Nocturama. Isto só vai à bomba

No “Fight Club”, 1999, de David Fincher há um momento em que tudo rebenta. A ideia é acabar com as mentiras da nossa sociedade e abanar o tédio da nossa vida de felizes consumidores em que tudo é destruído e conseguimos criar um momento zero em que tudo volta a ser possível.    

No novo filme de Bertrand Bonello, “Nocturama”, jovens de vários classes e raças, irmanados pelo consumo e o tédio colocam bombas em metade de Paris. Quando se refugiam num grande armazem, depois do ataque, um deles olha para um manequim vestido com roupas e sapatos iguais a ele, como se de um clone artificial se tratasse.  

A parte inicial do filme é passada na preparação dos atentados, a segunda decorre no refúgio de um grande armazem em que os jovens se refugiam no meio de um palácio de todos os consumos. Eles participam até ao fim no fluxo mercantil do consumismo, enquanto se agitam no desejo de tudo rebentar. É um revolta niilista sem fim, tentando quebrar vidas sem sentido.

Não há aparente objectivo na violência para além da necessidade de fazer a violência. 

“Vivemos numa época que pode produzir o mesmo desejo de consumismo que de terrorismo, e os dois juntos ou em separado. Não se esqueçam que as minhas personagens são jovens”, declara o realizador ao “El País”. O filme não pretende explicar a violência terrorista que vive o mundo, mas quem sabe, se sem o querer, não nos dá pistas num mundo que às vezes é preciso doer para perceber que existe. O último sobrevivente, antes da bala final, pede que o salvem. Não há salvação possível.