Jogo Duplo. Abel Silva, herói de Riade, diz-se vítima de uma “armadilha”

“Deram-me 30 mil euros para iniciar um projeto: afinal, queriam que influenciasse jogadores”

Herói na vitória de Portugal no Mundial de sub-20 em Riade, em 1989, Abel Silva está agora em maus lençóis. O antigo defesa-direito, formado no Benfica, foi constituído arguido no processo Jogo Duplo mas clama inocência, dizendo-se vítima de uma armadilha.

"O primeiro contacto é através desse rapaz, desse moço, o Aranha, que queria falar comigo porque tinha um projeto de um investidor estrangeiro e eu era a pessoa certa para ficar à frente desse projeto. Marcámos uma reunião na Expo. Ele disse-me que me conhecia muito bem e que era pessoa certa para ficar à frente de dois clubes, um em Lisboa e outro no Porto. Depois de eu dizer que sim senhora, era um projeto que tinha interesse, pediram-me para acompanhar o determinado clube e tirar informações, o máximo possível, e que, o que fosse preciso, seria feito. Foi quando me deram os 30 mil euros para a mão, para ser gasto com despesas, para iniciar o projeto", contou o antigo jogador, hoje com 47 anos, numa entrevista ao "Record", que revela a identidade dos clubes em questão: Oriental, em Lisboa, e o Leixões, no norte.

"Quando a esmola é muita o cego desconfia. e eu desconfiei, mas também nada indicava que não fosse verdade. Depois, dizem-se que precisavam de um favor meu, que queriam que eu influenciasse alguns jogadores para obter uma vitória para uma equipa… E aí caiu a ficha: 'Espera aí, se calhar não há aqui projeto nenhum'. Na semana seguinte dizem-me que teria de devolver o dinheiro porque não viram que eu tivesse feito alguma coisa para obter o resultado que eles queriam, ganhar o jogo por mais de dois golos", prossegue Abel Silva, garantindo ter devolvido o dinheiro: "Estou constituído como arguido suspeito. Arguido suspeito, ok? Não me conseguem dizer: 'Fizeste isto, influenciaste'. É simplesmente porque falei com as pessoas e porque houve o dinheiro a entrar e a sair. As próprias pessoas confirmam que eu devolvi o dinheiro. Se eu devolvi o dinheiro, quem é que eu influenciei? Não influenciei ninguém, não falei com ninguém."