Comissão Europeia lança campanha para fidelizar os membros da UE

A União já viu dias melhores. O eurocepticismo está forte e, depois do Brexit, a Comissão Europeia está agora a tentar reagir, pagando uma campanha para convencer os Estados-membros dos méritos da união que garantiu a paz no continente nos últimos 60 anos

É comum o erro de olhar para o relvado do vizinho e sentir que é mais verde, as crianças dele divertem-se mais, a mulher está radiante, e nós aqui, com a barriga baixando as calças que o cinto apertou de mais. É também fácil esquecer as conquistas de uma União que leva já 60 anos e que, ultimamente, tem servido de poleiro a líderes políticos tão carismáticos como Jeroen Dijsselbloem. Mas a tendência para a autopunição foi longe de mais. E o amor próprio deste histórico pacto está ameaçado pela crescente onda populista, nacionalista e eurocética que hoje grassa em boa parte dos Estados-membros. E é para impor um travão a estas campanhas tantas vezes baseadas em desinformação e mentiras que a Comissão Europeia irá financiar uma defesa não apenas da imagem como dos méritos do projeto europeu. Esta iniciativa irá bater de frente com a mensagem que os partidos extremistas têm difundido, procurando desacreditar as instituições da UE e levar os cidadãos europeus a desistir de um projecto que tem evitado que a Europa repita os erros do passado, com as disputas entre as suas nações a conduzirem a conflitos armados. Mas se a paz é o grande trunfo da União, são inúmeros os dados que desenham uma perspectiva animadora quanto ao desenvolvimento social e ao investimento económico nos países europeus e que foram financiados com fundos comunitários.

A campanha chega a Portugal em abril. Mas antes foi feito um trabalho de campo, com um inquérito que procurou perceber que imagem tem a opinião pública dos vários Estados-membros sobre a UE. Sem revelar as conclusões ou sequer a totalidade dos dados apurados nesta pesquisa, Bruxelas, desta vez, prepara-se para travar uma verdadeira batalha política, estando em causa a integridade ou mesmo a sobrevivência das suas instituições. No que diz respeito a Portugal, segundo noticiou o jornal "Público", os dados mostram que, entre o universo das pessoas com mais de 20 anos, há mais sentimentos "ambivalentes" em relação à UE do que sentimentos positivos: 25% de um lado; 18% do outro. Servindo o estudo para a orientação estratégica da campanha, não foi revelado que parte das 57% de respostas omitidas dizem respeito a sentimentos claramente negativos face à UE ou a inquiridos que não souberam ou não quiseram responder. Se "ambivalência" não é um sinónimo de indiferença, nota o diário português, é uma palavra que deixa claro que não é tarde para a UE rectificar tudo quanto tem sido veiculado na tentativa de denegrir o seu papel.

Se em Portugal a maioria das pessoas não tem para já uma opinião formada sobre a Europa, noutros Estados-membros cabe a Bruxelas recuperar a confiança dos cidadãos. Durante o próximo ano a Comissão Europeia porá em marcha a campanha InvestEU, num esforço que em muitos sentidos passará por repor a verdade, e ter uma presença junto das pessoas, não só nas ruas, todos os dias, mas também junto das instituições políticas dos Estados-membros. A UE quer mostrar que está viva e tem, neste momento, e no âmbito do Plano Juncker, a astronómica soma de 500 mil milhões de euros para relançar a economia destes países, apoiando as empresas em toda a Europa a dissiparem as nuvens negras da crise. Mas este dinheiro não está apenas disponível para empresas, qualquer pessoa pode beneficiar do plano, desde que tenha um projecto e apresenta a sua candidatura.

Depois de se ter respirado de alívio na sequência das eleições holandesas, as instituições europeias sabem que os actos eleitorais internos se tornaram uma avaliação constante da sua atuação, e que à o risco de o Brexit ter sido apenas o prenúncio do fim. Em abril as atenções vão estar nas eleições francesas, com Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (extrema-direita francesa), tendo caído para a segunda posição nas sondagens das presidenciais. Há sinais, portanto, de que o populismo está a encontrar percalços, talvez por hoje a Europa toda ter nos EUA e em Donald Trump uma ilustração dos perigos de derivas autoritárias. Mas até na Alemanha, onde a CDU de Merkel e o SPD de Schulz continuam a ter maioria, os movimentos de extrema-direita estão a assumir preeminência, especialmente nas regiões.

Assim, e estendendo uma mão aos partidos do centro, que Bruxelas tentará retirar tanto à extrema-direita como à extrema-esquerda o hélio com que estas forças têm enchido os seus balões eurocéticos, e que lhes permite capitalizar no descontentamento face às hesitações e ecessos burocráticos da União Europeia. Depois dos resultados do estudo encomendado à Kantar, e tendo em conta os resultados, a Comissão Juncker escolheu 14 Estados-membros para implementar esta campanha.

De acordo com o "Público", a campanha já arrancou em França, Bélgica e Alemanha. Na próxima semana chegará a Portugal, sendo que já foram contactadas pessoas ligadas a projetos financiados pela Comissão Europeia. A ideia é que sejam evidenciados os exemplos de como a UE tem impactado positivamente a vida dos cidadãos e melhorado as condições de vida em cada país.