Depressão. Portugueses tomam cada vez mais antidepressivos

No ano passado, o consumo de antidepressivos atingiu quase os oito milhões de embalagens. Por outro lado, são vendidos cada vez menos ansiolíticos

O pior da crise financeira parece ter passado, mas aquela que foi usada como uma das justificações para o número elevado de pessoas com problemas de saúde mental nos últimos anos continua a ter repercussões.

Desde 2012, a toma de antidepressivos não para de crescer, tendo chegado, em 2016, aos quase 8 milhões de embalagens, segundo dados cedidos pelo Infarmed ao i. Mais concretamente, no ano passado foram vendidas 7 929 673 embalagens, mais 1,9 milhões do que em 2012. A mesma tendência de crescimento têm os antipsicóticos, cujo consumo aumentou de forma progressiva entre 2012 e 2016. No sentido contrário, a venda de ansiolíticos tem baixado desde 2014, ainda que até esse ano a tendência tenha sido de crescimento.

Estes são dados que confirmam o que anteriormente a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou sobre Portugal: em 2015, mais de meio milhão de pessoas (mais concretamente 578 mil) sofriam de depressão, o que corresponde a 5,7% da população. Se alargarmos o espetro e falarmos em termos globais, os números podem ser ainda mais surpreendentes. O total de pessoas com depressão a nível mundial foi estimado, em 2015, em mais de 300 milhões, registando-se um número semelhante quanto a casos de perturbação de ansiedade.

Números como estes justificam que a OMS tenha escolhido a depressão como tema central do Dia Mundial da Saúde, que se assinala hoje.

Portugueses medicados

“Encher as pessoas de medicamentos é tapar o sol com a peneira.” É desta forma que o diretor da Clínica ISPA – Instituto Universitário e investigador na área da psicologia se refere a este elevado consumo de medicamentos. “Não é de todo a solução do problema”, acrescenta. O especialista gostava de ver o país apostar na prevenção, “através da colocação nas escolas de técnicos sensibilizados para o tema que identifiquem casos em crianças e jovens”. Além disso, defende que a medicação deve ser substituída ou complementada com intervenção psicológica, lamentando que os médicos continuem a apostar em “soluções rápidas” em vez de “soluções duradouras e com menor impacto na saúde”.

O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental lembra ao i que, “segundo as guidelines mais reputadas e a OMS, as entidades que integram o grupo das perturbações mentais comuns – sobretudo as ansiosas e as depressivas – têm como resposta terapêutica de eleição a psicoterapia”. Álvaro Carvalho refere que apenas quando esta terapia não é eficaz deve ser associada a toma de medicação, numa abordagem mista. Será a “escassez de psicólogos clínicos”, sobretudo nos cuidados primários, uma das situações que contribuem para a falta deste tipo de acompanhamento.

A posição negativa quanto à abordagem feita a doenças como a depressão e a ansiedade em Portugal pode ser complementada com o valor económico que acarreta o tipo de tratamento mais usado. Segundo dados do Infarmed, entre janeiro de 2015 e junho de 2016, os encargos do Serviço Nacional de Saúde com ansiolíticos, antipsicóticos e antidepressivos ultrapassaram os 123 milhões de euros.

Depressão e suicídio

As perturbações depressivas – caracterizadas por tristeza, perda de interesse, sentimento de culpa, baixa autoestima e perturbações do sono e do apetite –, na sua forma mais grave, potenciam o suicídio. As estimativas da OMS mostram que, em 2015, 788 mil pessoas cometeram suicídio, correspondendo a 1,5% de todas as mortes em todo o mundo. Foi inclusive a segunda principal causa de morte entre os 15 e os 29 anos.

Em Portugal, dados de 2014 divulgados pela Direção-Geral da Saúde mostram que a taxa de suicídio passou para 11,7 por 100 mil habitantes, quando em 2012 e 2013 tinha sido de 10,1 por 100 mil habitantes.

Segundo a OMS, o número de pessoas com depressão, em 2015, ultrapassava os 300 milhões Em Portugal, 578 mil pessoas têm depressão, o que corresponde a 5,7% da população Em 2015, 788 mil pessoas cometeram suicídio. Foi a segunda causa de morte entre os 15 e os 29 anos300