Europa über alles!

Se a história se repete e é feita de ciclos, depois da era da globalização, da aldeia única, do transnacionalismo, do fim das fronteiras e da livre circulação de pessoas e bens, há de seguir-se o regresso ao territorialismo, aos valores nacionalistas, ao protecionismo. Ou não. Veremos.

Dizem os estudos mais segmentados  que os jovens do chamado mundo ocidental dão cada vez maior importância aos valores nacionais, à cultura e à história da sua terra e sua gente, aos usos e costumes que lhes são mais próximos fisicamente, até para se afirmarem no mundo global, quando não virtual, em que vivem e convivem.

Têm as novas gerações, que hão de tomar o poder a curto prazo, muito mais informação e mundo do que as suas ascendentes. Ainda que eventualmente tais informação e mundo não correspondam a maior saber, sobretudo, como é óbvio, a conhecimento de experiência feito.

Paralelamente, no mundo global atual, a crise de valores, do estado de direito, da própria democracia, da comunicação e vivência intergeracional abre caminho e alarga o espaço, mais do que aos ideólogos, aos líderes de massas carismáticos e populares ou populistas. De direita, de esquerda, de coisa nenhuma.

Por estranho que pareça, sendo cada vez mais válida a máxima de que a democracia é um sistema imperfeito, a verdade é que o povo (os povos), de uma forma ou de outra, acaba(m) sempre por ter razão nas escolhas que faz(em) nas urnas – veja-se o exemplo recente da Holanda, uma vez mais contra todas as sondagens. E, por isso – e porque em democracia o povo, nas urnas, ainda é soberano -, continua a ser válida a conclusão da mesma máxima de que a verdade é que não há sistema melhor.

Donald Trump não enganou ninguém. Não engana ninguém. Ganhou porque foi ao encontro dos interesses (e dos descontentamentos) dos americanos. E conquistou-os pelos votos.

Os Estados Unidos em primeiro lugar, os Estados Unidos em segundo lugar, os Estados Unidos em terceiro lugar – ele disse-o durante meses de campanha e está a cumprir.

Com ou sem Obamacare, com muros, com mais ou menos diplomacia e inteligência, é ele o Presidente dos Estados Unidos. E a política externa dos Estados Unidos há de ser o que ele prometeu aos americanos.

Do lado de cá do Atlântico, a Europa entalada entre uma América fechada e uma Ásia em expansão, não tem alternativa… à Europa.

O único caminho de futuro é o reforço do europeísmo.

A única – e complexa – questão que se coloca ou devia colocar é aquela que Jean Claude Juncker levou ao Parlamento Europeu e que nem a cimeira de Roma quis verdadeiramente enfrentar: o rumo a seguir depois do Brexit.

O Brexit já não é questão (eventualmente sê-lo-á para os britânicos e sobretudo para os escoceses). Mas para os europeus do continente deixou de ser… já era.

Se as eleições em França e na Alemanha podem ser determinantes para o futuro da Europa, não há muito tempo para adiar o inadiável. É já.

Não deixa de (me) ser estranho que, por cá, lidos os jornais, ouvidas as rádios e vistas as televisões ou as redes sociais, se ouçam tantos e cada vez mais eurocéticos. Juntando-se aos antieuropeístas os arautos da desgraça ou velhos do Restelo, incapazes de ver futuro na Europa do Tratado de Roma, de Monnet e Delors.

Portugal não tem alternativa à Europa. A opção Atlântica não existe. Pode e deve Portugal apostar no que até agora foi estupidamente incapaz de desenvolver – a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa. 

Esse é um caminho que tem de ser feito. Mas nem esse é alternativo (sim, complementar) ao projeto europeu.

Bem pode Catarina Martins (entrevista ao i de ontem) bradar que o BE «não podia ser mais europeísta». Tretas.

O BE está contra o Euro, como está e sempre esteve contra a integração de Portugal na União Europeia ou (as fações que estiveram na sua origem) contra a adesão à Comunidade Económica Europeia.

Se o Reino Unido tem condições para votar e concretizar o Brexit, a Grécia não ousou fazê-lo.

Porque os gregos não têm nem condições sociais nem económicas para assumir os riscos e custos que os britânicos, sem problemas de maior, escolheram seguir.

Sem Europa nem Atlântico, Portugal não tem alternativa a reviver o ciclo económico que marcou negativamente a nossa história do século XX: estagnação e obscurantismo. Com a agravante de, agora, não ter nem os cofres cheios nem qualquer ponte para os PALOP e para o Brasil.

Orgulhosamente sós, estamos condenados a retroceder décadas e a comprometer o presente e o futuro das gerações atuais e vindouras.

Portugal não tem tecido produtivo e economia para sobreviver ao fim do Euro sem mais pobreza.

Que se lixe o escudo, a soberania pela soberania, o orgulho dos nacionalismos obtusos.

Portugal tem de lutar por uma Europa reforçada e coesa, sem duas nem três velocidades, mas com um sentido comum, solidário e com menos assimetrias.

Sem, para isso, abdicar da sua história, da sua cultura e dos seus usos e costumes – e exigindo por eles o mesmo respeito que tem pelos dos outros.

E, se possível, brindar com um cálice de vinho do Porto – ou com vinho verde, tinto ou branco – por uma Europa unida. E melhor.