O terrorismo volta a Londres

Mais de uma década depois dos ataques de 2005, Londres voltou a ser alvo de terrorismo. Estão ainda por descobrir as motivações do terrorista.

O terrorismo volta a Londres

Há muito de britânico na resposta ao atentado de quarta-feira em Londres. Apenas um dia depois de um homem ter matado quatro pessoas no coração da capital, atropelando-as primeiro na Ponte de Westminster e depois esfaqueando até à morte o polícia desarmado que lhe tentou travar o caminho até ao interior do edifício do Parlamento, a primeira-ministra britânica anunciava, na mesma sala onde apenas horas antes os deputados se haviam encerrado por uma tarde inteira, que os trabalhos da democracia continuariam sem interrupção. «Ontem, um ato de terrorismo tentou silenciar a nossa democracia, mas hoje reunimo-nos como é normal. Como outras gerações fizeram antes de nós e futuras gerações continuarão a fazer. Para entregarmos uma simples mensagem: não temos medo».

Paris, Bruxelas, Nice e Berlim recuperaram o ritmo normal de vida semanas depois dos seus próprios ataques terroristas. Londres fê-lo também, embora a um passo mais acelerado. E não apenas graças à herança dos bombardeamentos nazis que desafiaram a psique da cidade nos anos 1940. Passada mais de uma década desde os ataques da Al-Qaeda a uma série de transportes públicos, em 2005, há muito que Londres se prepara para um novo atentado. «Na verdade, foi um milagre que não tivesse acontecido antes», comentava ontem o antigo procurador-geral inglês, Dominic Grieve, falando à BBC. O terrorismo, de resto, tão-pouco é algo de inédito nas ruas da capital. «Eu já estava por cá nos tempos do IRA», ouviu a correspondente do jornal New York Times em Londres, Katrin Bennhold, de uma mulher que, na mesma tarde do ataque, insistiu em abrir a sua banca de jornais em Westminster.

As autoridades britânicas não repetem a mesma relativa acalmia das ruas de Londres. Entre o dia do atentado e ontem, realizaram-se mais de uma dezena de buscas em várias cidades britânicas, sobretudo em Birmingham, onde vivia nos últimos anos o autor do ataque, Khalid Masood, ou, antes de se ter convertido para o islão, Adrien Russell, britânico de gema nascido em Kent. Mansoor passou algum tempo sob vigilância dos serviços de espionagem britânicos, como muitos dos autores de atentados terroristas em solo europeu. Como eles, também o terrorista de quarta-feira acabou por sair da lista de prioridades – segundo Theresa May, tornou-se um caso «periférico». Nem estava na lista dos três mil casos mais alarmantes para os serviços secretos britânicos, dos quais apenas 500 estão sob investigação e, destes, uma ínfima parte é vigiada constantemente.

Não se sabe ao certo o que levou Khalid a cometer o atentado em Westminster e a Polícia britânica diz que descobri-lo é a sua maior prioridade. O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou o ataque na quinta-feira, mas, julgando pelo tempo que demorou e os termos distanciados com que falou do ataque, põe-se a forte hipótese de o grupo não ter estado em contacto com Khalid e de este ter sido simplesmente influenciado pela sua propaganda, como outros terroristas de oportunidade em Nice e Berlim, por exemplo.

Apesar disso, as detenções e buscas prosseguiam ontem, algumas sob suspeita de que estavam a ser preparados atentados terroristas, sugerindo que em torno de Khalid existe uma rede de possíveis radicais. Foram detidas oito pessoas na noite de quarta-feira, dois homens «relevantes» na quinta-feira e uma outra mulher detida ontem em Manchester. Apenas uma mulher saiu até agora sob fiança, o que totalizava ontem dez pessoas ainda encarceradas por ligações ao terrorista.