Muito barulho para nada

A nacionalização do Novo Banco foi, durante algum tempo, defendida por imensa gente. A começar no ministro das Finanças que «não a excluía», no presidente do PS que dizia «que o Estado deve resistir a uma venda ruinosa», dos deputados socialistas mais ‘esquerdistas’ como João Galamba – «nacionalizar de facto não traz novos custos, apenas…

A nacionalização do Novo Banco foi, durante algum tempo, defendida por imensa gente. A começar no ministro das Finanças que «não a excluía», no presidente do PS que dizia «que o Estado deve resistir a uma venda ruinosa», dos deputados socialistas mais ‘esquerdistas’ como João Galamba – «nacionalizar de facto não traz novos custos, apenas reconhece os custos que sempre existiram» – ou mais ‘centristas’ como Eurico Brilhante Dias que chegou a admitir a nacionalização como «cenário que se deve manter em cima da mesa» já que «o Estado tem de ter uma arma negocial para não ter de ceder a todas as vontades de quem quer que o banco lhe seja oferecido».  A defesa da nacionalização também foi «ponderada» por Manuela Ferreira Leite, ex-presidente do PSD, entre outras figuras longe do universo socialista. 

É verdade que, tal como disse ontem o primeiro-ministro, a União Europeia não está desenhada para ter simpatias por nacionalizações, ajudas do Estado aos bancos, etc. Mas querer fazer acreditar os portugueses de que a venda a custo zero – na prática, trata-se disso – de um banco, onde o Fundo de Resolução (que funciona com empréstimos do Estado, ou seja, de todos nós) detém 25% sem ter direito a voto nas assembleias acionistas nem a lugares no conselho de administração é a última coca-cola no deserto, só mesmo de António Costa. A insistência de que não houve garantias do Estado nesta venda é uma tentativa de tapar o sol com a peneira. O Estado não fornece uma garantia chamada garantia mas fornece um «mecanismo de proteção à rede de balcões, trabalhadores e proteção financeira à economia». Pode dizer que «não é proteção ao acionista», mas é música para os ouvidos do dito cujo.

A garantia de António Costa de que não haverá custos para os contribuintes é como a notícia da morte de Mark Twain: é ligeiramente exagerada. Limita-se a repetir os otimismos de governos anteriores que face a circunstâncias complicadas no sistema financeira entoaram a mesma cantilena. 

Não havia aqui soluções fáceis, depois do descalabro do BES e de se ter concluído que o banco bom não era suficientemente bom. Mas não vale a pena enganar demasiado o pagode.