-direita, encarnada no Partido da Liberdade (PVV), do excêntrico Geert Wilders.

Há, no entanto, um outro facto importante deste ato eleitoral, que tem que ver com o excelente desempenho dos partidos ditos antissistema, percussores de visões e programas políticos alternativos e em clara rota de afastamento do apregoado pelos partidos tradicionais.

A começar pelo próprio PVV. Mesmo confirmando-se que o partido anti-islão e eurocético fica na segunda posição das eleições, com apenas 13% dos votos e a 8% do vencedor, a verdade é que garante mais 8 deputados no parlamento, um feito que mereceu os festejos de Wilders no Twitter. “Ganhámos lugares! Primeira vitória!”, escreveu o antigo deputado do rival VVD e agora líder do partido assumidamente anti-establishment, naquela rede social.

Em igualdade percentual com o PVV, está também o D66, outro pequeno partido que, no caso das sondagens estarem corretas, consegue o seu melhor resultado numa eleição, desde 1994. Numa entrevista recente ao jornal i, o politólogo holandês Cas Mudde apontou esta plataforma liberal progressista, criada em 1966, como um dos primeiros partidos europeus que trouxe para o debate público a discussão sobre a “existência de um fosso entre a elite e a população”. “Trouxeram esta discussão do establishment e anti-establishment para a política holandesa, há mais de 50 anos, que agora está a ser recuperada”. Segundo as projeções, o D66 conseguirá chegar aos 19 deputados, tornando-se num caso sério para uma solução governativa.

Um outro caso de sucesso de um partido situado fora do quadro político mais tradicional na Holanda é o do GroenLinks. Liderados pelo jovem e carismático filho de imigrantes, Jesse Klaver, os verdes estão prestes a conseguir o melhor resultado de sempre da sua história – existem desde 1989 – com a possível eleição de 16 deputados, correspondentes a 11% dos votos. A vitória em Amesterdão, com mais de 19%, confirma o bom desempenho dos ecologistas.

No outro lado da medalha, o da derrota do establishment holandês, o seu principal representante é o (PvdA). Os trabalhistas – fazem parte da coligação governativa – caíram a pique na confiança dos eleitores e podem vir a perder até 29 deputados, uma vez que não parecem vir a conseguir reunir mais de 6% da totalidade dos votos.

Rutte, claro, também entra nestas contas. É certo que, ao que tudo indica, venceu as eleições por 21%, mas não deixa de perder quase 10 deputados, de acordo com as projeções. Se quiser voltar integrar o governo e juntar os necessários 76 deputados para tal, o ainda primeiro-ministro terá de ouvir o que têm a dizer os partidos antissistema. E afastar-se um pouco dele.