Jeroen Dijsselbloem, o ainda presidente do Eurogrupo, é dirigente de um partido socialista na Holanda, defendendo a social-democracia e a solidariedade em casa e a austeridade em casa dos outros – nomeadamente na nossa.
Angela Merkel foi capaz da maior das solidariedades para com uma massa migratória que contém refugiados, compactuando, no entanto, com a perda do acesso à saúde por gregos desempregados mais de três meses.
Até o PSD, que cá se denomina Partido Social Democrata, deixa discretamente cair o ‘S’ da sua sigla quando entra na sede do PPE em Estrasburgo. Perante a grande família do centro-direita europeu, os sociais-democratas portugueses não se chamam sociais-democratas; chamam-se PPD.
Esta semana, o mencionado Dijsselbloem proferiu uma misericordiosa síntese da relação entre os países do «norte» e os países «em crise» da zona-euro. Diz ele: «Não posso gastar o meu dinheiro todo em bebida e mulheres e a seguir pedir ajuda».
Isto vindo do homem que encabeça os ministros das Finanças pertencentes à moeda única, no também já mencionado Eurogrupo. Em reuniões fechadas, sem ata e sem comunicação social, com, portanto, a legitimidade democrática de um soviete.
As afirmações do dirigente foram acolhidas com repulsa em toda a Assembleia da República, na qual até os partidos europeístas pediram a saída de Dijsselbloem. O PS, naturalmente, não resistiu a comparar o senhor aos tempos de governação de Passos Coelho, esquecendo que o governo PSD/CDS votou contra a reeleição de Dijsselbloem para presidente do Eurogrupo.
Rui Tavares, conhecedor das lides europeias, revelou que, depois de Dijsselbloem perder 75% da sua bancada nas legislativas holandesas, mantinha-se a possibilidade de permanecer excecionalmente no Eurogrupo. Após a gafe, duvida-se que a exceção se consume.
No parlamento europeu, um eurodeputado espanhol chamou a devida atenção para o episódio e não foi por acaso. Espanha deve conseguir o que já antes tentara: o lugar do holandês.
Hoje, a União Europeia precisa de repensar o papel do Estado dentro dos Estados, de adaptar-se a um crescimento económico menos sorridente que o do pós-guerra, de olhar para a globalização prevenida e sem desconfiança.
No longo prazo, ao impossibilitar a social-democracia, Bruxelas gerou transfusões eleitorais que só beneficiaram partidos que são contra Bruxelas – os eurocéticos – inclusive em Portugal.
É por isto que escrevo que o euroceticismo não é causa dos problemas da União Europeia, mas uma consequência dos problemas da União Europeia.
Por mais que Bruxelas continue a ‘nacionalizar’ o que é mau e a ‘europeizar’ o que é bom, reformar a Europa sem o património político que a fundou é – e foi – suicida.
Pensar uma Europa sem social-democracia não é pensar na Europa sequer, e eu nem sou social-democrata. Jeroen Dijsselbloem tinha obrigação de sê-lo.