Rússia. A longa marcha da oposição a Vladimir Putin

Os protestos do último domingo contra Putin foram os maiores desde as manifestações de 2010-2011

A oposição russa voltou a sair à rua em quase 100 cidades; na maior parte do país, as manifestações foram proibidas. Ainda assim, mais de 100 mil pessoas manifestaram-se por toda a Rússia contra a corrupção, e centenas delas foram detidas, incluindo o líder da oposição liberal, Alexei Navalny.

As manifestações foram convocadas na sequência da divulgação pela organização de Navalny, Fundação para a Luta Contra a Corrupção, de uma investigação em que se acusava o atual primeiro-ministro, Dimitri Medvedev, de ter desviado mais de 1100 milhões de euros, e de possuir um conjunto de casas, propriedades, vinhas, estâncias de neve e balneares no valor de muitas centenas de milhões de euros. Até domingo passado, dia em que se realizaram as manifestações, cerca de 12 milhões de pessoas tinham visto o vídeo de denúncia, postado pela organização de Navalny no YouTube.

Segundo o jornal “Moskovski Konsomolets”, dos 100 pedidos de autorização de manifestação solicitados pelos organizadores das marchas de domingo, apenas foram autorizados 24 protestos. Na maior parte do país e nas suas principais cidades, as pessoas saíram à rua a coberto de fazerem um “passeio”, para contornarem a proibição, mas muitos foram presos. 

Em Moscovo, calcula-se que entre 10 mil e 30 mil pessoas participaram num passeio no centro da cidade e 1030 foram detidas pela polícia, sendo muitos posteriormente libertados mediante o pagamento de multas que podem ir até 20 mil rublos. Mais de 100 pessoas continuam detidas. 

Nestas marchas de protesto, as mais importantes desde as manifestações de 2011-2012, participaram sobretudo jovens das universidades e dos anos finais do ensino secundário, o que demonstra que nalgumas camadas da população existe uma crescente insatisfação com a forma como o poder é exercido.

Apesar disso, os protestos de 60 mil a 100 mil pessoas são uma gota de água na população russa, e é pouco provável que o poder de Vladimir Putin seja beliscado nas próximas eleições de 2018. E também é pouco provável que o opositor Alexei Navalny possa concorrer: encontra-se em liberdade condicional por causa de um processo de desvio de dinheiro e, segundo a lei russa, pessoas condenadas em tribunal não podem participar nas eleições. 

Nas últimas eleições, a oposição dita liberal não conseguiu eleger um único deputado. O partido Rússia Unida de Putin obteve 238 dos 450 lugares; o Partido Comunista conseguiu 92; a Rússia Justa, aliada de Putin, teve 64 eleitos; e a extrema-direita de Vladimir Jirinovski ficou-se pelos 56 deputados.

A oposição liberal que no domingo esteve à frente das manifestações está enfraquecida por ter dirigido o programa de privatizações, depois do fim da União Soviética, de que resultou uma gravíssima crise económica e catástrofe social, e pelo facto de ter condenado a anexação da Crimeia, território com maioria de população russa, por Moscovo. 

Numa sondagem realizada há poucos anos, apenas 52% dos eleitores russos achavam que era útil haver partidos de oposição e só 13% pensavam que a oposição devia poder algum dia ascender ao poder. 

O poder de Vladimir Putin baseia-se, mais do que na repressão e no controlo social, num largo consenso social de que os seus opositores não vão a lado nenhum.