Seleção. Eusébio e Simões calçaram no Funchal as botas da tropa…

Primeiro jogo de uma equipa nacional na Madeira – em 1966, frente ao Luxemburgo, com o Pantera Negra a marcar quatro golos, seis meses antes dos outros quatro à Coreia do Norte

“FESTIVAL EUSÉBIO – O Estádio dos Barreiros, no Funchal, teve um dia de festa, anteontem, com a clamorosa vitória da Seleção Nacional Militar sobre os soldados luxemburgueses (6-2). Eusébio foi, mais uma vez, o grande marechal nesta cruzada inesquecível, exibindo toda a gama de excecionais recursos que lhe granjearam a eleição de O Melhor da Europa. Pode sintetizar-se o que foi esse festival Eusébio: na primeira, já derrotou irremediavelmente quatro (!) adversários e vai fuzilar a rede luxemburguesa para o primeiro golo de Portugal; na foto do centro, é a apoteose final, em que centenas de fãs invadiram o relvado para o aclamar; por fim, após o banquete de confraternização, Eusébio teve outra atuação não menos sensacional: aderiu ao bailinho e dançou com alegria e simplicidade”. Eis o que escrevia a reportagem d’“A Bola”.

Portugal 6-Luxemburgo 2 para a primeira eliminatória do Campeonato Internacional Militar: quatro golos de Eusébio.

Seis meses antes dos seus fantásticos quatro golos à Coreia do Norte, Eusébio marcava outros golos aos tropas do Luxemburgo. Nessa Seleção Nacional Militar jogavam a seu lado António Simões, Fernando Peres, José Carlos e Alexandre Baptista: todos estariam em Inglaterra.

Pela primeira vez, uma seleção nacional jogava no Funchal. Seis de janeiro de 1966. O grande Fernando Assis Pacheco, repórter ímpar e cronista imbatível, foi enviado especial do “Diário de Lisboa”. Escreveu: “António Simões foi a grande vedeta do encontro e fez uma exibição espantosa!” O próprio Simões parecia satisfeito consigo: “Quando cheguei ao aeroporto, a receção foi tão calorosa que prometi a mim mesmo realizar uma boa exibição. Devia esta atenção ao público da Madeira.”

Quinas

O público da Madeira vai estar esta noite de olhos postos na equipa de Portugal campeã da Europa. E no seu menino bonito, que se chama Cristiano Ronaldo. Tempos bem diferentes, estes. Porque, se viajarmos para trás nas décadas, iremos até ao dia 30 de março de 1977 e o brilho não era assim intenso como o que rodeia agora a seleção das cinco quinas azuis. José Maria Pedroto era o selecionador e fazia o seu último jogo. Juca tomaria o seu lugar até final da campanha (fracassada) de apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo da Argentina. Um particular, frente à Suíça. Sem grande história. Tirando o facto (histórico!) de, pela primeira vez, Portugal “principal” jogar nas Ilhas de Zarco. Vitória por 1-0, golo de João Alves, nessa altura a jogar em Espanha, no Salamanca. E o regresso de Artur Jorge, já no Belenenses. A fábrica de internacionais produzia mais três que se estrearam nessa tarde: Gabriel (FC Porto), Nelinho (Benfica) e Baltasar (Sporting).

Foi, depois, preciso esperar dez anos. Outra vez em março, desta vez a 29. Vivíamos na terrível ressaca de Saltillo e do Mundial mexicano. A ameaça de um empate com Malta, que se desenhara no Estádio da Luz dois anos antes (vitória de aflitos por 3-2 na vigência de José Torres), concretizou-se de forma chocante. Ao golo madrugador de Jorge Plácido não correspondeu Portugal com a atitude de conquista que se lhe impunha. Mizzi empataria, de penálti, ainda antes do intervalo; o meio-campo português, formado por Frasco, Adão e Nascimento, não tinha arte para alimentar o ataque composto por Manuel Fernandes, Jaime das Mercês e Jorge Plácido. Aos 67 minutos, um contra-ataque rápido permite que Mizzi se escape a Dito e Eduardo Luís e ofereça o golo a Busuttil. Só um remate fortíssimo, de muito longe, de Jorge Plácido evitará a derrota, a 12 minutos do final. Rui Seabra, o advogado-selecionador chamado para a humilhante tarefa de construir uma equipa com restos, não resiste ao resultado horrível. Pede a demissão e será Juca a substituí-lo como selecionador. A Madeira fazia as suas vítimas.

Daí para cá, a seleção nacional só jogou no Estádio dos Barreiros por mais uma vez. Quase também em março (28 de fevereiro de 2001), parece uma inevitabilidade que seja em março, como ainda hoje. Um triunfo sobre Andorra (3-0) que, apesar de não especialmente brilhante, a fazia avançar em passos seguros para a presença no Mundial da Coreia do Sul e do Japão, no ano seguinte. Figo e Pauleta marcaram os golos. Já nenhum deles estará presente. Os holofotes ficam todos ao dispor de Ronaldo.