Erdogan. Comissão Europeia chama embaixador turco

A Europa chamou ontem o representante turco depois de Erdogan dizer que nenhum europeu estará seguro em qualquer parte do mundo. Erdogan manifestou solidariedade com o Reino Unido contra o terrorismo.

A Comissão Europeia chamou ontem o embaixador da Turquia junto da União para pedir explicações sobre o discurso de Tayyip Erdogan pronunciado na quarta-feira, que aumentou a escalada no conflito verbal que neste momento opõe a União Europeia à Turquia.

Na quarta-feira, Erdogan disse: “Se a Europa prossegue nesta via, nenhum europeu em qualquer parte do mundo pode andar nas ruas em segurança e pacificamente. A Europa vai ser prejudicada por isto. Nós, Turquia, apelamos à Europa para respeitar os direitos humanos e a democracia”. Erdogan protestava contra a proibição, decretada pela Alemanha e pela Holanda, de que ministros turcos possam fazer campanha nos seus territórios para o referendo de 16 de abril, convocado pelo Presidente turco para reforçar os seus poderes. Por macabra coincidência, poucas horas depois deste discurso de Erdogan, aconteceu o atentado terrorista em Londres.

O porta-voz da Comissão Europeia pediu um encontro ao embaixador turco junto da União Europeia. “Relativamente a estes comentários específicos, pedimos ao representante turco junto da União Europeia para comparecer na Comissão de Negócios Estrangeiros para um encontro”. A representação turca junto da União não fez qualquer comentário, segundo a Reuters.

“Sem mas nem meio mas”

Em campanha para o referendo de dia 16, que reforça os seus poderes ao limite, Erdogan disse esta semana que “a Europa é fascista e cruel” e que o modo de atuação europeia lhe lembrava as vésperas da Segunda Guerra Mundial – isto em reação ao veto da Holanda e da Alemanha à realização de comício pró-Erdogan nos seus territórios. Erdogan acusou a Holanda de ter “reminiscências nazis” e a Alemanha de “ações fascistas”. Mais: o Presidente turco disse que o seu país não aceitava continuar a ser “ameaçado” pelo processo de adesão à União Europeia e que o acordo para travar a imigração ilegal – que a Turquia assinou com a União Europeia – estaria em risco.

Angela Merkel respondeu às acusações de Erdogan sobre o “nazismo” assim: “A minha declaração de que as comparações com o nazismo por parte da Turquia têm que acabar são para se aplicar sem mas nem meio mas”. Mas há sempre mas. Merkel, que tinha afirmado que os políticos turcos só se poderiam manifestar na Alemanha “com base nos princípios da Constituição” germânica, tem sido criticada por estar a ser demasiado branda com Erdogan.

O partido mais à esquerda – Die Linke – atacou Merkel por falta de ação. “Estamos a assistir a um novo nível de escalada nas relações germano-turcas, disse a porta-voz para as Relações Internacionais, Sevim Dagdelen. “A falta de ação do governo encoraja o Presidente turco a fazer ataques cada vez mais violentos, escandalosas comparações com o nazismo e atos de repressão contra críticos na Alemanha”. A representante do partido de esquerda desafiou o ministro dos Negócios Estrangeiros, o social-democrata Sigmar Gabriel, a chamar o embaixador turco em Berlim para um protesto. Mas isso não aconteceu.

Erdogan telefonou a May

De visita à Grécia nesta quinta-feira, Sigmar Gabriel afirmou ser fundamental manter canais de comunicação com a Turquia, apesar da escalada de tensão. “Temos que fazer todos os esforços para persuadir a Turquia de que este caminho não é o caminho certo e ao mesmo tempo manter abertos os canais de comunicação”, disse Gabriel citado pelo Die Welt.

A Reuters noticiou ontem que Erdogan telefonou à primeira-ministra britânica Theresa May para manifestar condolências pelo ataque terrorista de quarta-feira no centro de Londres. No Twitter, Erdogan escreveu: “Estamos solidários com o Reino Unido, país amigo e aliado, contra o terrorismo, a maior ameaça à paz mundial e à segurança”.