A América vai para a guerra outra vez

Bom dia. A América vai para a guerra outra vez. E não será bonito.

​Bom dia. A América vai para a guerra outra vez. 

Depois de 72 sírios morrerem num ataque de gás Sarin – um químico proibido internacionalmente como arma –, os Estados Unidos reagiram e dispararam 59 mísseis rumo à base de onde o ataque foi lançado.

"Esta noite, ordenei um ataque militar à base aérea na Síria de onde o ataque químico foi lançado", afirmou Donald Trump esta madrugada. Segundo o presidente, a opção é fulcral "para evitar o uso e o alastrar de armas químicas".

Sim, está a ler bem, caro leitor. O homem que fez campanha contra as intervenções militares, que defendia Assad como assunto "do povo sírio" e que elogiou publicamente Vladimir Putin acabou de atacar um país aliado da Rússia.  

Quando, em novembro do ano passado, esta coluna de opinião intitulou um artigo "Por que ninguém sabe o que Trump vai fazer", era disto que falava. Ele é imprevisível, difícil de saber para onde vai.

Barack Obama, que teve a guerra civil síria nas mãos durante seis anos, preferiu ignorá-la. O embaixador Francisco Seixas da Costa, que não é exatamente um radical de direita, afirmou há umas semanas que "o mundo ficou pior" depois da sua presidência, em particular no Médio Oriente 

Foram meio milhão de sírios assassinados desde 2011 e o Ocidente fingiu que não viu. 

Ontem, Hillary Clinton reapareceu para defender uma "ação militar na Síria" muito similar àquela que Donald Trump comandou horas mais tarde.

Será uma solução ideal? Não podemos dizer com certeza. Em política externa não há soluções ideais.

Mas sabemos que fingir que não se passa nada é de uma hipocrisia civilizacional, de um risco migratório e de uma irresponsabilidade comprovados.

A partir daqui, entra-se em território desconhecido.

O Kremlin já considerou o ataque americano como "um ato de agressão" e uma "violação do direito internacional".

Pela primeira vez desde a Guerra Fria, mesmo que ainda em local periférico, o conflito entre Ocidente e Leste poderá ser concretizado diretamente por Washington e Moscovo.

Estávamos melhor em 1948.​