Seleção. Fernando Santos não promete o Mundial: só compromisso

O selecionador nacional alerta para os perigos que podem vir de uma Hungria “renascida”

Ficou célebre a promessa de Fernando Santos, numa altura em que a Seleção nacional passava por grandes dificuldades na fase de grupos do Europeu, de só voltar a Portugal no dia a seguir à final do torneio – que viria a cumprir com mestria, como todo o país se recorda. Esta sexta-feira, na véspera do jogo com a Hungria, de apuramento para o Mundial do próximo ano, o selecionador foi desafiado a prometer também que Portugal iria estar na prova; desta feita, porém, respondeu de forma mais relutante…

"Os portugueses podem ficar descansados que Portugal, e estes jogadores, tudo vai fazer para estar no Campeonato do Mundo. Dependemos exclusivamente de nós neste momento e temos de vencer os nossos jogos para nos mantermos nessa condição, mas do outro lado também há uma Hungria com os mesmos objetivos e que tem de ganhar. Os jogadores trabalharam bem, estão muito motivados, muito disponíveis. O Estádio da Luz vai estar praticamente cheio, sabemos que vamos contar com o apoio do nosso público e com aquela força tão grande que em França nos empurrou para o título. É isso que esperamos, que os adeptos gritem, que façam barulho e que nos empurrem", ressalvou Fernando Santos, antevendo um jogo diferente do 3-3 do Europeu: "O jogo no Europeu foi muito atípico, havia uma ansiedade muito grande da parte dos meus jogadores, amanhã também será um jogo importante mas não é tão decisivo. A Hungria já estava apurada para a fase seguinte, não jogou com a pressão dos pontos, jogou mais livre e isso empurrou-a para a frente. No futebol é preciso defender bem e atacar bem e é isso que vamos fazer.»Amanhã as duas equipas querem ganhar, a Hungria vai ter mais pressão do que tinha no Europeu. Em França já estava apurada quando nos defrontou e não precisava dos pontos, até se deu ao luxo de deixar dois habituais titulares de fora. Amanhã será diferente."

Ainda assim, o técnico nao espera quaisquer facilidades, vendo mesmo a Hungria a renascer para o futebol. "A Hungria vem muito de uma escola que sempre teve e que está a reaparecer. Lembro-me que no meu tempo a Hungria tinha grandes equipas, de grande qualidade técnica e que agora está a reaparecer. É uma equipa que está a recuperar esses princípios, que quer jogar, que gosta de ter bola, que joga em posse e que é formada por jogadores de qualidade técnica. Mas vai encontrar um adversário que quer vencer e por isso acredito que a maior parte das vezes vai ter de jogar em contra-ataque. Trata-se de uma seleção que gosta de ter a bola, mas que este sábado vai ter se adaptar a outro estilo de jogo", assumiu Fernando Santos, completando: "Acredito que vão ter de jogar algumas vezes em contra-ataque, e vamos procurar com que a Hungria tenha de jogar mais assim do que em ataque organizado. Mas esta equipa da Hungria não é uma equipa com essas características, gosta de jogar, de sair com posse de bola, com dois médios muito interventivos no jogo, o Gera e o Nagy, que gostam de ter bola e atacar. Já fizeram isso connosco no Europeu e não acredito que não seja igual a si própria. Mas sabemos que no contra-ataque também é perigosa mas estamos preparados para isso."

Instado a destacar algum jogador húngaro em particular, Fernando Santos respondeu à defesa. "Para mim mais importante do que as características individuais dos adversários são os pontos fortes do adversário e a Hungria é muito forte coletivamente", salientou, preferindo destacar a ausência de limitações na seleção portuguesa: "Felizmente para nós tivemos uma semana de treinos tranquila, não tivemos nenhum jogador impedido de treinar. Quem vai jogar… vou decidir no momento certo. O Nani é um jogador importante neste grupo, pela forma como treina, mas também não esteve com as Ilhas Faroé e com Andorra e respondemos bem dentro do jogo. O selecionador não procura problemas, procura soluções."

A atitude de Portugal no jogo, de resto, foi um tema recorrente nesta conferência de Imprensa. Fernando Santos não se cansou de ressalvar a "humildade" que diz caracterizar esta equipa. "Temos essa característica que nos caracteriza que é a não presunção: não menosprezamos ninguém. Estudámos a Hungria e respeitamo-la. Portugal sempre foi uma seleção muito respeitada pelos seus adversários, que sempre tiveram a intenção de vencer Portugal. A Seleção Nacional está há muitos anos entre os dez primeiros classificados do Ranking FIFA, há muitos anos que tem o melhor jogador do Mundo e por isso sempre houve grande vontade dos adversários de nos vencer. Mas a nossa pressão é apenas uma pressão positiva: defender o nosso país e a nossa bandeira", asseverou o técnico, considerando que nada mudou desde o título europeu: "A única coisa que mudou foi o título que conquistámos, de resto nem podia mudar muito. Desde o Europeu realizámos quatro jogos, vamos realizar o quinto. Estivemos quatro meses parados, não treinámos, não conversámos e isso torna as coisas muito difíceis. O entrosamento dos jogadores só se consegue em treino, não os tendo não é possível."

A terminar, uma questão… diferente. Perguntaram ao selecionador nacional sobre como estavam os jogadores do FC Porto e do Benfica presentes na seleção a reagir às polémicas entre os dirigentes dos dois clubes na véspera do clássico que se joga no próximo dia 1. A reação de Fernando Santos foi taxativa: "Isso nem entra no hotel, nem sequer bate à porta. Os jogadores não querem ouvir falar disso, nem ligam. Eles estão muito focados. O que registei com agrado no primeiro dia foi a alegria de voltarem e de estarem novamente juntos. Eles estão focados e motivados para este jogo, sabem que é um jogo importante."